3. FENÔMENO

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Quando abri os olhos de manhã, havia algo diferente.

Era a luz.

Ainda era a luz verde-acinzentada de um dia nublado na floresta, mas de certa forma estava mais clara. Percebi que não havia um véu de neblina na minha janela.

Pulei da cama para olhar para fora e gemi de pavor.

Uma fina camada de neve cobria o jardim, acumulava-se no alto de minha picape e deixava a rua branca. Mas essa não era a pior parte. Toda a chuva da véspera havia se solidificado — cobrindo as agulhas das árvores em fantásticas formas e fazendo da entrada de carros uma pista de gelo liso e mortal.

Para mim, já era difícil não cair quando o chão estava seco; agora devia ser mais seguro voltar para a cama.

Honggi saíra para o trabalho antes que eu descesse ao primeiro andar. De muitas maneiras, morar com ele era como ter minha própria casa, e eu percebi que me divertia com a solidão, em vez de me sentir solitário.

Engoli rápido uma tigela de cereais e um pouco de suco de laranja direto da caixa. Sentia-me empolgado para ir para a escola e isso me assustava. Eu sabia que minha expectativa não vinha do ambiente estimulante de aprendizado, nem de ver meu novo grupo de amigos. Para ser sincero comigo mesmo, eu sabia que estava ansioso para ir para a escola porque veria Jungkook Cullen. E isso era uma grande estupidez.

Eu devia evitá-lo inteiramente depois de meu tagarelar desmiolado e constrangedor de ontem. E eu estava desconfiado; por que ele mentiria sobre os olhos?

Eu ainda tinha medo da hostilidade que às vezes sentia emanar dele, e ainda ficava sem fala sempre que imaginava seu rosto perfeito. Estava bastante consciente de que minha praia e a praia de Jungkook eram universos que não se tocavam. Então eu não devia estar com essa ansiedade toda para vê-lo hoje.

Precisei de toda a minha concentração para descer vivo a entrada de carros de tijolos congelados. Quase perdi o equilíbrio quando finalmente cheguei à picape, mas consegui segurar no retrovisor e me salvar.

Estava claro que o dia de hoje seria um pesadelo.

Dirigindo para a escola, me distraí do medo de cair e das especulações indesejadas sobre Jungkook Cullen pensando em Yeonjun e TaeHyun, e na diferença evidente no modo como os adolescentes daqui reagiam a mim.

Tinha certeza de que estava com a mesmíssima aparência que tinha em Phoenix.

Talvez fosse só porque os meninos de minha cidade tivessem me visto passar lentamente por todas as fases desajeitadas da adolescência e ainda me vissem dessa forma. Talvez fosse porque eu era novo por aqui, onde as novidades eram poucas e raras vezes aconteciam.

É possível que minha falta de jeito incapacitante fosse considerado simpático, e não ridículo, tornando-me um donzelo em perigo. Qualquer que fosse o motivo, o comportamento de cachorrinho de Yeonjun e a aparente rivalidade de TaeHyun com ele eram desconcertantes. Eu não tinha certeza se preferiria ser ignorado.

Minha picape não parecia ter problemas com o gelo escuro que cobria as ruas. Mas dirigi bem devagar, sem querer traçar uma rota de destruição pela rua principal.

Na escola, quando saí do carro, vi por que tive tão poucos problemas. Uma coisa prateada atraiu meus olhos e andei até a traseira da picape — apoiando-me com cuidado na lateral — para examinar os pneus.

Havia neles correntes finas formando losangos. Honggi se levantara cedo, sabe-se lá a que horas, para colocar correntes de neve na minha picape. Minha garganta de repente se apertou. Eu não estava acostumado com alguém cuidando de mim e a preocupação muda de Honggi me pegou de surpresa.

❀° ੦ ↳ *Saga Crepúsculo*.  ೋ ❞Where stories live. Discover now