- ̗̀ Capítulo 20ˎ'-

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- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

Um banho de água fria só é frio se a gente estiver colocando fé demais no aquecedor.

       Só entendi que havia adormecido quando acordei bem devagar. Meio desnorteada, procurei por ele na cama. Partes bem sugestivas do meu corpo começaram a latejar. O clima era frio, ainda não devia ser nem oito da manhã, e a minha pele estava arrepiada por conta da brisa gelada que atravessou suavemente a janela e fez as cortinas cor-de-creme balançarem em movimentos ondulantes. Minhas mãos tatearam preguiçosamente os lençóis e só constatei o que já sabia: eu estava sozinha.

       — Negan? — chamei.

       Não obtive respostas. Soltei um longo suspiro. Não era para estar admirada. Meu daddy tarado, certamente tinha mais o que fazer aquela hora do dia. Mesmo assim, ainda me levantei da cama e o procurei pelo quarto. Nada. Suspirei novamente. Tudo bem. A mágica havia acabado, bem como o interesse dele. O meu também foi saciado. Sabia como ele era na cama (incrível) e como seria senti-lo em mim (incrível), agora podia ficar em paz. Aquele momento foi necessário para ambos. Negan me queria, e eu também, foi bom e não havia motivos para arrependimentos.

        Transar com ele foi uma experiência e tanto. Pensava nisso enquanto tomava um banho, tocando as partes do meu corpo que foram tocadas por ele mais cedo. A sensação de suas mãos me apertando ainda circulava pelo meu corpo como se fosse o meu próprio sangue. Pudera, o cara era avassalador. Eu não podia esperar nada diferente e nada mais do quê uma foda deliciosa vindo dele.

       Enquanto me secava, procurava pela fita de cetim do meu quimono e inconscientemente meus olhos deslizam para a mesinha de cabeceira.

       Uma ponta da fita rose gold escapava por debaixo do livro A arte da guerra. Eu pego o livro em minha mão e algo cai em meus pés, eu tomo um leve susto, era um post-it pautado de coloração off-white. A letra era horrível, quase ilegível, mas tentei traduzir para algum idioma minimamente humano e o que eu consegui foi uma mensagem para mim:

Bom dia, Tinkerbell.

Precisei sair do Santuário por algumas horas. (Uma merda daquelas!)

Pode ter certeza de que estou pensando em você agora. Queria estar sentindo o seu cheiro neste instante, mas prometo recompensar o tempo perdido quando voltar. Quero que pense em mim e me contate assim que quiser pelo walkie-talkie que deixei.

Seu daddy, N.


       Ele acabou de chamar a si mesmo de Daddy?

       Que safado!
       Ri sozinha durante muito tempo, parecia uma maluca. Decidi parar com aquela insanidade e iniciar meu dia, mas enquanto tomava meu café na cozinha, revirei o bilhete dele nos meus dedos. Li mais uma vez. Depois outra. E mais uma só para conferir se tinha deixado de entender alguma coisa. Perdi as contas depois da décima vez. Acho que todo mundo é um pouco mais de si mesmo quando não tem ninguém olhando, e depois de tudo isso, constatei que sou uma louca obsessiva. E enquanto eu estava ocupada demais encarando o meu café (que por sinal, também me dizia o mesmo) uma voz conhecida soou extremamente alegre:

       — Eu estava errada sobre você, Belle. Você não é como eu, você é pior. — Era Kara.

       — Bom dia pra você também, Kara. ― Digo sem ânimo algum para o que quer que ela quisesse conversar.

       Ela se aproxima do balcão com uma postura vitoriosa e pega uma maçã.

       Merda, eu mereço.

       ― Não sei se teria tanto sangue frio no seu lugar.

       ― Ah, claro! Com certeza. ― Digo, bebendo um gole de café, tentando encerrar o sofrimento daquela conversa de uma vez por todas.

       ― Depois de tudo que ele fez a você... Depois do que o seu irmão fez... Puxa... ― A única coisa que a fez pausar seu monólogo absurdo foi sua mordida na maçã.

         Eu emudeci. Sentia meu rosto queimar de ódio e vergonha.

       ― Não sei o quê você acha que sabe sobre Rob, mas... ― Meu sangue havia congelado e eu apertei o bilhete em minha mão com força.

       ― Aparentemente, eu sei mais do que você.

       — O quê?

       — Não se faça de desentendida, Isabella. A essa altura já não te cai bem. Eu a vi saindo do quarto de Negan pela manhã. ― Kara soltou uma risada desconfortável. ― Algo me diz que você acreditou mesmo que Negan simplesmente perdoaria e esqueceria tudo só porque queria te comer. Só não contava com a ingratidão inerente a todos os homens.

       Eu me limitei a encará-la, tentando conter o ímpeto de fincar minhas unhas em sua face.

       ― Até diria ''eu te disse'' mas não consigo, o que é uma pena, porque eu adoro rir. Mas tudo que consigo sentir é pena por você. ― Disse ela, recuperando sua postura de superioridade.

       Pensei em contradize-la, fazê-la engolir aquele maldito bilhete, jogar café quente em seu lindo rosto, costurar seus lábios para que ela jamais voltasse a produzir aqueles malditos sorrisos presunçosos. Mas decidi que se eu desse corda o bastante ela mesma se enforcaria.

       E como suspeitava que ela faria, mesmo sem meu interesse, ela continuou:

       ― Não me olhe assim, Isabella. Não é como se você não pudesse imaginar o motivo da ausência de Negan. ― Eu a fitei sem entender. ― O ''problema'' a ser resolvido, se trata da sua família.

       Eu fiz uma negação com a cabeça inconscientemente.

       ― Não estou pedindo para que acredite em mim. Pergunte dele quando ele voltar. A grande questão é que o posto avançado do Sul vem sendo constantemente atacado por seu irmãozinho, achou mesmo que Negan não faria nada a respeito por pura consideração a você?

       A ironia presente em sua voz não me deixou em paz nem por um segundo, nem mesmo quando ela se retirou, com sua risada malévola como uma vilã dos filmes da Disney. E enquanto eu sentia o chão desabar bem debaixo dos meus pés, me questionava se Rob poderia ser tão burro ao ponto de ignorar o meu sacrifício de ter conseguido o maldito acordo com Negan, por motivos de "foda-se, por que não?!".

       No fundo eu sabia a resposta, sabia que ele era tão estúpido a esse ponto e até um pouco mais.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora