4. CONVITES

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Em meu sonho estava muito escuro e a luz fraca que havia parecia irradiar da pele de Jungkook. Não conseguia ver seu rosto, só as costas enquanto ele se afastava de mim, deixando-me na escuridão. Por mais rápido que eu corresse, não conseguia alcançá-lo; por mais alto que gritasse, ele não se virava. Perturbado, acordei no meio da noite e não voltei a dormir pelo que pareceu um longo tempo. Depois disso, ele entrou em meus sonhos quase toda noite, mas sempre fora da cena, nunca ao meu alcance.

O mês seguinte ao acidente foi inquietante, tenso e, no início, constrangedor.

Para minha consternação, eu me vi no centro das atenções pelo resto da semana. Beomgyu Crowley estava impossível, seguindo-me por toda parte, obcecado por se redimir de alguma forma. Tentei convencê-lo de que o que eu mais queria dele é que esquecesse tudo aquilo - em especial porque não acontecera nada comigo -, mas ele insistia sem parar. Seguia-me entre as aulas e se sentava à nossa mesa, agora abarrotada. Yeonjun e TaeHyun foram ainda menos amistosos com ele do que entre si, o que me deixou preocupado com a possibilidade de ter ganho outro Fã indesejado.

Ninguém parecia preocupado com Jungkook, mas expliquei repetidas vezes que o herói era ele que ele havia me tirado do caminho e qua se fora atropelado também. Tentei convencer Lisa, Yeonjun, TaeHyun e todos os outros que sempre comentavam que não o tinham visto ali até a van ser afastada.

Perguntei a mim mesmo por que ninguém mais o vira parado tão longe, antes que ele salvasse a minha vida de repente e daquele jeito impossível. Com pesar, percebi a provável causa - ninguém mais tinha ciência da presença de Jungkook como eu. Ninguém o observava da forma como eu fazia. Que pena.

Jungkook nunca ficou cercado de uma multidão de curiosos ansiosos por seu relato em primeira mão. As pessoas o evitavam, como sempre. Os Cullen e os Hale sentavam-se à mesma mesa de sempre, sem comer, conversando entre si. Nenhum deles, em especial Jungkook, voltou a olhar na minha direção.

Quando ele se sentou ao meu lado na aula, o mais distante de mim que a carteira permitia, parecia totalmente inconsciente da minha presença. Só ocasionalmente, quando seus punhos de repente se curvavam - a pele esticada ainda mais branca sobre os ossos - é que eu me perguntava se ele estava tão distraído como parecia.

Ele queria não ter me tirado do caminho da van de Beomgyu - não havia outra conclusão que eu pudesse tirar.

Queria muito conversar com ele e, no dia seguinte ao acidente, tentei.

Da última vez que o vira, do lado de fora da emergência do hospital, nós dois estávamos furiosos. Eu ainda tinha raiva por ele não ter me contado a verdade, embora cumprisse impecavelmente minha parte do trato. Mas ele salvara minha vida, independentemente de como tinha feito isso. E, da noite para o dia, a temperatura elevada de minha raiva desapareceu numa gratidão reverente.

Quando cheguei à aula de biologia Jungkook já estava sentado, olhando para a frente. Eu me sentei, esperando que se virasse para mim. Ele não deu sinais de ter percebido minha presença.

- Oi, Jungkook - eu disse de um jeito agradável, para lhe mostrar que ia me comportar.

Ele se virou só um pouquinho para mim sem me olhar nos olhos, balançou a cabeça uma vez e depois desviou o rosto.

E esse foi o último contato que tivemos, mas ele ficava ali, a trinta centímetros de distância, todo dia. Eu o olhava às vezes, incapaz de me conter mas de longe, no refeitório ou no estacionamento. Eu o observava à medida que seus olhos dourados ficavam perceptivelmente mais escuros dia após dia. Mas, na aula, eu não prestava atenção nele mais do que ele permitia. Eu estava infeliz. E os sonhos continuaram.

❀° ੦ ↳ *Saga Crepúsculo*.  ೋ ❞Where stories live. Discover now