Capítulo 2

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- Como foi seu primeiro dia de aula, Raquel? A mãe perguntou.

Raquel jogou a mochila no sofá e caiu sobre ele, ela desejava tanto pelo final de semana, só de pensar em ter que ir para a escola no dia seguinte, ficava angustiada.

- Nada bom, mãe. Vou terminar o ensino médio como a garota que mora na roça

- E por que você deixa elas falarem assim de você? Reclame com seus professores, com os gestores da escola, isso não pode continuar desse jeito.

- E você acha que resolve? Fora que vou parecer ter cinco anos. O engraçado é que ninguém tira sarro do Gui. Para você ter ideia, as mesmas meninas que me desprezam, ficam babando por ele, hoje mesmo uma delas se aproximou de mim, toda simpática, queria saber o que ele era meu e até fez o favor de comprar meu salgado para que eu não precisasse esperar na fila.

A mãe ficou ouvindo atentamente, sem saber muito o que dizer. Gui era um garoto bonito e para dona Eva, era normal as meninas se interessarem por ele.

- Talvez seja esse o problema. - Ela pareceu pensar em voz alta.

- Que problema? - Raquel sentou para ouvir.

- Ele é homem e você mulher.

Ela voltou para cozinha como se tivesse dito algo que fizesse todo o sentido.

- Uai? E o que isso tem a ver? - Ela levantou e foi atrás da mãe. Dona Eva mexia a comida que estava no fogo, parecia não ter mais nada a dizer.

- Raquel - ela colocou o guardanapo no ombro e olhou para a filha - As mulheres costumam ser mais competitivas do que os homens, o problema não é você morar na fazenda, mas ser mulher.

- Ah mãe! Isso deve ser o que toda mãe diz para as filhas. - Ela pegou uma maçã e saiu.

- Kel, devolva essa maçã aqui, o almoço já está pronto, depois você não almoça direito!

- Estou faminta, mãe. Vou almoçar com certeza. - Ela bateu a porta do quarto.

- Não bate essa porta! - Gritou a mãe da cozinha.

Raquel conectou seu celular à caixa de música e selecionou as canções que gostava de ouvir quando estava deprimida, nenhuma delas a ajudava em nada, mas ela não se sentia sozinha quando as ouvia e podia chorar e reclamar da vida. Que para ela parecia dura demais.

- Raquel, o Gui está aqui, quer falar com você. - A mãe disse atrás da porta.

- Fala que agora não estou afim de conversar.

- Está bem, vou dizer isso a ele.

Ela não conseguia entender mas sentia-se traída. Ele era como um irmão e doeu vê-lo ser simpático com a garota que a humilhava. Não parecia justo, ele tinha que ignorá-la, mostrar seu descontentamento pela forma que sua "irmã" era tratada. Com certeza ele percebeu que a deixou chateada. Ela mal falou com ele no trajeto para casa, fingiu um cochilo e quando chegaram, na fazenda, desceu do carro sem ao menos dizer tchau.

- Gui - disse a Eva ao chegar na porta - Ela está descansando e não quer falar com você agora, depois vocês se falam, pode ser?

- Dona Eva, será que fiz alguma coisa que a deixou chateada? Ela nem falou comigo na volta, eu sei que ela não estava dormindo.

Raquel colocou o ouvido na porta de seu quarto para ouvir o que eles falavam, ela teve vontade de abrir e dizer que ela estava dormindo sim e ele não tinha o direito de questionar seu sono, mas percebeu que seria infantil.

- Gui, volte daqui uma hora, aí você pergunta para ela, mas se ela está chateada, deve ser pelo o interesse das meninas que não gostam dela em você.

Retalhos - Suas escolhas determinarão o seu destino!Where stories live. Discover now