Declaração

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Laura

Com uma mão no volante e a outra apoiando a cabeça encostada no vidro do carro, ouvindo "Mil Estrelas" da maravilhosa Paula Lima, seguia rumo ao apartamento da Alice. O sorriso fixo no rosto, entregava minha felicidade, até para quem não me conhecia. Cantarolava a canção, provavelmente escrita pra mim nessa ocasião. Nem mesmo o trânsito carregado me tirou o bom ânimo e o coração acelerado. É isso que Alice faz comigo: me deixa flutuando entre estrelas. Desejava ardentemente chegar logo em sua casa para terminar de incendiar essa chama, que o dia inteiro me queimara.

São tantas sensações e pensamentos que passam pela mente nesse momento, que se torna até difícil a explicação. Desde o olhar profundo e maravilhoso da Alice, até o samba no terreiro da Didi – Céus, que mulher é essa? – falei sozinha no carro, entre sorrisos e lembranças. Mesmo ela estando um pouco na retaguarda, não consegue negar o fato de que também sente o mesmo que eu. Há uma semana atrás, estávamos praticamente em uma lua de mel, completamente entregues uma à outra, como se não existisse outra vida. De fato, não há, quando estou com ela. Hoje, mesmo com tantas pessoas à nossa volta, é como se embarcássemos em outra dimensão e nada mais importou, além da sintonia que vibramos. Até beijar em público, eu beijei! Eu, a pessoa que mais preza por discrição e relacionamento às escondidas, por medo de retaliação desse mundo machista, misógino, homofóbico. Não sei o que está acontecendo dentro de mim, mas me sinto muito bem assim! Pela primeira vez na vida, sinto a vida pulsar em minhas veias. Estou com propósito para ser melhor e tendo vontade de fazer planos. Alice é o Sol que me nutre. Sua luz é tão forte, a ponto de praticamente me cegar para os percalços da vida longe do nosso mundinho particular. O que interessa é o que vivemos e sentimos. Forte, puro, real.

Cheguei em frente ao prédio e ela me aguardava na calçada, apontando a garagem que deveria entrar.

- Não precisa guardar o carro dentro – falei ao abaixar o vidro.

- Precisa sim! Já arrumei a moto de modo que caiba seu carro – falou, apoiando-se na porta e me beijou com um selinho – Se quiser eu guardo para você – sorriu ironicamente.

Semi cerrei os olhos e sorri com desdém.

- Sou pilota – arqueei a sobrancelha – Só assiste!

Ela sorriu e se afastou da porta do carro, me observando estacionar, com sorte, de primeira.

- Uau – fez uma careta engraçada – Pilota mesmo. Arrasou! – acionou para o porteiro fechar o portão.

Desci do carro, beijando os ombros e sorri.

- Tá pensando o quê? Aqui é raça e graça.

- Sei bem o quanto de cada coisa que tem em você – sorriu e pegou em minha mão – Venha conhecer minha torre.

- Essa Rapunzel vai dar trabalho pra ser resgatada – brinquei – Está sem tranças.

- A torre é moderna. Tem elevador.

Gargalhamos e subimos para o 12º andar, em um elevador pequeno, acompanhada de um garoto com bola na mão. No hall do seu apartamento, 4 portas, como já havia visto pelas câmeras que, cuidadosamente, pedi para instalar por cuidado do Joseph atentar mais uma vez contra sua vida.

Alice abriu a porta, e colocou-se lateralmente, esticando os braços para dentro do ambiente, com um largo sorriso no rosto.

- Entra!! Fique à vontade.

Toquei seu rosto com uma das mãos e a beijei levemente antes de entrar.

- Licença – pedi sorrindo.

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