No dia seguinte, desço para tomar o pequeno almoço com a minha bebé nos braços e olho para todos aqueles que já se encontravam na sala de jantar:
- Bom dia!
A maioria deles respondem, da mesma fora, ao meu comprimento, ou seja, com muita normalidade e neutralidade:
- Há tanta tensão nesta sala que até o ar pesa.
- Tensão?? Não há tensão, que tensão??
Dou um leve sorriso:
- Tu, fazendo repetição numa frase de 6 palavras?? Só démontra, Enzo, que esta sala está repleta de tensão.
- Tá...ouvimos-te ontem a discutir com o André.
- Hmm...e? —olho cada um deles enquanto dava de comer a Kayla e riu ao perceber o problema— Vocês estão com medo...medo que o vosso chefe fique sem nada
- Tens mesmo possibilidade de acabar com ele??
- Olha bem pra mim Samuel...achas mesmo que se eu não tivesse, iria ameaçar aquele que, um dia, eu considerei ser o amor da minha vida??...E mesmo que não tivesse posibilidades e só o tivesse ameaçado para lhe dar medo e brincar um pouco com o psicológico dele, achas mesmo que tu diria??
- Então vais mesmo fazê-lo??
- Porque não?? Possibilidades não me faltam, dinheiro tenho...a única coisa que me falta é o poder e eu garanto-vos que vou consegui-lo.
O resto do pequeno almoço decorre em silêncio e assim que eu e a Kayla acabamos levanto-me, pegando na menina para irmos para o quarto:
- Já vais??
- É, prefiro evitar encontrar me com certa pessoa.
- Falas de mim?? —olho para entrada da sala onde estava o André olhando para todos que estavam presentes entre aquelas 4 paredes brancas que engoliam toda aquela tensão—
- Eu fiz um simples comentário, tu é que te encontraste como a pessoa á qual me referia. Se és tu ou não essa tal pessoa, vou deixar que tu e a tua querida família, discutam isso. —subo para o quarto da minha bebé e meto-me a brincar com ela enquanto os "adultos" conversavam no dinning-room—
Some time later... A menina tinha adormecido enquanto brincávamos, olho para o relógio e vejo que já eram 11h e depois de deixar a menina na sua caminha, saiu do quarto indo em direção ao meu para me arrumar e sair.
Enquanto escolhia a roupa, que iria usar, ligo para para a babysitter:
- Sim?
- Olá, Marta, preciso que venhas cuidar da Kayla durante umas horas.
- Com certeza! Chego mais ou menos em 20min.
- OK! Até já.
Desligo, escolho o meu outfit e me troco:
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- Vais sair?? —olho em direção á porta do closet onde se deixa ver o André encostado a mesma—
- Como podes ver...
- Melissa...vamos conversar, sim? Não suporto este clima entre nós
- Clima? Não tem clima nenhum, meu bem —saiu do closet indo á casa de banho me pentear e ondular o cabelo com a placa—
- Desculpa, ta? Perdoa-me por não ser o namorado perfeito, por não ser como tu gostarias que eu fosse, perdoa-me por fazer as coisas a minha maneira...
- Esse é o problema André. Tu fazes as cenas só pensando em ti, no teu orgulho e na tua imagem, pouco te importa que as pessoas que se importam contigo e que te rodeiam saiam afetadas disso. Diz-me —apeoximo-me dele aos poucos— de que me servem as tuas desculpas?? De que me servem as tuas falsas promesas?? De que me serve conviver contigo se tu nem te importas??
- Eu vou mudar, prometo...
- Não, não vais, personalidade não se muda André. Podes escode-la ou fugir dela, mas ela estará sempre presente e muitas das vezes ela é bem maior que a tua força de vontade.
- Não te quero perder e não penso te deixar ir, nem a ti, nem a nossa bebé.
- Como queres tu cuidar da nossa filha se tu não és capaz de manter o amor da tua vida do teu lado? —volto a posicionar-me em frente ao espelho e começo a ondular o meu cabelo, olhando em simultâneo, pelo espelho, para o André que estava perdido entre os seus pensamentos—
Durante aqueles 10/15min que demorei a ondular o cabelo não voltou a abrir a boca para falar:
>> Sinceramente, não sei porque continuas aí parado, olhando para mim pasmado, esperando que eu te perdoe depois desse pedido de desculpas que não incluí nenhum tipo de verdade.
André falando:
"É impossível que ela me tenha deixado de amar assim, da noite para o dia. Conheço-a bem e sei que está a negarse a mim, nega-se a sentir, a querer, a perdoar. Saber que ela me ama dá-me vantagem de tê-la de volta por mais difícil que seja obter o perdão dela".
O comentario que ela tinha feito ao acabar de ondular o cabelo, mexeu comigo e queria demonstrar que posso mudar, que ela ainda me ama e que vai acabar por ceder a vontade então, como por instinto, ao vê-la abrir a porta da casa de banho, me aproximo a passos rápidos e faço pressão na porta com as mãos encorralando-a entre mim, os meus braços e a porta:
- Se nunca me tivesses amado, até acreditaria que essa indiferença toda, essa frieza e essas indiretas são reais mas... –desvio o cabelo dela, ainda quente pelo calor da placa, deixando parte do pescoço dela, a vista— custa acreditar que todo esse amor que sentias por mim desapareceu assim, de um momento para o outro. Custa crer que tudo o que eu te fazia sentir, que toda a intensidade que havia entre nós sumiu assim, sem mais nem menos...
- Pois acredita porque é verdade. Eu por ti já não sinto nada.
- Nada?? Nada mesmo?
- Não...nada...
- As reações do teu corpo dizem o contrário. —viro-a, de frente para mim, colando-a ao meu corpo—
- Reações? Não tem reações...
- Não? Vais me negar que, quando te falo de certa forma ou quando te olho de certa forma não ficas nervosa? Nega, nega que quando me tens assim tão perto o teu coração não quer sair do peito, que, quando te acariciu assim —acariciu a parte dorsal do corpo dela, lento, com a ponta dos dedos, sem tirar os olhos dela— o tesão não cresce e a tua necessidade de me ter não é cada vez maior do que a raiva que tu sentes por mim.
- Não é verdade...
- O problema, Melissa, é que tu te negas a sentir-me, a perdoar-me, a esquecer toda a merda que eu fiz, a dar-me uma chance de demonstrar-te que posso mudar e ao mesmo tempo dar-te, a ti própria, uma chance de sentir e de amar em paz...
