1|Duas semanas e nós duas!

5.8K 486 1.2K
                                    


Certa vez, li em algum lugar que ser tímido em relação a uma pessoa é confessarmos a nossa inferioridade perante ela. Mas tal receio de lhe desagradar, mesmo lisonjeando-a, não a obriga a simpatizar conosco.

Claude Crébillon Fils tinha razão quando disse tais fatos. Percebo isso entre todos os minutos do meu dia, quando tento não desagradar alguém ou dar uma primeira impressão errada, ou que sugira que eu seja o que eu não sou. Não gosto de pensar que alguém tenha um pensamento medíocre de minha pessoa.

No entanto, não consigo fazer nada para mudar.

Quando eu era pequena, minha mãe sempre me dizia para fazer amigos, o tempo inteiro. Era como se eu tivesse que viver para ser amiga de alguém, desejando a todo tempo que eu estivesse brincando de boneca com qualquer vizinha da minha idade. Mas isso nunca aconteceu, então meus pais achavam que eu tinha algum problema; eu era quieta demais e mal conseguia conversar com alguém da minha idade. Eles me levaram ao psicólogo quando eu tinha sete anos, eu não tenho nenhum problema, mas possuo a timidez.

Exatamente! Aquela que todo mundo acha fofo a forma como a pessoa fica envergonhada ou vermelha em qualquer situação.

Porém, para mim não era bem assim, não. Existe uma grande diferença entre ser tímida e ter vergonha; descobri isso aos doze anos, quando a Dra. Jisoo me explicava sobre as situações que eu tinha que conviver, essas que para mim, pareciam ser dez vezes mais desafiadoras do que para uma criança de doze anos extrovertida.

— Quando veio aqui pela primeira vez, você estava bastante quieta e silenciosa, como se sentia em relação a isso?

— Eu...tinha medo do que você iria pensar, tia Soo. — Jisoo, ao longo das sessões de meses, se tornando anos, me fez chamá-la de tia, ou qualquer coisa que me fizesse sentir confortável ao dizer — Tive calafrios e borboletas na barriga quando mamãe me disse que eu teria que falar com alguém desconhecido. Meu coração batia tão rápido quanto as asas de um beija-flor. Eu sempre fico assim. Sempre! Eu não sou normal igual as outras crianças da minha escola, tia Soo. Por que eu sou assim?!

Jisoo me disse que eu tinha timidez, que era uma característica minha, que sentimentos como aqueles apareceriam em muitas ocasiões, mas que eu poderia amenizar, fazendo terapias e tentando mudar minha forma de me comunicar e socializar com o mundo. Resumidamente, aos dezessete anos, no último ano do ensino médio, eu, Son Chaeyoung, preciso fazer alguma coisa para mudar minha situação.

Outra coisa sobre a timidez que eu descobri, era o fato dessa característica me tornar totalmente invisível aos olhos dos meus colegas de classe, mesmo que eu já estudasse ali na mesma sala a mais de dois anos. Sempre escutava entre cochichos as vezes, quando o professor chamava meu nome, um "quem que é Son Chaeyoung?" vindo de algumas meninas do fundo. Tentava ignorar, mesmo que meu coração palpitasse em desespero para não ser o centro das atenções. Não queria isso, jamais!

Me aceitar como um completo fantasma na minha classe não foi tão difícil, era só sentar na primeira fileira, onde ficaria perto e acessível ao professor caso eu precisasse perguntar algo, e seguir todas as aulas em completo silêncio escutando aquele rotineiro barulho de adolescentes conversando sem restrições de palavras.

Vagando no meu próprio universo.

Era exatamente essa situação que eu me encontrava agora; olhando para a louça branca, enquanto a sala era preenchida por vozes altas e algumas conversas obscenas. Meu coração palpitava normalmente, minha perna não estava inquieta com as supostas cargas de emoções, meu estômago não se embrulhava, minha mente era um barulho alto, apesar do silêncio que saia da minha garganta.

Duas semanas e nós duas | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora