Capítulo 16

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Maria Luiza

Eu nunca havia me apaixonado por uma mulher antes, logo, eu nunca havia me relacionado com uma mulher antes, mas uma coisa eu aprendi nesses meses com Gabriela, namorar mulher bonita é muito complicado. Eu não quero ser a versão feminina de Otelo, ou a lésbica de Medeia, mas era quase impossível não sentir ciúmes da minha namorada. Eu tentava ignorar os olhares que ela recebia da maioria dos homens, e de algumas mulheres, mesmo porque ela nunca retribuía, muitas vezes não notava, o fato de ter sido traída no meu casamento poderia ter me tornado insegura, mas ela não permitia que isso acontecesse, sempre dava um jeito de me mostrar como apenas o meu olhar era importante pra ela, mas eu não ia deixar passar essa. Mesmo sentindo os dedos de Gabriela apertando os meus, não desviei os olhos de Paulo.

Olivia percebendo o clima já tinha levantado de sua cadeira e buscado o colo de Gabriela, que soltou minha mão para receber minha filha, ela só abria mão de mim pela minha filha e eu ficava muito feliz por isso.

- D. Maria Luiza, só fiz um comentário sobre a senhorita Gabriela passar tanto tempo fora da cidade, não foi minha intenção ofendê-las de forma alguma.

- Que isso não se repita, não quero saber de assédios dentro da minha editora, se eu imaginar que algo assim voltou a acontecer, além de uma demissão por justa causa, você terá uma denúncia a polícia, estamos entendidos!

- Não vai se repetir.

Chegando ao hotel, coloquei Olivia para o banho, ela dormiria entre nós, não seria a primeira vez, desde que soubemos dos planos de Henrique, muitas vezes Gabriela caiu no sono na cama da minha filha ou deitou com ela em nossa cama e não me permitiu que a carregasse para a cama dela, acabávamos dormindo as três na cama.

Eu havia conseguido o divórcio, antes de descobrir o plano dele eu não fazia questão de nada, mas depois, tirei dele tudo que me pertencia, ele ficou falido, nunca fez questão de trabalhar. O detetive que contratei me dava relatórios intercalados dia sim e dia não, recebi o último ontem, ele está morando em uma casa que não pode pagar, alugou contando com o dinheiro que ganharia de mim, grande com piscina e área gourmet e ontem a ex-babá tinha se mudado indo morar com ele, ela ia ter que cuidar de muitas crianças para bancar aquele estilo de vida, nunca gostou de trabalhar, no primeiro deslize dele eu o pegaria, ele iria para a cadeia e nunca mais sairia de lá.

Saí do banheiro e vi minhas meninas deitadas na cama, Gabriela passava as mão nos cabelos de Liv enquanto a ouvia falar sobre o filme que queria assistir e só estavam me esperando para isso, adorava como as duas interagiam, como Gabi primeiro conquistou minha filha antes de mim, eu nunca ficaria com uma pessoa que não tratasse minha filha bem, mas minha namorada amava loucamente a minha filha e eu ficava indescritivelmente feliz com isso.

- Vem amor, vem ver filme com a gente! – Gabi me viu antes de Olivia

Liv se aconchegou mais a Gabi, que colocou a mão por cima dela a abraçando, pude ver nossa pulseira de compromisso, ela nunca tirou desde o dia que a coloquei ali, deitei no espaço que havia sido liberado para mim.

- Vem mamãe, deita que tia Gabi deixou eu fazer festa do pijama com vocês hoje.

Deitei e entrelacei meus dedos os da minha namorada, Olivia assistiu exatos 25 minutos de filme e apagou completamente, meus olhos se prenderam em de Gabriela que estavam marejados enquanto os dela não saiam da nossa menina adormecida.

- Desde aquele dia eu não tenho uma noite de sono tranquila se ela não estiver entre nós. Malu, a dor de perder de um filho é... Eu não tenho palavras para dizer o que é essa dor, é como se eu pedaço da sua pele se soltasse e você precisasse viver todos os dias com essa feriada aberta, e ao contrário do que pensam, ela não diminui com o tempo, ela está aqui o tempo todo. A gente só aprende a lidar com ela e viver com essas lembranças boas. Todos os dias eu imagino como seria se meu menino não tivesse partido, ele teria a idade da Liv, talvez estivesse aqui entre nós ou talvez eu nunca tivesse me divorciado e conhecido vocês, mas quando penso nessa segunda hipótese me dói tanto. Eu não quero que você sinta essa dor e eu não posso, não consigo passar por isso de novo, eu não vou saber lidar com essa dor de novo, ela vai me consumir, se acontecer alguma coisa com a minha menina, eu vou partir junto com ela.

- Ei, calma! Não acontecer nada com ela, te prometo! Nós estamos aqui, ela está cuidada e protegida. E se uma mãe vira leoa pela segurança do seu filhote, imagina o que duas não serão capazes de fazer.

E ela sorriu, tão linda que não parecia estar tão desesperada uns segundos atrás.

- Tive a impressão de estarmos sendo seguidas hoje, quando entramos no hotel, não quis falar na frente dela, ela sente que tem alguma coisa errada, só não sabe o que. Pode ter sido besteira da minha cabeça, mas acho que vi um carro parando do outro lado da rua quando chegamos e tenho quase certeza que era o mesmo carro que vi na porta do restaurante depois do almoço. Eu sei que vim até aqui como secretária, mas queria ficar mais tempo aqui com Olivia, você pode pedir para alguém entregar os documentos que preciso analisar no saguão, eu pego e vejo no quarto, eu posso ficar o tempo todo de olho nela. Podemos dar a desculpa do tempo, aqui faz mais frio que no Rio, ela precisou usar o inalador três vezes hoje.

Eu não sabia se isso fazia parte do desespero de Gabi ou se estávamos realmente sendo seguidas, mas não posso arriscar, entre o sim e o não pela segurança de Olivia presaríamos sempre pelo excesso.

- Amanhã eu mando entregar os documentos, você fica aqui com ela, vou ficar de hora em hora e se você sentir que tem qualquer coisa errada me liga e eu venho para casa imediatamente.

- Sim, pode deixar meu amor! Sabe, eu adorei ouvir de você que me sente como mãe da Liv, porque é a forma como me sinto também, cada dia que passa sinto isso um pouco mais forte.

- Eu sei, vejo nos seus olhos e na forma como cuida dela.

- Será que ela sente assim? Que ela sabe como a amo?

- Claro que sente, as vezes acho que ela vai te chamar de mãe.

- Eu nunca fui chamada de mãe, se ela fizer isso meu coração vai sair pela boca.

- Seu filho não te chamava de mãe?

- Não, ele me chamava de Bi, antes de você e Liv, só minha mãe me chamava de Gabi, e ele aprendeu, a Tereza era mama, eu sempre dizia pra ele: a mamãe chegou, vai com a mamãe. Mas ela não fazia o mesmo, eu até tentava ensiná-lo, acho que uma hora ele iria acabar me chamando de mamãe, mas ele partiu antes disso.

- Você é uma mãe incrível para Theo e para Liv.

- Vou ser a melhor mãe do mundo para nossa menina, uma tão boa quanto você.

- Você já é..

RecomeçoWhere stories live. Discover now