Capítulo Quarenta e Dois

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 As sessões no tribunal tinham começado, e havia mais trabalho do que nunca no escritório para Lena e Lucy. O sr. Olsen estava trabalhando em dois casos de divórcio, uma disputa de terras, um processo de indenização resultante de um acidente de carro, e estava defendendo um habitante local acusado de homicídio.

 Mal acabava de pesquisar um, Lucy começava outro. A disputa de terra envolvia uma complicada pesquisa junto à administração municipal à procura de título e mapas. Um dos divórcios incluía alegações de abuso sexual e isso requeria o depoimento do médico de plantão que atendera a criança; o sr. Olsen se ocupara disso, naturalmente, com a estenógrafa do tribunal. Mas a cargo de Lucy tinham ficado os dados médicos, o depoimento de um psicólogo e a verificação da ficha criminal do marido.

 O acidente de carro significava mais pesquisas nos arquivos policiais e entrevistas com testemunhas potenciais, e só o caso de homicídio parecia ser um trabalho de tempo integral.

 Lena não invejava a função de assistente jurídica da jovem. Lucy tinha frequentado cursos noturnos numa faculdade próxima, e agora estava recolhendo os benefícios. O sr. Olsen já tinha aumentado seu salário e ela vinha se ocupando de assuntos que Lena sequer conhecia. Era uma coisa boa, pensava a morena, que ela não tivesse querido fazer esse estágio. Com sua quase certa gravidez, não iria poder trabalhar por muito tempo mais. Sabia que Kara iria insistir para que ela ficasse em casa nos últimos meses da gravidez. Secretamente, ela também queria isso, queria ter tempo para planejar as coisas, comprar mobília e preparar o quarto do bebê. A morena sorri, pensando na expressão de Kara quando lhe contasse a novidade.

 — Eu disse — o sr. Olsen interrompeu seus pensamentos gentilmente — que receio que tenham de fazer algumas horas extras esta semana, você e Lucy. O tribunal cível está a mil e o tribunal superior vai ser convocado na semana que vem. Não temos muito tempo para pôr nossos casos em ordem.

 — Não me importo — Lena assegurou-lhe. — Kara está fora da cidade portanto, não tenho nada para fazer à noite.

— Azar o dela, sorte a minha.— O advogado sorriu. — Obrigada, Lena. Não sei o que faria sem você. Tenho de correr até o tribunal e depois vou almoçar no Café Carsons. Estarei de volta lá pela uma.

— Ok, patrão.

 Ele ia saindo pela porta quando se chocou com Lucy, que entrava apressada. Segurou-lhe os braços para equilibrá-la, e ela apoiou as  mãos no peito dele para não cair. Eles se olharam e ficaram como que congelados, um quadro que Lena achou particularmente comovente.

— Você está bem? — James Olsen perguntou à jovem. 

 Os lábios cheios de Lucy se entreabriram.

— Sim — respondeu. Não ergueu os olhos, e estava ruborizada.

 As mãos dele se contraíram por um minuto, depois a soltaram.

— Tenha cuidado —  disse em voz baixa, e sorriu. —  Não quero que se machuque.

—  Sim, senhor —  murmurou Lucy roucamente.

 Deixou que o olhar fitasse sua boca por um longo minuto, depois saiu, franzindo a testa e impaciente como sempre.

 Lena precisou esconder o sorriso. Depois de brigarem como cão e gato, aqueles dois tinham se tornado tímidos, reservados e desconfortáveis um com o outro. Lucy efetivamente parecia vibrar cada vez que o patrão entrava na sala, e seu rosto se acendia como um anúncio de neon.

—  Eu, hum, tenho algumas notas para digitar —  disse, hesitantemente.

 Lena sorriu.

—  Vou sair e comprar nosso almoço. O que você quer?

—  Salada de atum, biscoitos de água e sal e chá gelado. E, obrigadíssima! Amanhã vou eu. —  Lucy deu um sorriso.

—  Feito. Não me demoro. Defenda o forte.

 Lena dobrou a esquina até a loja e encontrou Sam, debruçada sobre o balcão de cartões.

 —  O que está procurando? —  perguntou à cunhada em tom conspiratório.

 Sam riu, os olhos azuis-acinzentados se acendendo.

— Um cartão para minha maravilhosa esposa. O aniversário dela é daqui a duas semanas — ela lembrou Lena.

—  Como poderia esquecer, se estamos preparando a festa dela? O que me faz lembrar que eu deveria ter chamado você a dois dias para combinar os preparativos. Mas estive ocupada... —  Ela ficou vermelha. O que tinha acontecido era que Kara  a tinha derrubado no tapete quando a morena pegara o telefone para ligar para Sam, e nada mais fora feito pelo resto da noite.

—  Imagino que tudo esteja indo bem em casa — Sam falou, reparando no rubor de Lena. — Alex diz que  Kara fica sentada sonhando no posto em vez de trabalhar, e que tem uma fotografia sua na mesa dela para a qual fica olhando o tempo todo.

 Lena riu, encantada.

— É mesmo?

—  Vocês, recém-casados... —  Sam sorriu. —  Fico contente que tudo esteja se arranjando. Eu sabia que daria certo. Vocês duas sempre foram metades iguais de um todo; Até Lex notou isso na noite em que você e Kara dançaram a quadrilha.

 Lena enrubesceu.

—  Nunca imaginei que fosse dar tão certo assim —  ela confessou. —  Nunca fui tão feliz.

—  Imagino que Kara sinta o mesmo. — Estudou o rosto de Lena curiosamente. — Por que ainda continua trabalhando? Não gostaria de ficar em casa?

— Bem, achei que não seria correto simplesmente ir embora e deixar o sr. Olsen — Lena confessou. — Lucy Lane está se saindo muito bem e, mais dia, menos dias, irei para casa. Só queria experimentar minhas asas. Nunca fui independente antes. É divertido.

— O casamento também —  Sam sorriu. —  Estou me divertindo bastante apenas como dona de casa, por mais que isso soe como uma traição, vindo de uma mulher moderna. Foi Lucy que vi na janela esta manhã? — acrescentou. — A persiana estava abaixada, mas estava escuro e havia uma luz atrás dela. Ela estava debruçada sobre o sr. Olsen. Ela se parece muito com você. Talvez não pessoalmente, mas suas silhuetas são mesmo parecidas.

— Provavelmente porque ambas temos os cabelos compridos, somos baixas e esbeltas —  disse Lena. —  Mas ela tem um fraco pelo patrão e, aqui entre nós, acho que é mútuo. Começaram por se odiarem. Agora estão no estágio de pigarrear e não saber onde pisar.

—  Adivinha qual será o próximo passo —  Sam disse maliciosamente.

 Lena riu baixinho, desviando os olhos. 




Aprendendo a Amar (Karlena) G!PWhere stories live. Discover now