Final

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    Ester,

    Não faço a menor ideia de como começar essa carta e espero do fundo do coração que você não se importe com os meus garranchos daqui para a frente.

    Desde que coloquei os olhos em você, soube que ia ter problemas. Foi algo instantâneo, como se eu adivinhasse tudo o que viveríamos dali para a frente. Tive muitos problemas mesmo, mas nem um deles, nem unzinho, foi culpa sua. Como poderia ser? Você, com seus lindos caracóis (quase) sempre presos, sua pele escura, seus dentinhos com aparelho, seus patins e tombos (lembra quando você caiu no aniversário em que inventou de subir nos patins sozinha? Tive um princípio de ataque cardíaco naquele dia), suas provocações deliciosas que vinham na hora certa e me divertiam mais que qualquer outro passatempo, seu jeito único. Eu odiava gostar tanto de você, porque pensava que jamais seria correspondido. Assim, crescemos, nos desenvolvemos e ficamos com outras pessoas. Você, com mais do que eu, aliás. Eu achava que havia algo de errado comigo, porque, quando eu beijava alguém, não conseguia sentir nada. Não sei se você presenciou o que vou descrever a seguir, já que essa parte você confidenciava mais à Lua, mas é uma dor única quando se gosta de verdade de alguém.
    Além de ficante (ou seja lá o que somos agora), sempre considerei você minha amiga, mesmo que trocássemos poucas palavras além de as de ódio, pois sempre tive certeza do seu coração puro e da sua alma boa. Não pense que esse é o fim, pulguinha, pelo contrário: vamos continuar conversando, nos provocando como fazemos tão bem durante esses anos todos, e apenas seguir a correnteza. São seis meses, e mesmo que fossem dez anos, tenho plena noção de que nem a imortalidade me faria esquecer cada coisinha pequena que me fez apaixonar por você. Sei o quanto você vai fazer piada com isso, mas estou pronto para lidar com as consequências. Mesmo estando como estou, não quero que você se prenda à mim e à Lua nesse período, de forma alguma. Não serei egoísta, por isso peço que faça amizades e viva como nunca. Por favor.

    Aliás, lembro que fiquei devendo de te contar qual frase de Cosmos me lembrava você, e aí vai: "Algumas estrelas duplas estão tão próximas uma da outra que se tocam, e entre elas flui substância estelar". Esses somos nós, perto um do outro tanto fisicamente (por causa de nossas casas praticamente coladas) quanto mentalmente, com nossos jogos depreciativos um contra o outro. Você foi, durante esses anos infinitos, a minha estrelinha. E sempre vai ser, não importa o que aconteça, afinal, você é o meu primeiro amor, minha pulguinha, o meu lugar ao Sol.

    Tente não se esquecer do seu

Théonísio.


FIM.

Lugar Ao Sol | ✔️Where stories live. Discover now