Blame

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- E trazemos ao vivo atualizações sobre a situação da rebelião na Penitenciária Umbrella, que foi oficialmente fechada pelo governo do estado da Califórnia - A voz do locutor da Non-Stop-Pop FM veio logo após a sua faixa de músicas ser interrompida - Segundo o boletim oficial da Polícia Metropolitana de Los Angeles, a morte de um detento foi confirmada e um oficial correcional foi encontrado inconsciente e está internado em estado grave. A evacuação da instalação foi concluída as 02:00 da manhã e todos os detentos estão sendo transferidos para várias prisões do Oeste do país. Voltaremos com a nossa grade de músicas e retornaremos em breve com este fatídico acontecimento na prisão situada no centro de Los Angeles - O locutor continuou - E agora você curte essa madrugada ao som de Blame, do Calvin Harris!

Ruy sentia as suas mãos geladas se baterem. As algemas o machucavam e ele mal podia se virar devido o mouro que estava ao seu lado - inerte e sem soltar uma palavra -. Não tinham noção do destino que aquele ônibus rumava, mas deduziam que a cidade de Los Angeles havia ficado para trás ao lerem as placas na rodovia.

Olhando um pouco acima dos bancos, Ruy conseguiu localizar Jason alguns assentos à frente graças ao seu tom de cabelo castanho claro. Além dele, Hussein e o próprio Myers, não conhecia mais nenhum dos outros detentos, todos vindos de outros blocos da prisão.

- Khalid? - O chamou, mas não teve resposta - KHALID?! - Lhe deu uma cotovelada.

- O que você quer?

- Não ouviu no rádio? - Além da voz de Ruy, o motorista do ônibus estava muito mais ocupado ouvindo a programação na rádio, enquanto um oficial fazia a escolta do veículo sem preocupação alguma com vários homens perigosos sendo transportados por ele - Alguém morreu na prisão.

- Mas não foi o Trevor - Khalid afirmou com a consciência limpa de que não havia tirado a vida de ninguém.

- Que ele não morreu disso eu sei. Sei ouvir uma notícia ainda - Ruy alfinetou - Mas também não vimos o Ahmad sair da prisão e muito menos entrar em um dos ônibus.

- Ainda tinha muita gente quando fomos tirados de lá - Khalid murmurou e pensou consigo a possibilidade de Ahmad não ter saído vivo da rebelião - Que Alá tenha piedade dele.

- Está mais preocupado com o Niko, não é?

- Como é?

- Você está mais preocupado com o Niko do que com o seu tio.

- Isso é infinitamente óbvio. A essa hora ele pode estar do outro lado do estado.

- Ele vai não vai estar longe. Esqueceu que estamos em julgamento? Não podemos sair do estado.

O Julgamento.

A cabeça de Khalid ferveu ao lembrar que eles ainda tinham o julgamento para enfrentar e agora ele teria que teria que responder por incitação ao motim e pela tentativa de homicídio contra Trevor. 

Enquanto Khalid tentava manter a calma - mesmo após semanas sem praticar meditação -, mas ficou ainda mais ansioso ao ver junto com Ruy uma enorme extensão de cercas tomar conta de paisagem, e mais para frente algumas torres de segurança. 

Longe da área metropolitana de Los Angeles, os dois se viam num lugar muito diferente do que estavam habituados. E muito mais medonho.

- Penitenciária Bolingbroke. Nossa nova casa - Ruy leu a placa de acesso a prisão logo que o ônibus teve autorização para entrar.

- Só se for a sua - Khalid observava as dependências degradadas da prisão. Diferente da Penitenciária Umbrella, Bolingbroke consistia de vários pavilhões separados, uma área de estacionamento e uma gigantesca quadra - Pode ter certeza que eu cair fora desse lugar quanto antes.

- É o que veremos.

Ruy e Khalid desceram do ônibus e finalmente puderam se reunir com Jason. Aparentemente, só havia eles transferidos para Bolingbrooke e seguiram para dentro do pavilhão A. Sem ser uma prisão privatizada, era nítido o abandono e degradação da estrutura e funcionários mal encarados pelos cantos. Havia homens armados nas áreas de maior altitude do lugar e uma quantidade considerável de detentos trajados de um uniforme laranja estilo macacão.

Os homens aprisionados em Bolingbrooke eram muito mal encarados. Ruy havia sentido pelo menos quatro olhares maldosos contra ele e Khalid havia entendido por si só duas desavenças ao encarar uma dupla de ruivos. Pelo o que o mouro havia conversado com Jason, a prisão era conhecida por manter detentos cumprindo pena por tráfico de drogas e armas, assassinato e em poucos casos, corrupção.

A periculosidade daqueles homens acendeu um grande alerta entre Khalid, Ruy e Jason, que assinaram a entrada deles na prisão e pegaram a muda de uniformes laranjas. Por sorte, foram direcionados à mesma cela, no segundo andar do pavilhão A.

- Isso não é bom - Ruy olhou pelo vão da porta, onde eram passados itens de higiene ou alimentos pelos guardas - Não nos informam de nada... Ninguém sabe se alguma questão jurídica vai ser envolvida.

- Questão jurídica? Não precisa ser tão formal - Jason deitou na cama. Cheirou o uniforme novo, deduzindo que a peça de roupa deveria estar há anos guardada pelo aroma de guardado que exalava.

- Ruy, eles não vão falar nada para nós. Não percebeu que daquele pessoal do ônibus, só nós viemos para cá? - Khalid encostou na parede, estralando os dedos para conter a ansiedade - Somos de interesse para as autoridades - Somos de interesse para o julgamento. Eles nos querem por perto.

- E o Niko? - Jason estranhou a ausência do motivo das constantes brigas de Khalid e Ruy - Se vocês são de interesse para julgamento, ele com certeza é da mesma forma.

- Não faço ideia, Jason - Khalid tornou a ficar preocupado - Eu realmente não sei o que te responder - Olhou ao redor da cela e por fim sentou-se na sua cama, ainda sem estar forrada - Não queria dizer isso, mas até termos notícia de alguma coisa aqui... Vamos ter que esperar.

O dia se arrastou e o trio e finalmente o trio obteve autorização para sair da cela e iniciar a adaptação na nova prisão com os outros detentos. Como resultado da rebelião na Umbrella, Khalid estava sendo mal visto pelos agentes carcerários devido sua tentativa de assassinar Trevor. Não demorou para que as notícias corressem pelas outras celas do pavilhão e novamente o mouro começou a ter um respeito significativo pelos seus novos colegas de encarceramento.

- Detento - Um agente carcerário chamado Nathan ficou frente a Khalid, que estava sozinho na cela. Com muita relutância Ruy e Jason resolveram sair para jantar - Está no seu horário de banho.

- Horário de banho? Eu acabei de voltar do ba... - Aquela indagação foi o suficiente para que o guarda empunhasse o cassetete e iniciasse um espancamento contra Khalid, que mal teve tempo de se defender.

Khalid foi atingido pela primeira vez nas pernas, o impossibilitando se mexer e fazendo com que ele desabasse no chão. Em seguida, seu tronco e rosto foram de encontro de repetidos acertos do cassetete. Da mesma forma que havia batido em Niko cruelmente, o mouro estava passando pela mesma situação.

- Essa é a sua recepção na sua nova casa. Assassino de agentes, terrorista... - Em uma clara referência e vingança ao ocorrido com Trevor, Nathan sussurrou no ouvido de Khalid, estirado no chão e ainda acordado. Entendia muito bem cada palavra que saia da boca do homem - Se você não obedecer as ordens do lugar, você vai morrer.

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