cinco

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a sensação de estar sendo sufocado é horrível.

sinto que é como se uma mão entrasse dentro do meu peito, apertasse ele e meu coração.

é como se alguém estivesse querendo arrancar ele.

isso dói.

dói como ralar o joelho e depois ter que lavar.

dói até mais que isso.

dói como saber que não sou capaz.

talvez até mais.

dói.

eu só consigo dizer que isto dói.

pequeno eu, aproveite o tempo que ainda tem, sem essa sensação.

não consigo lembrar da última vez, que ela não fazia parte de mim.

é como se ela sempre estivesse aqui.

no escuro.
no vazio.
na dor.
na solidão.
na esperança.
na tristeza.
na pequena alegria.

em tudo...

pode ir embora, por favor?

não, nem se eu pedir com educação você vai.

você é como aquela visita inconveniente, que chega e quer fazer morada aonde não foi chamada.

você entrou, se alojou no pior canto possível e disse ter me ajudado.

havia uma certa bagunça ali, algumas teias de aranhas, curativos e até cicatrizes.

mas, não foi o suficiente para impedir a sua hospedagem.

sem cor.

nada tinha mais cor.

e se tinha, você me impedia de ver.

até a alegria que era azul, virou cinza.

confesso que estava mais bonita, nunca gostei daquele azul radiante dela..

ela era muito alegre, estava sempre de bem com a vida, o que fazia me questionar se não existia tempo ruim para ela.

mas, você mudou isso.

não irei te agradecer, pois agora eu pago o preço de ter tido inveja dela.

sinto sua falta, pequena sensação de ainda estar vivo.

pequeno eu, da próxima lhe escrevo uma carta, pedindo desculpas por isso.

Mas agora, você tem que arrumar um jeito de não deixar essa sensação entrar.

não deixe ela entrar, mesmo que ela prometa mil coisas, saiba que todas são mentiras!

não passa de uma ilusão...

-alguém,
apenas alguém.

Alguém, apenas alguém. Where stories live. Discover now