- ̗̀Capítulo 16 ˎ'-

339 34 14
                                    

- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

Belle

       Machucar Negan era a última coisa que eu queria fazer, apesar de, obviamente, estar na lista. Tinha outras coisas em mente que me seriam mais satisfatórias e me exigiriam menos esforço físico.

        Após o fatídico treinamento. Não consegui tirá-lo da minha cabeça, se eu me concentrasse o suficiente, ainda conseguia sentir o peso dele sobre meu corpo, sua mão firme no meu pescoço e da sensação que dava ser dominada por um homem daquele tamanho.

       A vontade de dar igual uma cachorra era inevitável.

       Negan seguiu para a sala de reuniões e eu fui para a cozinha comer alguma coisa. Eu repasso algumas cenas do dia de hoje em minha mente de modo punitivo.

       Ainda não era nem meio dia, e eu já sentia o peso do universo inteiro em minhas costas. Peguei uma maçã, a situação e o sentimento bizarro continuaram.

       Mal tenho tempo para me lamentar miseravelmente por um breve minuto. Em pouquíssimo tempo, Kara surge na porta da cozinha como um fantasma, seu perfume forte me enjoou um pouco e a sua presença tomou de assalto o cômodo inteiro. Sempre que a via não conseguia deixar de me impressionar, seus olhos eram amendoados e um tanto afastados, e faziam a parecer uma felina, acredito que a impressão se deve a maquiagem excessivamente marcada e escura que ressalta a sua beleza inumana. Sua tez impecavelmente alva, seus cabelos claríssimos presos em um coque perfeito, seu maxilar marcado e é claro suas botas brilhantes de algum material sintético no final de suas longas pernas.

       — Olá. — Eu tenho a decência de cumprimentá-la. — Acho que ainda não nos conhecemos, eu sou...

       Sou cortada no meio da minha frase.

       — Sei bem quem você é, Isabella. — Eu ergui o dedo indicador e pensei em corrigi-la mas desisti. — Todos neste lugar a conhecem ou falam de você.

       Eu nunca me senti tão importante e desprezada em toda minha vida. Tudo isso ao mesmo tempo.

       — Também ouvi falar sobre você, Kara. — Respondo o mais firme que posso.

       Na verdade, tudo que sabia sobre ela é que ela era líder do posto avançado do Sul, havia conquistado aquilo tudo trabalhando por pontos, um mérito e tanto. E também, é claro, havia tido uma espécie de caso com Negan há um tempo atrás.

       Ela abre a geladeira e pega uma garrafa d'água.

       — Possui algum cargo militar, menina? — Ela perguntou como quem pergunta a uma adolescente o que ela vai fazer quando crescer.

       Ela me encarava como se estivesse tentando me enxergar através da fresta de uma fechadura. Como se estivéssemos a quilômetros de distância. Como se fosse superior demais para estar no mesmo ambiente que eu, uma reles mortal.

       — Bem, não, mas... — Eu tento me explicar.

       — Claro que não, por que uma mulher como você precisaria de um cargo militar? Que bobagem a minha, você é bonita, e isso é o suficiente para ser a nova princesinha do Santuário. Pelo menos por um tempo.

       Seu tom passivo-agressivo estava me dando nos nervos.

       —  Isso foi desnecessariamente cruel. — Digo, honestamente.

       —  Isabella não tente dar uma de boazinha pra cima de mim. Conheço mulheres como você, e sei que sua única vantagem evolutiva é se comportar como uma presa. Gosta mesmo desse joguinho? —  Ela soltou uma risada metálica.

       — Não sou boazinha, muito menos presa.

       —  Não estou te julgando, mas alguém precisa fazer o papel de bruxa má e te tirar do seu mundinho cor de rosa.

       Minha cabeça deu mil voltas mas ainda não havia conseguido assimilar de onde saíra tanta acidez. Na verdade eu não entendia nada desde que o perfume dela se apropriou do meu olfato.

       — Ouvi o bastante sobre você para saber que é arrogante e convencida demais para uma mulher na sua posição. Não se sinta especial por ser o centro das atenções no momento. Negan só quer te comer, nada mais. —  Disse ela bebendo um gole de água.

       — Tomara! — Digo enquanto dou uma mordida em minha maçã. —  Mas me diga, onde quer chegar com isso tudo? Porque se for por ciúmes, bem, eu desaconselharia para uma mulher da sua idade, já não te cai bem.

       Minhas palavras fizeram Kara se afastar afrontada e com o orgulho ferido. Era assim que funcionaria, ela diria algo ruim e eu retrucaria com algo pior.

       — Acha que estou sendo rude com você por ciúme e simples despeito? Não. Já estive no seu lugar, e isso é o que eu gostaria que tivessem feito comigo antes. Ouça meu conselho, caia fora dessa o quanto antes, será melhor.

       — Será melhor para quem? Para você? Quer que eu deixe o caminho livre, é isto?

       Ela dá um sorriso cruel.

       — Eu também achei que estava no controle, espero que saiba que no momento que ele conseguir o que quer de você, não servirá mais para ele. Faça o teste, vá atrás. Mas guarde minhas palavras "Toda sede acaba após um gole".

       — Kara, eu te admiro e sei que ninguém deste lugar conseguiria dizer isso a você com sinceridade. Mas se quiser mesmo me ver como inimiga, me veja pelos motivos certos. Eu não hesitaria nem por um segundo em te destruir só pra ter o cargo que você tem agora, mas jamais faria isso por causa de um macho. E se esse for o caso, com todo o respeito que tenho pela sua trajetória: Vai se foder.

       Kara sorriu com seus olhos brilhando de satisfação após eu revelar que não tinha interesse algum em iniciar uma disputa por Negan. Era ridículo. Mas a senhora Kara Lho (sobrenome de minha autoria) me fez pensar um pouco. E se ao menos eu pudesse tirar algo de proveitoso daquela discussão sem fundamento, diria que ela tinha razão quando disse que toda sede se finda com um gole.

       E eu estava sedenta há muito tempo. Estava decidida a matar o que estava me matando, e enfim, aquele tesão dos infernos acabaria de uma vez por todas, naquele mesmo dia. Eu iria tomar um banho e em seguida iria até ele e o faria me comer até dizer "chega". E se depois disso Negan nunca mais olhasse na minha cara, por mim tudo bem, seria um favor imenso que ele me faria.

       E eu repito: não era nem meio dia.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Donde viven las historias. Descúbrelo ahora