trinta e um

1.8K 242 988
                                    



  parte três 
1994 - 1995





O sol daquela região não tendia a ficar muito forte, mas Draco, pálido como era, podia sentir os ombros dele começando a arder, já bem vermelhos, já descascando. A pele dele parecia apertada, como se os ossos e os músculos de Draco tivessem crescido junto com a idade dele, mas a pele tivesse continuado como ela era quando ele tinha uns onze anos, muito pequena; uma roupa que não servia mais, mas da qual ele era incapaz de jogar fora ou deixar para trás.

Draco deixou a cabeça dele pender um pouco para trás, respirando fundo, sentindo o sol esquentando o rosto dele e iluminando o seu cabelo.

A brisa do mar o atingiu com força, o cheiro salgado e mágico, forte, mas ele já estava reacostumado, assim como estava acostumado com a areia entrando por todas as roupas de banho dele, parecendo grudar na pele dele até depois dele tomar centenas de banhos dentro de casa. Ondas subiam pela praia, maravilhosamente mornas, brilhando e borbulhando, roçando pelos pés de Draco antes de voltar para baixo, assim revelando algumas conchas que antes tinham estado escondidas, que cintilavam e reluziam como glitter.

Aquela praia em especifico ficava atrás da casa de praia dos Malfoy, uma praia particular só para eles. Uma praia bruxa, não Trouxa, e Draco sorriu enquanto se inclinava para o lado, estendendo o braço, e pegou uma das conchas que estava cravada na areia, rosada e quase tão grande quanto a palma da mão dele. Era quente, pulsando como um coração, e quando a levou para o ouvido, Draco pôde ouvir vários sussurros, suaves e elegantes, quase como se alguém estivesse falando dentro da mente dele.

Aquela era uma praia tão mágica quanto era bonita e privada. Aquelas águas estavam cheias de sereias, nadando só a não muitos metros de distância dos pés de Draco. Ele podia ver as caldas delas de vez em quando, os cabelos delas esparramados pelo oceano como tinta sendo derrubada em um copo cheio. Nesse ponto, Draco já tinha até feito amizade com elas.

Bem, eles nunca se comunicaram nem nada, mas elas não morderam Draco ou tentaram arrancar a mão dele por ele ter pegado uma das conchas delas, o que já era um grande sucesso. Ele tinha visto todo o sangue que subia quando algum peixe ou caranguejo tentava tocar em algo que sereias consideravam delas e ele estava feliz por não ter encontrado o mesmo destino.

Draco segurou a concha com muito cuidado, como se realmente estivesse segurando o coração de uma das sereias, porque era praticamente isso que conchas eram para elas. Draco nunca costumava ser delicado com nada no passado, não segurava nada sem a vontade de quebrar, mas ele estava tentando aprender. Ele era um Malfoy e ternura não o vinha naturalmente, mas um esforço estava sendo feito.

Em geral, Draco tinha passado aquelas férias em silêncio. Tinha se aproveitado da companhia do oceano e das sereias e da própria varinha dele, a madeira firme sempre segura na mão dele – e a presença de Abbie também, é claro, enrolada e cochilando algum lugar na parte mais seca da areia. Os pais dele viam e saíam, presenças calmas e caladas uma vez que viram que Draco precisava desesperadamente de algo mais calmo e calado.

Era um teste, mais do que qualquer outra coisa, algo deliberado e hesitante que Draco estava experimentando fazer desde que saiu de Hogwarts. Ele tinha passado muitos anos se cercando de gritos e de raiva, então ele estava tentando ver o que aconteceria se ele tentasse se cercar com o oposto. Com o silêncio, havia muito espaço para os pensamentos dele, tão cheios de veneno e maldade quanto sempre, e ele estava tentando parar de os alimentar ou só fugir deles, ao invés disso tentar os acalmar.

but we are brave,   DRARRYWhere stories live. Discover now