4|Girassóis, lista de desejos e luto

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Durante a minha quarta sessão com a Dra. Jisoo, lá quando eu tinha uns 13 anos, ela me deu folhas e lápis, e pediu pra que eu desenhasse o que eu estava sentindo, porque eu vivia uma fase ruim.

O luto.

Primeiro eu só queria ir embora, deitar na cama e chorar pelo resto da semana, mas Jisoo conseguiu me convencer a fazer algo, dizendo para rabiscar exatamente como eu me sentia por dentro.

Sentimentos pra mim sempre foi um tabu, demonstrar ele é completamente estranho, eu não consigo. Entro em transe, fico tensa, nervosa e nada nunca sai. Acho que, de fato, a pior parte de ser tímida é isso.

Me desmanchei em lágrimas e lápis preto carvão na folha branca, o desenho não tinha traços leves e suaves, pelo contrário, eram traços fortes, grossos e borrados. Primeiro a parte do tronco de um corpo sem cabeça, a cabeça na verdade era apenas um bolo de linhas sem nexos rabiscadas fortemente. Era tudo aquilo que eu estava sentindo, sentimentos fortes, grossos e borrados, do mesmo jeito que o lápis riscava a folha.

Quando eu voltei pra casa naquele dia, fiz aquele mesmo desenho várias vezes, espalhando as folhas riscadas pelo meu quarto. E dali em diante, prometi a mim mesma que só iria desenhar coisas que remetesse à felicidade, porque era somente o que eu queria naquele momento.

E da mesma forma, estou eu aqui sentada na varanda do hotel, o meu caderno de desenho e minha maleta de lápis em mãos. Os traços eram leves e suaves dessa vez; o tronco do corpo, os fios dos cabelos escuros, os lábios em um sorriso verdadeiro, os olhinhos espremidos pela felicidade.

Eu desenhava Mina, lembranças do que eu tinha de ontem, quando estávamos rindo muito no parque.

Inclusive, várias fotos foram tiradas, nós rimos pelo resto da tarde e conversamos a noite toda até cair no sono.

Sonhei com Mina.

Sorri boba enquanto me lembrava disso, voltando a rabiscar os fios de seus cabelos. Direcionei meu olhar para o meu pulso, olhando as horas no relógio preto que eu tinha ganhado da minha mãe no ano passado.

10:57

Eu e Mina decidimos que só iríamos passear pela tarde, já que dormimos tarde, acordamos quebradas fisicamente e mentalmente, então descemos como duas zumbi para tomar café e depois voltamos ao quarto para dormir mais. Acordei dez horas da manhã e não encontrei Mina na cama dela, até ver sua mensagem no meu celular anunciando que tinha ido a uma loja com Sana e que voltaria antes do almoço. Por esse motivo peguei meu caderno, que eu trouxe em meio as minhas roupas, e a maleta de lápis de desenho, desenhando para passar o tempo, sentada na poltrona confortável que tinha na varanda.

— Chaeyoung? — Dei um pulo no lugar ao que a voz de Mina chamava lá no quarto, fechei rapidamente o caderno, colocando as coisas debaixo da almofada e me levantando. — Chaengi, já cheguei.

— Oi, Minari — Atravessei a porta da varanda, fechando no processo para que ela não ultrapassasse.

Mina, entretanto, franziu o cenho e apontou para fora.

— O que estava fazendo?

— Eu? Nada, estava só olhando a paisagem. Acabei de acordar, onde você tava?

Mudei de assunto e agradeci mentalmente pela pergunta ter surtido efeito quando seus olhos brilharam e seu sorriso cresceu no rosto.

— Uh, eu e Sana fomos a uma loja aqui perto. Tem várias coisas legais, Chaengi, você tem que ver — pegou uma das sacolas, que eu não tinha notado que ela segurava, e abriu, procurando alguma coisa lá dentro — Eu trouxe uma coisa pra você.

Duas semanas e nós duas | MiChaengDonde viven las historias. Descúbrelo ahora