Divina comédia

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Draco Malfoy

O batuque constante dos dedos martelando o metal.

Em uma música nunca ouvida por ninguém, mas que preenchia aquele ambiente silencioso.

O tinido do metal tão agudo parecia ressoar na minha cabeça em um interminável ciclo.

Tinha aquele sentimento de que se eu tentasse poderia deslizar meus dedos sobre aquela massa grossa de ansiedade que rondava ao nosso redor.

Nenhuma palavra foi dita, mas mesmo à distância eu conseguia identificar aquele sentimento que te coça dos pés à cabeça, aquele sentimento que parece não desgrudar, aquele sentimento que às vezes você o esquece, isso até ele aparecer com ainda mais força.

As madeixas ruivas estavam a ponto de serem arrancadas de seu coro cabeludo.

Essa agonia sequer sentida por mim começava a me incomodar.

Incomodou tanto que chegou em um ponto que eu não conseguia mais ignorar.

— Beleza, já chega — ditei enquanto largava o livro que eu tentava ler, mesmo que com esse clima eu não tenha conseguido sair da mesma linha a alguns minutos. — O que foi? 

O ruivo que antes caminhava de um lado para o outro na cela parou abruptamente, olhando para mim como se finalmente percebesse que eu estava ali.

— O...que?

— “O que?” digo eu, tá andando pra lá e pra cá feito uma barata chapada de inseticida — comentei enquanto me sentava na cama. — Se eu te ver andando mais uma vez eu vou até aí e quebro suas pernas.

Ele só revirou os olhos antes de se jogar na minha cama de barriga pra cima, se esticando. 

Parecia finalmente cansado de tanta caminhada.

— Só tava pensando..

— Não me diga — debochei e ele revirou os olhos mais uma vez.

— Eu só estava pensando se eu tomei a decisão certa — o observei dar de ombros. — , mas acho que cheguei a conclusão que nunca vou saber.

— Se já chegou a essa conclusão sozinho, então porque continua rodando por aí que nem um carrossel? É plena madrugada, não poderia surtar em horário comercial?

— Não é como se você tivesse dormindo de qualquer forma — ele pontuou, mas resolvi ignorar. — É que eu não tenho certeza e já que você não tá fazendo nada…

Assim que começou a tentar barganhar, levantei o livro exageradamente na direção do meu rosto, a fim de ignorá-lo.

Ele foi bem rápido em tomar o livro da minha mão com o rosto fechado em desagrado com a minha audácia de esquecer propositalmente da sua existência.

— EI! Meu livro — exasperei.

Existem prioridades, meu livro é uma delas.

— Ás vezes eu esqueço como você é um amor — disse sarcástico.

— É, eu sei. Me fala logo o que você quer e me devolve meu livro.

Suas reviradas de olhos foram tão longas que eu poderia apostar que seus olhos nunca mais voltariam ao normal.

— Bem, se você soubesse de uma coisa e essa coisa envolvesse outra pessoa… — o ruivo parecia se enrolar a cada vez que dizia uma nova palavra.

— Essa coisa que envolve outra pessoa me afetaria diretamente?

— Bom, não exatamente…

— Então não me importa, pode devolver meu livro?

Drarry is the new black Onde histórias criam vida. Descubra agora