Prólogo

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12 de Agosto de 2020.

De: Dohyun Hyung.
            Para: Sannie.

Nosso pai está muito doente. O câncer piorou e os médicos falaram que ele não tem muito tempo de vida. Ele pediu para irmos até  Gwangju. Imploro que venha comigo, irmão.
Mensagem enviada às 08h30min

Hoje o dia não estava sendo um dos melhores para Choi San e ainda nem era à hora do almoço. O rapaz acordara com uma sensação estranha de que algo muito ruim fosse acontecer. Nunca duvidara dos seus instintos, dito e feito.
Em seu leito de morte, seu pai resolveu voltar para a sua vida depois de quatro anos. Suas últimas palavras, antes que San saísse de casa, foram: você não é mais o meu filho.

Era irônico como a mente pesava na hora em que estamos prestes a morrer, ou o patriarca Choi apenas abrira os olhos e finalmente reconhecera o quanto tornou a vida da sua própria família um verdadeiro inferno por anos.

Choi Ki-Nam era um político importante e respeitado, era prefeito de Gwangju há anos. Mal sabiam seus cachorrinhos apoiadores que, dentro da casa do grande Ki-Nam, ele era só um marido e pai abusivo, agressivo e controlador. Tudo tinha que andar de acordo com suas regras.

San nunca conhecera a liberdade. Desde que nasceu, seu pai traçou todos os seus caminhos para a vida, sempre quis mantê-lo sob controle. Se o garoto ou o irmão desobedecessem, eram castigados. Quando fechava os olhos para dormir, San acabava chorando por se sentir sufocado dentro da própria casa. Por anos se sentira preso dentro daquele inferno governado pelo pai.

Quando criança era muito fã de Michael Jackson, a forma de dançar do cantor e dançarino o hipnotizou. Fora nessa época que se apaixonou pela dança, ela sempre esteve presente na sua vida. Não era apenas algo que gostava de fazer, a dança era uma parte importante dele. Mas o pai jamais entendera isso, enxergava a dança como algo para "homens afeminados" e proibira San de dançar.

A juventude dele fora cheia de mentiras para que conseguisse escapar de casa e dançar com os amigos no estúdio que ficava perto da escola em que estudava. Sua mãe e Dohyun, sempre o ajudavam e inventavam milhões de desculpas para explicar ao patriarca o motivo de San não estar presente na hora do jantar.

Tudo o que San sempre desejou era a liberdade. Queria ser o Choi San livre para seguir seus sonhos, seguir a carreira da dança, livre para amar quem quisesse - fosse homem ou mulher. E não o Choi San, filho de Ki-Nam, médico, ter que se casar com uma bela mulher e gerar filhos. Esse não era ele, nunca quis ser um fantoche do pai.

Quando finalmente completou dezoito anos de idade, seu irmão já morava em Seul e cursava medicina. Naquele ano, San procurou o pai e falou que se mudaria para morar com Dohyun, e que tentaria entrar em alguma empresa de entretenimento para se tornar um dançarino profissional. De onde ele tirara tanta coragem para enfrentá-lo? Até hoje não saberia dizer.

Ouvi-lo dizer que não o considerava mais seu filho, no fundo fora um grande alívio para San. Naquele momento inesquecível, há quatro anos, ganhara um belo tapa no rosto por Choi Ki-Nam e sua tão sonhada liberdade. Então, jurou que nunca mais o veria novamente. Seu irmão sempre lhe respeitou e nunca mais mencionara o pai... Até o dia de hoje.

Muitas pessoas podem considerar San errado ou frio por se sentir dessa forma em relação ao próprio pai, mas a verdade é que ele não se importava se o homem estava morrendo ou não. Nunca recebeu nenhum tipo de amor ou afeto vindo do mesmo, sequer existiam memórias boas e felizes para lhe causar aquele aperto no peito da saudade. Por essas razões, respondeu a mensagem do irmão mais velho falando que não iria e que ele deveria ir para apoiar a mãe deles.

- Um ice americano por seus pensamentos – Yunho falara com um tom divertido na voz, encostando-se à parede ao lado de San e assanhando os cabelos roxos do mesmo – Está tão pensativo hoje, Sannie.

Extraordinary Love - WoosanWhere stories live. Discover now