12. Você chama sua mãe de Karen?

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Camila colocou o canudinho no orifício da tampa do copo plástico e um pouco de espuma rósea escorreu pela borda. Um dos dedos capturou o líquido, levando-o à boca.

Era embaraçoso para um homem sentir-se excitado ao observar uma mulher lamber a espuma na ponta do dedo. Shawn não estava acostumado a ficar envergonhado e procurou olhar para outro lado. Pousou os olhos no cardápio.

— Uma grande ideia, diga-se de passagem. Eles parecem tão sossegados e tranquilos quando dormem — disse ele. — E difícil acreditar que causam tanto dano quando acordados.

Riu ao recordar as queixas de sua mãe quando fora apanhar Andrea para a aula. Ela tinha arrancado a coleira do cãozinho de Karen e a havia mascado inteira.

— Acho que está relacionado com a  sobrevivência deles — observou Camila, desembrulhando seu hambúrguer. — Deus fez com que parecessem tão adoráveis para que a gente os perdoe por tudo o que fizeram durante o dia.

Atacou seu sanduíche com evidente prazer, pois era bom morder algo quente e apetitoso. O sabor parecia melhor ainda pelo fato de estar sentada. Ultimamente as cadeiras não estavam relacionadas às refeições rápidas sobre a pia, ou mesmo em movimento.

Shawn não conseguia tirar os olhos dela. Parecia que ela estava apreciando uma refeição sofisticada, a julgar pelo prazer demonstrado. Apesar de manter os olhos fechados, Camila percebeu que estava sendo observada e abriu os seus. Ele deu a impressão de estar intrigado e não desviou os olhos.

— O que foi? Tem molho no meu queixo?

— Não. É que eu nunca tinha visto uma pessoa entrar em êxtase com um hambúrguer.

Camila riu.

— É que às vezes, quando trabalho demais, esqueço de comer. É bom ser lembrada que a gente está com fome — afirmou ela, dando mais uma mordida no sanduíche e mastigando com prazer.

— O que você queria conversar comigo?

— Na segunda-feira, quando contei meu problema... sobre encontrar uma babá — começou Shawn. — Você disse que me avisaria se encontrasse alguém. Ainda estou procurando alguém para tomar conta de Andy enquanto vou para o trabalho e gostaria muito de ter uma pessoa recomendada pessoalmente por você em vez de entrevistar estranhas. Mesmo porque as referências que elas trazem podem muito bem ser escritas por pessoas amigas.

— Parece que você não gosta muito dessas entrevistas — comentou ela.

— Detesto, para dizer a verdade. Só faço mesmo pelo bem de Andy.

Camila sorriu para a menina adormecida. O cabelo, no mesmo tom castanho que o do pai, lembrava-o em todos os detalhes. Camila reconheceu sentir uma pontada de inveja infantil. Gostaria muito que seu pai tivesse sido como aquele homem.

— Quem toma conta dela agora, enquanto você trabalha?

— Karen.

Ele já dissera que não era casado.

— Namorada?

Ela pensava num tipo loira e esguia, talvez como a mãe da menina, quando ele negou com a cabeça.

— Minha mãe.

— Você chama sua mãe de Karen?

— É o nome dela. E ela insistiu nisso. Pediu que eu a chamasse assim muitos anos atrás. Não é exatamente o tipo doméstico e maternal.

Ele não parecia contente com isso, reparou Camila.

— Se quer saber a situação, ela me deu vinte e quatro horas para encontrar uma babá para Andrea. Foi um ultimato, entende?

Ela disse que a menina quase provocou um ataque de nervos nela e em Silvester.

— Silvester?

— É o antipático do cachorro dela. Andy judia dele. Por isso queria saber se você poderia me indicar alguém.

Camila mordeu o lábio inferior, pensando no problema dele e em sua situação. A seção de anúncios classificados aparecia pela abertura de sua bolsa, lembrava-a do próprio problema. Já tinha o suficiente para preocupar-se sem ter de ajudar Shawn Mendes.

A menos que...

Como podia ter sido tão cega? Ser uma babá não era exatamente o que esperava da vida, porém era bem melhor do que ter de conviver com Jeremy, que jamais aceitava um não como resposta; ou ter de sair para a rua, procurando um lugar para morar. E ainda por cima ter de dividir seu apartamento com uma estranha. Também teria entrevistas pela frente.

Ainda que não fosse uma solução permanente, valia a pena tentar. Não tinha nada a perder, no momento. Se as coisas não funcionassem, sempre poderia retornar à mesma situação na qual se encontrava.

— Você disse que a babá deveria morar no emprego? — indagou ela.

— Esse seria o ideal, mas sou flexível.

— Onde iria morar essa babá, se ela dormisse no emprego?

— Tenho dependências separadas da casa, uma espécie de apartamento de hóspedes. Não é muito grande, mas...

Ele continuou falando, contudo Camila já não escutava.

Um apartamento de hóspedes. Isso significava algo mais do que um quarto pequeno. Christopher teria seu próprio quarto, em vez de dormir numa despensa adaptada. A esperança formou-se em seu íntimo, preparando-se para instalar-se.

— Sr. Mendes, acho que posso resolver seu problema — afirmou ela, inclinando-se para a frente.

E o meu, acrescentou mentalmente Camila.

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