Capítulo 23

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Damien estava com medo de que Kazimir tivesse razão. Não sabia o que ele tinha feito, mas conhecia homens bem o suficiente para saber que eles precisavam de algo bastante traumatizante para não querer mais transar. Tinha medo de realmente odiar o primeiro-tenente, repudiar a ideia de amá-lo, gostava tanto daquele cretino que só pensar na ideia de não conseguir sentir mais nada por ele era horrível e fazia seu peito doer como se houvesse alguma angina atormentando-o.

Ele era atencioso, às vezes até mais do que deveria e isso realmente só mostrava o quanto Kazimir se importava, o quanto queria que Damien ficasse com ele ou pelo menos o quanto tinha medo que ele fosse embora. Manteve-o ocupado durante todo o dia, seja conversando ou fazendo alguma coisa, não teve um minuto em que Damien olhou para o relógio e se sentiu entediado. Descobriu que Kazimir era mais humano do que aparentava em uma farda, ele cozinhava muito bem, algo que jamais imaginou, mas que logo foi justificado pelo fato dele morar sozinho a alguns anos, também descobriu que ele tinha o hábito de conversar com a cadela como se ela fosse uma pessoa e Damien riu disso algumas vezes.

O primeiro-tenente era totalmente diferente dos namorados que Damien tivera anteriormente, se bem que era um claro erro compará-los dessa forma já que todos pareciam moleques perto de Krieg, ele se esforçava de verdade para que o menor sorrisse o tempo todo e Damien realmente adorava quando o primeiro-tenente ria com ele. Damien nunca tinha o visto sorrir antes do incidente do depósito, antes de beijá-lo e sentia que realmente estava perdendo algo, quando Kazimir sorria parecia ser mais uma criança que um adulto, embora a pele do rosto fosse áspera com a barba ele realmente sorria como uma criança quando encontra algum objeto perdido no jardim e se acha um caçador de tesouros.

A forma como ele sorria só quando estava verdadeiramente feliz fazia o ato parecer um pouco melancólico porque cada vez que o via alegre Damien tinha a impressão de que estava mascarando algo muito ruim, algo que tinha guardado para si mesmo. Ninguém esquece coisas ruins, principalmente coisas que fazem alguém perder totalmente o apetite sexual.

Fitou os olhos dele, as íris azuis pálidas, sempre sólidas e impenetráveis, havia um porquê de ninguém nunca conseguir ler seus olhos, havia um porquê dele ter coberto aquela cor tão bonita com um véu esbranquiçado. Por quanto tempo está guardando isso?

- Está me escutando? – perguntou depois de perceber o quão disperso Damien estava.

- Sim, claro. – respondeu rapidamente. – Ah, Kaz, se tivesse me dito aquilo antes eu não o teria pressionado tanto.

Kazimir ficou um pouco surpreso com o assunto resgatado novamente do nada.

- Me sinto um pouco culpado, você me pediu para esperar, eu meio que o obriguei a fazer aquilo. – continuou.

- Você não me obrigou a nada, eu fiz porque quis, eu poderia tê-lo parado. – deu de ombros.

Ele fitou os olhos avelã quando disse aquilo, estava falando a verdade, quando fez aquilo Krieg tinha como única intenção que Damien se sentisse bem, porque nunca esperou que ele mesmo fosse se sentir assim.

- Você me perguntou se me machucaria. – disse. – Já machucou alguém daquela forma?

- Não, pelo menos não diretamente. – respondeu. – Você quer mesmo ouvir isso, não quer?

- Você disse que eu vou odiá-lo. – pausou brevemente. – Mas se eu não souber eu vou ficar com medo do que é que tenha feito.

- Prefiro que me odeie do que tenha medo de mim.

Damien tentou sorrir, embora tenha percebido que conseguiu resgatar o mesmo Kazimir do café da manhã, abatido e receoso.

- Ah, não sei por onde começar. – tentou buscar na memória onde tudo tinha começado. – Bem, o fato é que eu cresci junto com o capitão, meus pais eram empregados do pai dele então eu o conheço desde que nasci, literalmente.

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