Capítulo 15

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Gabriela

Mesmo sabendo que eu não tinha culpa alguma sobre o que conteúdo dos envelopes, não conseguia parar de pensar no que teria acontecido a Olivia se eles tivessem conseguido alcançar aqueles objetivos, se eu não conseguia perdoar Tereza pelo acidente com meu filho, não conseguia imaginar o ódio e a revolta de Malu com o ex-marido.

Ela não queria mais justiça, queria vingança e mesmo entendendo que essa não é a forma que as coisas precisam ser resolvidas, não deixava de compreender o lado dela que precisa disso para saber que fazia alguma coisa para proteger a própria filha, eu não estava muito atrás dessa situação, eu também faria qualquer coisa para proteger minha menina. E foi exatamente por isso que praticamente me mudei para o apartamento de Malu.

De posse de todos os documentos minha namorada voltou a delegacia no mesmo dia e prestou uma nova queixa, mas como não havia nenhum crime praticado ainda, não podiam fazer muita coisa, apenas chama-los para esclarecimentos. Afinal, segundo o delegado, não se pode prender alguém pelo que não se fez, pois a qualquer momento ele poderia mudar de ideia, afinal é o pai, uma verdadeira piada na minha opinião. Graças aos céus o juiz não pensou da mesma forma e nos deu uma ordem de restrição. Henrique não pode se aproximar de Liv, nem da escola, da editora do Rio e São Paulo e muito menos do apartamento de Malu, o infeliz nem se deu ao trabalho de comparecer as audiências de divórcio e guarda, essa que ele mesmo solicitou.

Decidimos que o ideal seria trocarmos Olivia de escola, uma mais próxima a editora e que ele não sabe onde fica, com a ordem de restrição ele fica totalmente impedido de buscá-la e a escola pode acionar a policia caso ele se aproxime.

Como Malu e eu precisávamos vir a essa viagem e nenhuma de nós duas se sentia à vontade em deixar Liv com ninguém, inclusive a babá foi demitida no mesmo dia e nos revezamos nos cuidados com ela. Saímos do aeroporto e viemos direto ao escritório da editora em São Paulo, um pouco menor que o nosso, mas tão bem organizado quanto. Malu teria algumas reuniões e eu precisava organizar alguns documentos. Fomos direto para a sala dela, Olivia como sempre com uma de nós.

- Dona Maria Luiza, você tem uma reunião daqui uns 20 minutos, vou com a Olivia para sua sala e vou verificar como anda o lançamento e tarde de autógrafos para do livro infantil.

- O meu livro, mas eu não vou dar autografo, porque só o autor faz isso.

Rimos olhando pra ela, Liv estava chateada desde que soube que os autógrafos não seriam distribuídos por ela.

- Posso saber quando deixei de ser amor e voltei a ser dona Maria Luiza?

- Desde que pisamos aqui, no Rio todos me conhecem e sabem da minha capacidade, diferente daqui, não vou ficar conhecida como a namorada da chefe, me entende?

- Entendo, mesmo sabendo que não faz sentido.

Malu se abaixou até ficar da altura da nossa pequena.

- Mamãe vai para uma reunião e você vai ficar quietinha com a sua madrasta, tudo bem?

- Sim mamãe.

- Não esquece de cuidar dela.

- Eu cuido mamãe, muito bem!

Depois de duas horas aguardando, finalmente Malu terminou a reunião, eu consegui organizar toda a divulgação e os preparativos para o lançamento do livro, estava agendando os últimos detalhes quando minha namorada entrou na sala acompanhada por duas mulheres e um homem.

Olivia foi correndo em sua direção, Malu a pegou no colo e a apresentou as pessoas presentes, ela adorava essa atenção, quando foi me apresentar me adiantei e fiz isso eu mesma, informando apenas que era secretária, ocultando nosso relacionamento.

Chegamos acompanhados dos convidados ao restaurante, minha enteada como sempre fazia questão de estar entre nós duas, acho que é a forma que ela encontrava de se sentir segura, mesmo sem dizer o que estava acontecendo, nem conversarmos perto dela, no fundo ela sentia que nossa proteção havia aumentado.

- Então Gabriela, seu marido ou namorado não se importa que fique tanto tempo longe, afinal, uma semana em outra cidade, uma mulher tão linda quanto você.

A forma que os homens têm de perguntar se somos solteiras beira o ridículo, as mulheres que estavam com eles riram, mesmo sem dizer em palavras elas perceberam que Malu e eu éramos um casal, detalhes sutis que os homens ignoram, coisas como a mão dela nas minhas costas, o fato de Liv ter vindo direto para o meu colo no elevador quando começou a demonstrar sinais de cansaço, Malu pegando minha bolsa, detalhes que homens ignoravam, principalmente ele que estava mais preocupado em olhar minha bunda.

- Tia Gabriela não tem marido, nem namorado ela é minha madrasta e não pode mais deixar de ser, por que ela me prometeu e eu sou o amorzinho dela, então ela não pode desfazer uma promessa. E a mamãe disse que ela não pode namorar com mais ninguém porque já namora com ela, não é mamãe?

Liv falou tudo em um fôlego só sem tirar os olhos da taça de sorvete que eu deixei que ela pedisse depois do almoço, outra coisa que pode ter nos entregado as mulheres à mesa. Quando ela pediu o sorvete, Malu negou e ela automaticamente me pediu, e eu permiti recebendo um olhar de recriminação e ofertando um sorriso, não sei quem eu queria enganar era impossível não saber que sou apaixonada por essa mulher.

Ele ficou nos olhando como se quisesse entender se minha enteada estava falando a verdade ou se era imaginação da menina. Passei a mão pelo rosto dela, depois peguei um guardanapo e limpei a boca um pouco suja de sorvete.

- Isso mesmo meu amorzinho, sou sua madrasta para sempre, porque namoro a sua mamãe e porque amo você.

- Eu também amo você tia Gabi e você é a melhor madrasta do mundo, até me deixa tomar sorvete, só não me deixa dar autografo.

Ela nunca ia me deixar esquecer que não deixei que ela desse autógrafo, me virei para Malu com olhar pidão.

- Quem sabe não podemos falar com Gisele, talvez ela deixe a Liv assinar um ou dois livros...

- Você está deixando essa monstrinha muito mimada. Minha filha, já conversamos sobre isso, somente os autores dão autógrafos, os editores dos livros não.

- Mamãe, minha madrasta é muito mais legal que você. Eu trabalhei muito hoje, não trabalhei tia, conta pra mamãe que eu trabalhei e que você disse que eu sou muito inteligente.

- Eu disse porque você é mesmo. Amor, Liv teve uma ideia maravilhosa para o lançamento do livro.

Comecei a falar esquecendo das outras pessoas na mesa.

- Como o livro fala sobre princesas que se salvam sozinhas, no lançamento nós vamos levar um monstro para as meninas derrotarem com espadas de plástico, nós vamos distribuir de todas as cores, não somente as cores conhecidas como para meninos, vamos ter espadas estilosas.

- Minha filha, que ideia genial. Você não achou uma ideia genial Paulo?

Vi o homem engolir a seca, ele espera que a cantada que me deu passasse despercebida pelos comentários de Liv.

- Sim, dona Maria Luiza, uma ideia brilhante Olivia.

- Uma ideia que poderia, e deveria, ter partido de você já que o gerente de marketing, mas como passa mais tempo dando em cima de mulheres do que prestando atenção aos nossos lançamentos, deixa essas coisas passarem despercebidas. Um dos principais motivos que me levou a vir até São Paulo, ante do seu antecessor se aposentar não nossas vendas em datas de lançamentos, tardes e noites de autografo eram 35% mais altas do que hoje. O que me diz sobre isso?

RecomeçoWhere stories live. Discover now