Capítulo 1 - Chegada (revisado)

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PRÓLOGO:

Minha alcateia era pequena comparada aos outros territórios. E meu antigo Alpha — assim como qualquer outro líder de alcateia deveria ser — parecia ter orgulho de todos os membros e tratava todos muito bem. Era tudo aparentemente perfeito, a não ser por uma coisinha: Eu.

Particularmente, nunca fui bem vinda lá. E se você me perguntar o porquê, eu não vou saber responder a essa pergunta. O fato era que eu não me sentia conectada a nenhum deles. Todos deveriam sentir uns aos outros, fazerem parte de um todo que eu nunca conseguia enxergar. É horrível dizer isso, mas era a verdade. Eu me sentia presa e não conseguia me acomodar na matilha. Por algum motivo repugnante, ela me incomodava profundamente.

Mas o destino tende a ser imprevisível quando menos esperamos.



CAPÍTULO 1 - CHEGADA

Eu era livre. A floresta era minha e eu era dela. Meus uivos ecoavam como correntes se quebrando pela terra. Nada podia me parar. Nada podia me prender a não ser eu mesma.

Conseguia sentir os fios invisíveis que me ligavam a alcateia se romperem, mas não senti dor, não me estilhaçou como eu imaginava, pois eles nunca existiram de verdade. Sempre fui eu comigo mesma. Eu conseguia sentir tudo perfeitamente ao meu redor. Os cheiros, os gostos, os barulhos, tudo era conectado como nervos no meu corpo. As sensações de medo, adrenalina, eu podia sentir tudo no ar. Eu estava livre. Sentia como se tudo estivesse no meu controle. Sem lugar fixo, sem regras para seguir. Fugitiva das leis que me perseguiam e que me atormentavam.

Como?

Bem...

Depois de correr praticamente metade de um dia e a noite inteira, acabei parando na fronteira do território de outra alcateia. Eu tinha conseguido atravessar a merda de um estado inteiro para ficar o mais longe possível da minha. Meus músculos vibravam, e minhas patas nunca sentiram tanta dor. Mas a dor era prazerosa e me faziam ficar mais eufórica e destemida do que sempre fui. E que, no entanto, era algo que nunca tive o direito de apreciar apropriadamente.

Eu estava sem nada. Absolutamente nada. Sem roupas, sem pertences e nada que pudesse me ajudar. A cidade mais próxima era bem maior que a minha, mas antes que eu pudesse chegar até ela, eu tinha que me transformar e achar alguma roupa para vestir. O que não seria muito fácil. Não para alguém ansiosa e que não gostava de fazer nada errado. E a questão era que eu estava fazendo a coisa mais arriscada da minha vida. Era totalmente proibido entrar em um território assim sem antes informar o Alpha local. E se algum membro da alcateia daqui me pegasse, seria o meu fim.

Na parte rural, depois de adentrar mais o novo território, acabei encontrando uma casa. Um pequeno chalé. Podia ouvir o barulho de alguns carros passando hora ou outra, o que mostrava que ficava perto da estrada.

Me esgueirei pelas árvores e observei se o lugar estava seguro. Não havia cachorro, alarmes e nem câmeras. O local parecia simples e sem sistema de segurança. Seria um show e tanto ver um lobo passeando pelo seu quintal antes de se transformar num humano para roubar alguma coisa.

Olhei com mais atenção o local e notei que nos fundos da casa havia um varal com algumas roupas penduradas. A residência estava toda apagada e rezei para que ninguém ali dentro sofresse de insônia, pois eu estava apostando que estavam todos dormindo a essa hora.

Me aproximei cuidadosamente e farejei o lugar. Sem cheiro recente, sem odor de humano e principalmente de lobo. Sem nada que pudesse apresentar perigo. Era aparentemente seguro, então quando cheguei perto do varal, rapidamente me transformei atrás de um lençol grande. A mudança foi ainda mais dolorosa, até porque meus músculos já estavam cansados da corrida e ainda precisavam se transfigurar completamente para a forma humana.

A LUA, O CAOS E A LIBERDADE [+18]Where stories live. Discover now