Capítulo 41

2.8K 296 66
                                    

Quando chegou em casa na quinta-feira de manhã disse a si mesmo que não iria se exaltar e muito menos considerar aquilo algum tipo de avanço, porque com certeza não era, Heiner estava fora de si quando o tinha abraçado e para o recruta consciente aquela não era uma atitude viável. O Heiner de verdade jamais o abraçaria daquele jeito. Contudo mesmo dizendo a si mesmo para não ficar alegre ou alterar qualquer ponto do seu humor só por causa daquele acontecimento Sven se pegou sorrindo um milhão de vezes e se pegou sem conseguir dormir, virando de um lado para o outro. Não era insônia, era só aquele sentimento de êxtase pelo qual passamos quando nossos sentimentos são retribuídos mesmo que sejam levemente e mesmo que maior parte disso seja fruto da sua esperança.

Antes de ir para o quartel naquela sexta-feira ele olhou para si mesmo no espelho e disse que não diria ou faria nada estranho, que não tinha acontecido nada para ele agir feito um retardado como seus sentimentos sugeriam que fizesse. Só tinha que fazer como fazia todos os dias e tudo ficaria bem como sempre ficava. Com sorte Heiner nem se lembraria do que havia ocorrido e nunca ia saber que se abraçaram daquela forma, ou que Sven disse que o protegeria e que não deixaria ninguém leva-lo embora.

Passou na cozinha primeiro para pegar o café da manhã dele, debruçou-se sobre a mesa e resolveu mordiscar alguns biscoitos, eles estavam com uma aparência muito boa naquela manhã, o que significava que Hans tinha começado o dia colocando muita gente abaixo dos cachorros naquela cozinha. Quando o ruivo tirava férias ou se ausentava por algum outro motivo os biscoitos queimavam embaixo, eram doces ou salgados demais e tinham uma aparência deveras duvidosa. Uma vez serviram um suco que tinha gosto de morango e cor de cenoura, quando Sven perguntou de que era um dos recrutas olhou fundo no líquido como se olhasse para as águas do rio Estige e respondeu "É suco de vermelho". Quando Hans retornou riu daquilo quando escutou e disse que provavelmente era de beterraba. Seja como for Sven nunca mais bebeu nada que não tivesse sido preparado sob a supervisão de Hans, embora já tivesse ouvido de alguns oficiais que o "suco de amarelo" era bastante exótico.

Mordeu o pedaço de um biscoito que ainda estava no tabuleiro, tinha sido tirado do forno a não muito tempo e ainda tinha aquele cheiro realçado que o calor consegue provocar nos alimentos. Mastigou algumas vezes e foi obrigado a cuspir tudo para fora com o impulso do susto que levou quando alguém de repente apertou uma de suas nádegas.

- Hans! – repreendeu-o de cenho franzido e ele lhe deu um meio sorriso tão indecente quanto o ato.

- Você gritou meu nome antes de ver que era eu.

- Não existem muitas pessoas nesse quartel que não tem medo de serem presas por assédio e você é a única delas que insinua isso para mim. – justificou-se.

- Isso é calúnia. – respondeu levando uma das mãos de novo até as nádegas do enfermeiro, mas este lhe segurou o pulso antes que o ruivo o tocasse. – Isso foi privação de felicidade alheia.

- Privação de felicidade é o que os latinos da prisão fariam com você se eu resolvesse te processar. – arqueou uma sobrancelha e riu de leve voltando sua atenção para a comida de novo.

- Eu gosto dos latinos, eles têm umas bundas legais. – Hans disse.

- E uns pênis enormes.

- Isso fica por sua conta. – adicionou, lembrando-o que nunca tinha sido passivo, e se tivesse não teria sido para um latino, com certeza. – Está de bom humor, andou comendo alguém?

- Hans, por que você acha que toda a felicidade do mundo vem de atos sexuais?

- Porque vem. – arqueou uma sobrancelha e depois pensou melhor. – Ou não, também vem da expressão fofa que o Samuel faz quando come bolo de chantilly com morango.

DamageOnde histórias criam vida. Descubra agora