Capítulo Quarenta e Sete

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— Que diabo foi aquilo? — Kara perguntou quando estavam temporariamente fora do alcance dos outros, a caminho da elegante sala de jantar.

 Lena ignorou a pergunta.

— Como se atreve a convidar aquele homem para vir aqui? Como ousa trazê-lo para nossa casa depois da forma como ele se deixou usar pelo meu pai para nos afastar?

— Queria verificar se tinham sobrado algumas brasas no fogo — a loira disse com um sorriso frio.

— Brasas? — Respirou agitadamente — Sorte a sua eu não o ter matado. Lamento não ter feito isso.

— Que gênio, que gênio.

— Pode ir para o inferno, Kara, querida — disse com um sorriso tão gélido quanto o da loira. — E leve seus humores, seu gosto por vingança e seu coração frio com você.

 Os olhos azuis se estreitaram.

— Ainda se agarrando à história de que seu pai a obrigou a terminar comigo?

—Por que não pode acreditar em mim?

— Muito simples — respondeu, enquanto os convidados enchiam a sala. — Foi o dinheiro de seu pai que tirou o posto de engorda da falência. Ele pagou toda a maldita divida. — Seus olhos registraram o choque que a morena sentiu. — Surpresa? Não parece o gesto de um homem que quisesse nosso rompimento, não concorda?

 Lena achou que seu coração fosse parar de bater. Agarrou-se às costas de uma cadeira e quase caiu, para surpresa de Kara.

— Aqui, sente-se, pelo amor de Deus —disse entre dentes, ajudando-a a se sentar. — Você está bem?

— Não, não estou. — A morena riu trêmula.

Sam, notando a súbita palidez de Lena, sentou-se rapidamente a sua frente.

— Posso fazer alguma coisa? — murmurou, olhando de relance para os outros.

— Vou ficar bem, se Kara se afastar de mim — ofegou, olhando-a com raiva controlada.

 A loira se endireitou, perscrutando seus olhos furiosos por um longo momento.

— Com prazer, sra. Danvers — disse friamente, e voltou sua atenção para os convidados.

 Lena não  sabia, mais tarde, como conseguira chegar ao final do jantar. Sentou-se como uma estátua, respondendo às perguntas, sorrindo, comportando-se como a anfitriã perfeita. Mas ao escapar até em cima para refazer a maquiagem, Sam estava dois passos atrás dela.

— O que aconteceu? — perguntou a amiga sem preâmbulo.

— Para começar, estou grávida — disse Lena, rígida.

 Sam suspirou e seus olhos se suavizaram.

— Oh, Lena! Kara já sabe?

— Não sabe e não é para lhe contar. — Lena se sentou em sua poltrona e encostou a cabeça. — Ela está novamente alvoroçada com o passado. Por apenas um curto tempo as coisas correram muito bem. Ao voltar de Wyoming era uma perfeita desconhecida. Tem sido gélida desde então. Como posso lhe contar sobre o bebê quando está agindo assim?

 —Talvez melhore seu humor. — Sam sugeriu.

— Não preciso de piedade. — Pôs o rosto entre as mãos com um pequeno estremecimento. — Nunca vai dar certo, Sam. Ela não consegue esquecer o passado. Não sei o que fazer. Não consigo mais viver assim.

 As lágrimas escorreram por entre seus dedos e Sam se inclinou, abraçando-a, dizendo todas as coisas adequadas, enquanto o que realmente queria era descer e acertar os joelhos de Kara com um pedaço de pau.

 — O que vai fazer? — perguntou, quando as lágrimas diminuíram e Lena enxugava os avermelhados olhos verdes com um lenço.

— Vou tratar de encarar o prejuízo, é claro — Lena disse, cansada. — Vou a Houston amanhã. Tenho uma prima lá com quem posso ficar até decidir para onde ir. Vou telefonar para ela mais tarde. Só preciso de algum tempo para pensar. Não consigo fazer isso aqui.

— E o emprego? — insistiu Sam, tentando de tudo para impedir que Lena fizesse alguma coisa estúpida.

— Lucy e o sr. Olsen estão se dando muito bem — disse Lena. — Aliás acho muito provável que acabem por se casar num futuro não muito distante. Lucy pode tomar conta de tudo. Vou telefonar para ela também hoje à noite.

— Não pode abandonar Kara assim, sem tentar falar com ela — disse Sam docemente, escolhendo as palavras. — Não sei o que aconteceu de errado, mas sei como Kara se sente em relação a você. Lena, você não a viu naquela noite em que Alex te levou para casa depois da quadrilha. Ela estava com o  coração partido por ter feito você chorar. Ela gosta muito de você.

— Ela tem uma bela maneira de mostrar sua afeição — disse Lena. — Primeiro ela diz que vamos dormir em quartos separados, e depois traz... aquele homem aqui.

— Acho que ela percebeu que você não está exatamente interessada no querido Jack — Sam riu.

— Jack e meu pai eram da mesma laia, ambos prontos para aumentar suas já substanciais fortunas — Lena olhou para o lenço amassado. — Mas o que mais dói é que meu pai bancou o posto de Kara e Alex, e eu não sabia disso até Kara me dizer hoje à noite. — A morena suspirou. — Não admira que não tenha acreditado no que lhe disse sobre papai querer nosso rompimento. Meu pai certamente pensou em tudo. Kara nunca mais vai acreditar em mim.

— Pode ser que ela ouça, se souber do bebê.

— Mas não vai ficar sabendo — disse Lena obstinadamente. — É o meu bebê, não dela. Ela que pode ir para o inferno.

 Sam suspirou. Lena não parecia bem e continuar falando não iria resolver nada.

— Não vamos falar sobre isso agora. Você tem que dormir e pensar mais sobre o assunto quando não estiver tão cansada. Por que não vai para a cama? Bancarei a anfitriã em seu lugar. Direi a Kara que você está com uma indisposição de estômago ou com uma dor de cabeça.

— Ela é a única dor de cabeça que eu tenho — Lena disse, cansada.

 Sam se levantou e estava pronta para descer quando a porta se abriu e Kara entrou. Ela parecia estranha. Indecisa, quieta e francamente desconcertada.

Aprendendo a Amar (Karlena) G!PTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon