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- Chegou em uma boa hora. - Ouvi atrás de mim e saltei no mesmo instante em que dei um grito. Eu estava em uma sala de jantar. Na mesa opulenta, repleta de comida, Gabriel ocupava a cabeceira. Deu um sorriso cínico diante do meu pavor. Estava no estilo empresário sexy.

Sua camisa de linho moldava com perfeição os braços e o peito musculoso. E as mangas estavam dobradas, revelando os antebraços. Ajeitei os óculos no nariz e percebi que não tinha controle sobre minhas pernas. Eu estava paralisada, sem conseguir me mover. Correr ou enfrentá-lo? Achava que Gabriel iria apontar dedo na minha cara, fazer as acusações, berrar e tudo mais. Entretanto, apontou para uma cadeira ao lado.

- Deve estar faminta, sirva-se.

- O que quer... de mim?

Levantou os olhos e esboçou um tom confuso, creio que propositalmente.

- Não sabe? Achei que fosse mais espertinha. Sente-se, Carol.

Não disse nem que sim, nem que não. Achei que lidar com a raiva dele era bem melhor. Eu saberia o que esperar, eu já estava preparada. Mas como enfrentar aquela expressão ridiculamente irônica?
Estava aflita, desesperada, em pânico.
Eu poderia tentar fugir, mas isso seria pior. Eu estaria para sempre fugindo? Além do mais, visivelmente ele não estava com raiva, talvez conversássemos, e ele aceitasse parcelar o dinheiro. Puxei a cadeira e me sentei.

- O que vai fazer comigo? Diga logo.

- Ah, não. Negócios depois. Não sou ninguém com fome. O avião pousou, e vim direto para cá, estou faminto. Coma e beba, Carol, pois sua jornada é longa.

Pronto. Essa era a afirmação que ele tinha me capturado e não me libertaria tão facilmente. Eu assistia, perplexa, ao homem bonitão e rústico devorando tudo à minha frente. Eu não podia fazer charme, era uma necessidade urgente que precisava suprir: tinha que comer, mesmo minha fome indo embora diante dele. Se eu não comesse, cairia desmaiada. Servi um pouco de salada e duas fatias de pernil de porco assado.
Terminei rapidamente e esperei com paciência ele provar cada coisa, e só quando estava satisfeito, eu questionei:

- Minha mãe contou?

- Detetive. - Limpou os belos lábios e tomou uma grande quantidade de vinho. - É mais demorado, todavia mais certeiro. Vinho? - ofereceu.

- Não bebo.

Deu de ombros e serviu a própria taça.

- Se eu fosse atrás de seus parentes, eles poderiam te avisar, e então escaparia mais uma vez.

- Mas como...?

- Pobrezinha - ironizou, exibindo dentes brancos alinhados - Não te ensinaram que quando fugir, não deve mais usar a conta bancária? Você é muito amadora, Carol, tem que aprender a ser mais esperta.

- Por que não chamou a polícia? - Minha voz mal saía. Parecia entalada.

- Sabe...? - Gabriel recostou na cadeira, sorrindo preguiçosamente. Um sorriso odioso. - Eu achei mesmo que ficou melhor com cabelos pretos. Não que eu não goste de ruivas, mas morenas me deixam pegando fogo.

- Por que não chamou a polícia? - Perguntei novamente.

- Primeiro, veio o ódio. A enlouquecedora revolta por descobrir que eu tinha sido roubado na maior cara de pau. Além, é claro, de você ter fugido daqui. - Ele riu, fez uma pausa e continuou, me torturando com sua vingança calma. - O ódio me fazia desejar acabar com sua vida, depois veio a aceitação. Eu tinha que aceitar que você foi esperta, mas não esperta o suficiente. Ponto pra mim. - Abriu os braços em gesto exibido.

- Em seguida, veio o otimismo. Eu vi uma brecha nisso, para agir e tirar proveito da situação. Então agradeça por não me ver furioso.

- Que tipo de proveito você quer tirar? - perguntei receosa.

- Sua mãe está passando por um tratamento, e a hipoteca da casa foi paga com meu dinheiro. Posso fazer assim - ele estalou os dedos -, e você será processada e terá que me ressarcir, além de ir presa por uns... sei lá, cinco a dez anos.

- O que quer? - agitada, perguntei, sem paciência para aquele joguinho.

- A partir de agora, estará sob minhas ordens. Assinará um contrato como se fosse minha funcionária, e todo o salário que estiver estipulado no contrato será para cobrir o que me
roubou. Não poderá sair daqui sem uma ordem expressa minha...

- Estou sendo mantida em cativeiro?

- Não. Claro que não.

- Você me sequestrou! Aplicou um sonífero... Seus capangas me levaram à força... - Fiquei de pé, tomando isso como uma grande arma para usar contra ele. - A justiça estará a meu favor!

Ele não se moveu um centímetro. Nem um gesto de sobrancelha, ao menos.

- Sério? Você acredita em você mesma? - Riu tão cinicamente, que eu rangi os dentes. - Vá, está liberada para ir dar parte de mim, será sua palavra contra a minha. Entretanto... - assobiou maldosamente. - Eu tenho provas concretas que me roubou, a sua colega de trabalho está disposta a depor contra você. É sua escolha agora.

Ele tinha razão, como eu poderia provar que fui sequestrada lá em São Paulo? Minha respiração ficou pesada, e senti a raiva doer na espinha.

- O que você quer?

- Nunca ouviu dizer que quem come em um restaurante e não tem dinheiro para pagar pode lavar pratos como pagamento? - Calmamente tirou um papel do bolso, desdobrou e estendeu
para mim. Era uma cópia de um extrato bancário. Da minha conta.

- Vai me devolver o que sobrou do roubo, o total aí diz que ainda tem quatrocentos mil. E o restante pagará se colocando à minha disposição para tudo que eu disser, como minha funcionária, e, com isso, pagará sua dívida. É virgem, Carol?

- O quê? De que está falando?

- Já transou com um homem?

- Já..., mas... onde quer... chegar...?

- Vou ser direto. Você acaba de ocupar o lugar de Letícia. Fará também o papel de minha noiva e, como já tem alguns dias que não faço sexo, será muito bem-vinda na minha cama. - Apavorada, me vi paralisada, e então a promessa ultrajante dele veio. Inclinou-se para frente e, o olhar cravado no meu, munidode uma expressão calculista, falou:

- Vou te comer tantas vezes, e tão intensamente, até conseguir colocar na sua cabeça que não pode roubar um homem tão poderoso como eu e achar que vai se dar bem.


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MINHA REFÉMWhere stories live. Discover now