Capítulo 4

209 15 1
                                    


Gabriela

Quando entramos no carro notei que Liv estava respirando com muita dificuldade, notei também que D. Maria Luiza estava entrando em pânico, depois de ter usado o inalador duas vezes e a respiração se tornar mais difícil, os lábios da garotinha começaram a ficar um pouco roxos, olhei em voltei para me localizar e vi que estávamos próximos a quinta da boa vista. Pedi imediatamente que o motorista se dirige-se para o hospital que eu sabia que tinha ali perto, com o trânsito caótico que estava levamos cerca de vinte minutos no percurso. Entrei no hospital com Liv nos braços informando na recepção que ela estava tendo uma crise de asma, chamei por D. Maria Luiza duas ou três vezes e ela ainda em estado de choque.

- MARIA LUIZA, você tem algum documento de Olivia com você?

Depois do meu grito ela saiu do transe abriu a bolsa pegando as carteiras de identidade dela e de Olivia, junto com a carteira do plano de saúde, entregando na recepção, fomos direcionadas diretamente a sala de medicamento, deitei Olivia na maca que estava ali e dei espaço para que Maria Luiza se aproximasse da filha que respirava ofegando com as pequenas mãozinhas no peito. Que pecado, uma menina tão pequena passar algo assim, o médico entrou em seguida auscultando os pulmões e perguntando o que havia acontecido, como percebi que minha chefe não responderia, mais uma vez, tomei frente a situação e contei o que tinha acontecido, do vento gelado, o cheiro e o carro que permaneceu gelado mesmo depois que pedi para o motorista desligar o ar. Ele pediu medicação intravenosa e colocou Liv no oxigênio, observei D. Maria Luiza segurando a mão da filha enquanto ela era furada e a máscara ia sendo colocada em seu rosto, por um momento me senti uma intrusa naquela situação. Sabia que precisava sair dali, mas algo não deixava, fiquei olhando quando Liv começou a fechar os olhos, sendo vencida pela medicação, sua respiração normalizando e entrando em um sono tranquilo.

- Perdi a conta de quantas vezes me vi nessa mesma situação, sabe?

Ouvi D. Maria Luiza falando baixa.

- Meu marido, ex-marido, que sempre tomava a frente nesses casos, eu paraliso, não sei como agir, o que fazer, sonhei tanto em ser mãe, sabe? Antes mesmo de me casar, eu sonhava com um bebê em meus braços e crianças brincando ao meu redor. Sou filha única e não queria isso para minha menina, queria que ela tivesse irmãos para brincar, implicar, brigar e amar. Meu medo de perde-la me paralisa, me deixa sem forças, sem saber como agir, obrigada pelo que fez hoje, você salvou minha filha e com isso me salvou também.

- Tenho certeza que a senhora iria reagir, só ficou um pouco abalada, cada pessoa reage de uma forma, quando vi os lábios de Liv ficando roxos, só pensei que ela precisava ser socorrida e foi isso que fiz. Eu conheço a dor de perder um filho, e sei como é esse desespero.

D. Maria Luiza me olhou, aquele olhar de pena, já vi esse olhar tantas vezes.

- Eu não sabia, como?

- Ele tinha um dois anos e nove meses, teria a idade de Liv hoje, minha esposa e eu o planejamos, o doador foi o irmão mais velho dela, eu engravidei, ele foi tão amado, tão querido, nasceu forte e saudável, grande. Sempre foi apaixonado por água, adorava as aulas de natação, eu sempre pedia que Tereza não esquecesse de fechar a piscina e mantivesse o portão fechado, ela dizia que era exagero meu. Um sábado ensolarado, aproveitei que ela estava em casa e saí com minha mãe para vermos os detalhes da festa dele de três anos, seria uma festa na piscina, de marinheiro, no meio das compras me senti mal, dor de cabeça, tontura, fomos para casa na mesma hora. Quando cheguei Tereza estava falando ao telefone, perguntei por meu filho, ela disse que ele estava dormindo no quarto, fui até lá mais ele não estava na cama, procuramos, gritamos por ele, perguntei se ela tinha fechado o portão. Corri para o quintal e vi meu filho boiando na piscina, minha mãe não aguentou perder o neto e se foi dois meses depois dele, partiu para cuidar do meu menino. Me separei de Tereza meses depois, não conseguia olhar pra ela, ouvir sua voz sem culpa-la pelo que tinha acontecido, não parava de pensar que se ela tivesse feito o que tantas vezes eu pedi, se ela tivesse ficado de olho nele como eu ficava. Hoje percebo que nada disso trará meu filho de volta, mas ainda assim não consigo perdoar, o nome dele era Theodoro, como meu pai, eu o chamava de Theo.

Maria Luiza

Eu não sabia o que dizer, Gabriela parecia tão nova para ter passado por tanta dor, eu não consigo imaginar minha vida sem minha filha, perde-la por negligência daquele que deveria cuidar dela, não sei se conseguiria suportar isso.

- Gabriela, não sei o que dizer...

- Não precisa dizer nada, só quis dizer que entendo que o desespero pode nos paralisar e está tudo bem D. Maria Luiza, a senhora é uma mãe incrível e Liv uma criança maravilhosa.

- Não me chama mais de Dona, por favor... Depois de hoje, podemos nos considerar amigas, não podemos?

- Acho que sim...

- Olivia quem me contou que pai estava me traindo, ela não sabia o que acontecia, em sua inocência me contou que ficava assistindo desenhos todos os dias pela tarde no quarto dela, enquanto a babá ajudava o pai a arrumar meu quarto. Um dia cheguei mais cedo do trabalho sem avisar, foi justamente o dia em que ela contava para ele que estava grávida e tinha certeza que teria um filho saudável, diferente da filha doente que ele tinha agora, meu coração se partiu, não tanto pela traição, mas por minha filha. Abri a porta e exigi que os dois saíssem da minha casa, ele ainda tentou dizer que não era o que eu pensava, mas só ignorei, quando cheguei ao escritório no dia seguinte fui desabafar com minha amiga e secretária, ela começou a se exaltar e dizer que ambas havíamos sido traídas, que eles eram amantes há anos.

Não sei por que me senti tão à vontade para desabar com ela dessa forma, meus pais já haviam partido, eu não tinha irmãos, depois do casamento me afastei da maioria dos meus amigos. O pediatra que atendeu minha filha entrou examinando-a novamente, fez algumas perguntas sobre o tratamento que ela fazia, os remédios que ela tomava, depois de auscultar novamente seus pulmões nos liberou para casa, Olivia acordou quando retiravam o acesso de seu bracinho, seus olhos brilhando quando viu que Gabriela continuava a seu lado.

- Tia Gabi, você ficou comigo?

- Claro minha linda, fiquei esperando você acordar para terminar de me contar sua teoria Miracolous.

- Eu tenho muitas teorias, você pode ir na minha casa? O meu quarto é da Ladybug e eu tenho todos os bonecos, a mamãe que me deu, eles são fofinhos, de dormir apertando.

- Você pode levar no escritório, cada dia leva um e eu conheço todos eles, o que acha?

- Ah, mas não vou poder levar minha cortina que tem a Marinete e o Adrien de um lado e a Ladybug e o Cat Noir de outro, mamãe a tia Gabi não pode ir na nossa casa, por que ela é sua escrava?

Vi como o médico e a enfermeira me olharam, e Gabriela ficar automaticamente vermelha.

- Liv, eu não sou escrava da sua mãe, sou funcionária, lembra que te expliquei a diferença?

- Ah, eu lembrei, mamãe paga um salário, aí você trabalha, trabalha e ganha e vai me dar um presente com esse salário.

- Olivia!

- Mamãe, tia Gabi que disse isso.

Decide que era melhor encerrar aquele assunto, peguei minha filha nos braços e saímos dali, Gabriela não aceitou minha carona dessa vez, chamei um carro pelo aplicativo para ela e peguei uma taxi levando uma Olivia adormecida pelos efeitos do remédio para casa. 

RecomeçoWhere stories live. Discover now