Conto 3 - Capítulo 1

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Conto 3 

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Conto 3 

Capítulo 1: São Paulo, 20 de dezembro de 2020  

Respirava incessantemente com raiva, muita raiva. Como eu poderia deixar que fizessem aquele tipo de coisa comigo, contava números para me acalmar. Para mim era difícil lidar com a raiva, na verdade era difícil lidar com tudo, ora depressiva, ora animada, ora irritada, sempre acima de algum limite, as emoções apenas vinham de forma destruidora, emoções impetuosas, fora do controle eu me sentia. Claro que muitas pessoas me sugeriram que isso era exagerado demais para ser incontrolável, convivi com isso por tanto tempo, que quando meu médico resolveu que eu precisaria fazer algo para entender o que realmente estava acontecendo e ver o que significavam as oscilações de humor. Eu simplesmente neguei a necessidade.

Logo depois de uma crise, olhava minhas mãos cheias de sangue, eu havia feito aquilo comigo mesma, soquei o primeiro objeto que vi pela frente, não pensei, agi, o médico do pronto socorro havia me dito que minha mão ficaria bem, entretanto, aquilo não era normal. Eu deveria procurar um psiquiatra e fazer exames.

O que acontece é que naquele dia, eu me excedi por conta do meu trabalho, estava cansada de carregar tudo sob minhas costas, tinha de fazer tudo por aqueles imprestáveis, nem na minha folga eu tinha paz, é um saco ter que trabalhar quando na verdade você tinha que descansar ou fazer qualquer outra coisa que não fosse trabalhar, eu me questionava o motivo de terem pessoas tão sanguessugas a esse ponto, por que as pessoas são obrigadas a trabalhar 24 horas por dia? — sim este é um exagero da minha parte — mas nunca entendi o motivo de fazer outras pessoas trabalharem como condenadas quando na verdade o que deveria ser normalizado é o descanso, as pessoas precisam entender de uma vez por todas que há momento para tudo e que não deveriam ser tão invasivas. Naquele dia não havia sido somente isso que tinha me irritado. É só que uma hora a gente transborda, por guardar, guardar algo que era demasiado. Em contraposição, eu me sentia por inúmeras vezes perdida, cansada e sem algo que me fizesse bem, outras vezes parecia ter tudo em mãos, diria até que imersa em euforia, outras a raiva.

Perguntava-me se a raiva que eu sentia era apenas por viver naquela sociedade, por me sentir perdida, sem rumo, conformada, era só que algo não estava certo, nada estava certo para ser sincera, por que é tão difícil sentir que fez parte de algo que valesse a pena, parecia muito caótico e agonizante, talvez fosse esse o motivo principal da raiva, saber que nada daquilo era realmente de meu interesse, às vezes me via como um recipiente vazio, vazio ou enterrado, sob aquilo que outros ditavam e ainda poderia estar doente.

— Tem certeza?

— Sim, o melhor é que você passe em uma consulta e faça alguns exames com um psiquiatra.

— Tudo bem.

Disse apenas escondendo a raiva que ainda estava dentro de mim, ele sugeriu que eu era uma louca? Ora, todos não somos loucos de algum modo? Mesmo duvidando da efetividade de toda aquela palhaçada eu decidi que passaria no psiquiatra, decidi também que um psicólogo ou psicóloga, me ajudaria com o vazio que sentia, mas não só isso, com o caos que eu ignorava dentro de mim. A única coisa que me deixava bem, ou melhor, que me dava algum alívio em meio aos pensamentos rápidos, perdidos ou enevoados era escrevê-los em um diário — hábito adquirido ainda em minha adolescência de dias difíceis — me perdia nas páginas, mesmo que posteriormente eu as rasgasse, queimasse extinguindo-as da existência, como um passado se dissolvendo entre chamas, era o consolo que eu poderia me permitir.


NOTA DA AUTORA

Pessoal, aqui é a Thamy só para pedir que não se esqueçam de votar nesse capítulo, compartilhar e comentar para ajudar as escritoras a se motivarem, e  aproveitem para acompanhar semana a semana, pois quando os contos forem encerrados o livro não ficará disponível na íntegra por muito tempo. 

Espero que estejam gostando e refletindo sobre. 

Beijos de luz. 

Diário das Ex-Intensas: o lado da intensidade que ninguém conta.Where stories live. Discover now