Cap 76 - Na casa dos solitários.

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Maika

O caminho de ônibus até o território de Kendall nos rendeu algumas horas. E durante essas horas, Liphe foi a pessoa mais chata que existiu. Não parava de me perguntar sobre as coisas, de como eu conheci Pether, de como fui salva, de como fui parar na casa de Connor e entre outras coisas que me senti obrigada a contar. Ele me ouvia atentamente e minhas histórias pareciam pelo menos matar o tédio dele. E quando estávamos chegando, senti um alívio gigante. Tanto por ter parado de falar quanto por ter desabafado um pouco.

Descemos do ônibus e era a primeira vez que estava pisando no território de Kendall.

— Maika... — Ele sussurrou enquanto andávamos. — Se formos parados por algum lobo de Kendall, eu sou da alcatéia de Connor, ok? Mas se formos parados por solitários, esqueça o que eu acabei de dizer. — Segurei a vontade de rir e olhei em volta.

— Ok, pode deixar. — Suspirei. Tinha voltado a nevar. — Mas acho que os lobos de Kendall estão muito bem escondidos agora. Se formos parados, o que não vai demorar, vão ser solitários.

A cidade era grande, arborizada e as pessoas andavam tranquilamente pelas ruas completamente alheias ao que estava acontecendo nesse território. Era uma cidade bonita demais para Pether deixar de se importar tanto assim. Fico pensando ainda mais nos seus motivos agora para ter deixado esse lugar.

Ao longe, além dos prédios e casas, podia ver o relevo alto de florestas. Era enorme...

— Preste atenção... Já nos perceberam. — Arregalei os olhos quando ouvi Liphe.

— Sério? — Olhei disfarçadamente em volta e percebi alguns indivíduos nos encarando. Alguns em frente a estabelecimentos, outros sentados em bancos. Solitários. 

Isso tinha sido rápido demais.

— Vamos para um lugar mais isolado para que cheguem até a gente. — Ele falou e andamos mais uns quarteirões até acharmos um depósito vazio. Entramos e Liphe suspirou baixinho. — Agora é só esperar. — O silêncio se estendeu e ficamos parados ali dentro daquele depósito abandonado esperando qualquer alma viva aparecer. — Maika se voltarmos vivos desse lugar, me lembre de cuidar melhor daquele bar. Quem sabe eu não te contrate.. — Olhei pra ele de esguelha ao ouvir aquela informação. Pressionei os lábios e o observei enquanto parecia checar o local mais uma vez. Não sabia que Liphe tinha essa lado tão fofo.

— É uma promessa. — Falei baixo.

— E vocês, quem são? — Ouvimos uma voz rouca soar junto a vários passos na entrada do depósito. Levantei o olhar e vi os seis homens que entraram ali dentro. — O que estão fazendo aqui? — Engoli em seco quando ouvi um clique familiar soar atrás de nós. E quando olhei, vi mais dois solitários. Esses estavam armados. 

Respirei fundo e ignorei o fato de que essa ideia de merda de vir pra cá era horrível. Provavelmente Liphe estava me xingando em pensamentos agora.

— Olá, somos solitários, não viemos causar problemas. — Levantei as mãos e Liphe me imitou fingindo um sorriso que eu sabia ser mais falso do que o que eu tinha acabado de dizer.

— Ei amigos, não precisam de armas, precisam? — Ele falou. — Estamos desarmados, podem nos revistar se quiserem. — Olhei pra ele com as sobrancelhas franzidas, mas aceitei. O solitário que tinha feito perguntas acenou com a cabeça e dois caras vieram nos revistar, arrancando também nossas mochilas para conferir o que tinha dentro. O líder parecia ter uma cicatriz no queixo e parecia ser ele de quem Bernard citou.

— Limpos. — Ouvi o barulho das armas e percebi que tinham abaixado. Jogaram as mochilas novamente para os nossos pés. Abaixamos as mãos e eu voltei a colocar a mochila no ombro.

A LUA, O CAOS E A LIBERDADE [+18]Where stories live. Discover now