Capítulo 4

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Arquivo original/ Livro revisado e disponível na Amazon e Kindle.

Isaak Barreto

Merda celestial.

Era de fato o destino agindo contra mim, não poderia ser verdade. Continuei em silencio o olhando ir embora gracioso, da mesma forma que tinha chegado, e eu praguejei o diabo por Thales, ter chegado em uma maldita hora.

- Porra. – Soprei como um bastardo olhando meu ficante. (Sim ficante, pois eu namoraria só Miguel). – Porque entrou caralho? – Perguntei sentindo meu coração ainda bater agitado.

E eu não menti que se soubesse tinha me arrebentado bem antes, só para ter o prazer de ver ele vindo até mim pela primeira vez.

- Oras, que conversa é essa, Isaak? – Bradou Thales irritado. – Acha que eu ficaria esperando quieto, enquanto meu namorado sorria como um idiota para outro? – Perguntou e eu ri.

- Que porra de namorado, Thales. – Falei tentando me levantar da cama e o bastardo me deitou na mesma de novo.

- Não posso acreditar que já quer ir correndo atrás dele como um idiota. – Disse e eu fiquei em silencio o olhando.

Ainda que em minha percepção não tínhamos nada sério, eu não conseguia magoar ninguém com meus atos.

- Eu nunca menti para você sobre ele. – Falei o olhando agora com calma.

"Mais que merda eu tinha me envolvido".

- Ainda assim não posso acreditar que você o prefere, mesmo depois de tudo que eu fiz. – Disse me olhando com os olhos marejados.

Fiquei em silencio o olhando, pois eu não tinha uma justificava que não fosse unicamente o amor que eu sentia por Miguel. E ainda que o loiro a minha frente, tenha sido especial nesse um ano, eu não poderia dar o que ele queria.

- Me diz, Isaak. O que ele tem de tão especial que não seja a cegueira? – Disse e eu travei meu maxilar o olhando com agora raiva.

- Nunca, nunca mais abra sua boca para dizer qualquer merda dele. – Falei entre dentes.

- Já chega vocês dois, caralho. – Bradou Estelar entrando. – Chega dessa merda, vai Thales, vai para sua casa. – Mandou a tatuada e Thales a olhou ressabiado.

- Mas... – Tentou dizer.

- Vaza. – Mandou Estelar mais uma vez com o olhar sério e o queixo erguido.

E ele foi sem mais dizer nada, e por mais que eu sentisse muito de o estar magoado, eu não conseguia encontrar um caminho diferente, não quando se tratava de Miguel, pois eu iria até no inferno por ele.

- Não precisava ter sido rude com ele. – Falei para Estelar assim que Thales saiu batendo a porta do quarto de hospital.

- Cala boca caralho. – Mandou e eu levantei minha sobrancelha a desafiando. – Já estou cansada dessa merda, Isaak. – Disse agora mais calma. – Eu te avisei que não era coerente se envolver com Thales assim, ainda que para você não exista nada sério, para ele é diferente. Ele gosta de você, e todas as vezes que você sair correndo atrás de Miguel como um bastardo, você vai o machucar, mesmo nunca tendo mentido.

- E você quer que eu faça o que? – Perguntei seriamente a olhando.

- Se resolva, merda. – Disse como se isso dependesse unicamente de mim. – Não é porque Miguel, veio te visitar que significa que ele te quer. – Disse e eu suspirei. – Pare de ficar se apegando as migalhas que ele te oferece, já faz três anos que você insiste nele. Às vezes é bom entender que merecemos mais. – Concluiu.

E por mais que eu soubesse que ela tinha razão, eu não conseguia fazer diferente. Era frustrante perceber que eu ainda me contentaria com aquelas migalhas.

******

Miguel Escobar

- Porque está tão calado, menino Miguel? – Perguntou Castilho assim que saímos de braços dados pela porta do hospital.

- Não é nada. – Menti lhe dando um sorriso.

O arrependimento subia e descia por minha garganta, era uma sensação de amargura que eu sentia engolir para meu coração. Era o pior entendimento que eu tive em todos esses anos, era fútil perceber que eu gostava de o ter sempre atrás de mim. Estranho agora saber que ele já tinha outra pessoa. E era mais estranho ainda notar, que eu o queria bem mais do que já quis.

- VOCÊ. – Chamou uma voz raivosa em minhas costas me fazendo parar meus passos e ativar meus sentidos com as três batidas dos dedos de Castilho em meu braço. – ACHA QUE PODE CHEGAR QUERENDO O QUE É MEU. – Bradou e não precisou de muito para eu entender que era o namorado de Isaak.

Sua voz já não soou tão carinhosa.

- Não sei sobre o que está dizendo. – Falei calmo oscilando meus olhos enquanto meus ouvidos processava em que direção ele estava de mim.

- Então eu vou fazer você saber. – Disse e ele já estava perto o suficiente.

- Punho fechado a direita. – Soprou Castilho e eu só movi meus pés para o lado levando minha mão em seu pescoço.

- Sou cego, mais não tonto. – Falei para ele enquanto enforcava seu pescoço. – Achou o que garotinho, que iria machucar o ceguinho? – Perguntei oscilando rápido meus olhos enquanto sorria de lado.

- Me solta. – Pediu ele já quase sem voz.

Eu ainda posso ser o alvo mais fácil da minha família, posso ser eternamente somente o rapaz cego pela primeira impressão alheia. Mais ainda assim eu me esforcei a vida toda para ninguém me machucar ao tirar proveito de minha condição. Como eu disse, eu tive que aprender muitas coisas, e o principal delas era me defender, ainda que eu precisasse de alguém para me mostrar a direção, eu mesmo me defenderia quando fosse preciso.

- Agora sou eu quem vai te fazer entender uma coisa. – Falei o puxando mais para mim. – Eu não queria nada que você ache que é seu, mais agora você pode ter certeza. Que vou até no inferno, mais eu vou ter Isaak para mim. Como sempre deveria ter sido, nesses malditos três anos. – Conclui empurrando seu corpo de mim.

Lhe dei as costas sem me importar com suas ofensas e eu poderia ter certeza que pelo seu silencio, Castilho já lhe apontava a arma enquanto eu batia minha bengala no chão seguindo para o carro.

E que se foda o medo que eu sentia de relacionamentos complicados, eu tentaria viver isso, se esse ainda fosse o desejo daquele desajuizado.

Além do Escuro: Série Irmãos Escobar - Livro 03 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora