8. Estou voltando para casa

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— Obrigada, Jane, por cuidar de Christopher. Você salvou minha vida — disse Camila, retirando o suéter e dobrando-o sobre a cadeira da cozinha. Ela acabara de chegar a sua casa.

E já não era sem tempo. Voltara mais tarde que o previsto porque seu professor envolvera-se numa discussão acalorada com um dos alunos, após a aula, sobre a administração de castigo corporal, e a classe se dividira.

Estava mais de meia hora atrasada. Telefonara para Jane, da universidade, a fim de avisá-la.

Jane reuniu seus livros, colocando-os na mochila, e sorriu.

— Não tem problema. Considere um pagamento de favores. Ainda lembro do tempo em que costumava servir de babá para mim — disse a jovem, levantando-se. — Você fazia umas coisas engraçadas...

O Sargento ficara alguns meses por ali quando ela era adolescente e ela sempre cuidava da menina dos Henderson. A casa deles parecia confortavelmente desorganizada, bem diferente da disciplina de caserna em seu próprio lar.

— Não era difícil gostar de você.

Jane fez um sinal sobre o ombro, indicando o quarto onde o menino dormia.

— Christopher está na cama.

— Dormindo?

Tratava-se de uma pergunta retórica. Se ele estivesse acordado, estariam escutando seus gritos.

— Acho que cansamos um ao outro.

Ela telefonara para o pai, que já estava a caminho. Estaria na porta assim que descessem os degraus, pois moravam perto. Camila acompanhou-a.

— Antes que eu me esqueça. Alguém telefonou para você. Anotei o número no caderno ao lado do telefone e grudei na geladeira.

— Obrigada — disse Camila, entregando o dinheiro a Jane. — E boa noite.

— A mesma hora na quinta-feira?

— Claro.

Camila acenou para o pai de Jane que encostava o carro e trancou a porta atrás da moça. Caminhou até a geladeira para verificar o recado, e não reconheceu o número.

O nome, porém, lhe era familiar: Jeremy Allen. Era a pessoa de quem alugava o apartamento. Caminhando até o quarto para verificar Christopher, apanhou o telefone no bolso.

Seu filho continuava adormecido. Permaneceu ali, olhando para ele e deixando que o amor fluísse de seu coração. Durante o dia seu filho parecia um feixe de energia pura, mas uma vez adormecido costumava dormir a noite inteira como uma pedra. Era a sua forma de compensar, naturalmente.

Ainda sorria ao discar o número e escutar uma voz sonolenta do outro lado.

— Jeremy? Aqui é Camila — anunciou ela, consultando o relógio e fazendo os cálculos, pois ele estava em Nova York. — Desculpe! Acordei você, não foi?

— Foi, mas tudo bem — respondeu a voz do outro lado. — Tenho novidades.

Camila não gostou do tom da voz dele, apesar da sonolência.

— É mesmo? O que é?

— Estou voltando para casa.

Ela sentiu um peso na boca do estômago. O apartamento era uma dádiva de localização e finanças para ela. Perto da faculdade, perto do emprego e da casa de Jane. Jeremy dissera que ficaria fora por dois anos. Só haviam se passado nove meses.

— Quando?

— No final de semana.

— Mas você disse que...

Ele não era do tipo que pretendia discutir no meio da noite.

— Eu disse que era temporário — interrompeu Jeremy.

— É verdade, mas você fez isso de uma forma que dava a entender que ficaria fora pelo menos até o final do próximo ano. No mínimo, foi o que você disse.

— Era mesmo, só que os fundos para a peça terminaram. Encerramos a temporada hoje. — Ele suspirou. — Eu podia deixar que você ficasse, mas acho que ia ficar apertado...

De várias formas, pensou ela. Tudo bem lidar com Jeremy a cinco mil quilômetros de distância, mas já sabia o que a convivência próxima podia fazer com as amizades. Jeremy acreditava que nenhuma mulher deveria morrer sem experimentar seus favores sexuais, pelo menos uma vez.

— Tudo bem. Eu saio até o final da semana.

— Tem certeza?

— Tenho — respondeu ela, relutante. É melhor você dormir um pouco agora. Vejo você na sexta-feira.

— Avise se você mudar de ideia — finalizou ele, com voz sonolenta. — Tenho um grande coração.

— Certo. Pode deixar.

Camila desligou, a testa franzida. Tinha quatro dias para encontrar um lugar para morar, trabalhar e terminar sua tese, estudar para uma prova e organizar as várias partes de sua vida.

Sentia-se como se tivesse finalmente chegado a um muro enorme. No momento, dava a impressão de estar oscilando, como se fosse cair.

Amor Por Acaso | Shawmila Onde histórias criam vida. Descubra agora