Capítulo 2

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Uma semana se passou após a morte da filha do Rei Vampiro, no reino se instalou um sentimento de pesar. O castelo se tornou mais quieto que o normal. Carmim não demorou muito para partir do lugar de vez para seu apartamento na cidade, fora da penumbra. Ela sabia que aquele luto não silenciaria os sussurros sobre a suposta fraqueza da irmã, as dúvidas sobre a força da família real, no final sabia que Lief colocaria sobre si a responsabilidade de concertar a rachadura causada por Alycsia. E desse falso luto, ela não pretendia tomar partido.

A vampira abriu os olhos para o teto branco de seu quarto e suspirou ao olhar para o lado e notar que pelas cortinas não passava nada mais que um raio de sol tímido. Checando em seu relógio deixado na cabeceira da cama ela teve a confirmação de que ainda era cedo. Exageradamente cedo. Um movimento na cama a fez olhar em sua direção e ela viu outros dois corpos dormindo ao seu lado e grunhiu com isso, bebeu demais para ter chegado ao ponto de não se importar que dormissem ali. Na verdade estava difícil se importar com algo ultimamente. Após a partida da irmã os sentimentos que carregava desde o princípio somente se fortaleceu, não transformaria a morte de Alycia em algo que a afundaria aos poucos. Além disso, a morte nunca é o fim para um vampiro.

Uma hora depois a vampira já está de banho tomado, vestida com roupas tão caras que poderia dar a entrada em um carro razoavelmente confortável só com o total dos gastos. Apenas seus saltos Louis Vuitton revestido de couro de vaca em encerado artesanal de crocodilo de aparência vintage estariam por volta dos dez mil dólares. Parando no batente da porta do quarto vendo os corpos ali ainda envoltos em seus sonhos, avessos a sua presença ali, a vampira volta a olhar para o relógio em seu pulso, o objeto era bem simples, com detalhes em ouro e pulseira de couro. Havia o comprado no Brasil para Alycsia e ela por sua vez não deixou de usá-lo um dia sequer após receber este. Foi a única coisa que a vampira se permitiu pegar como uma lembrança da loira.

Bufou com o pensamento, seria melhor que esquecesse, nessa vida nada volta quando se deixa ir. Com irritação substituindo seu outro humor desagradável Carmim decide deixar um cartão mandando as pessoas ali saírem quando acordassem preferindo não ter que lidar com nada que respirasse naquele momento. Precisava focar sua mente em algo produtivo. Com isso decido ela pega as chaves do Chevrolet Camaro Z28 e deixa o lugar indo direto para o estacionamento do prédio. Iria comprar um café da manhã humano por ai para então ir para a empresa da família, deixou as coisas por lá em seu bel prazer por toda uma semana e estaria atarefada até o pescoço.

***

—Carmim. — as portas mal se abriram e sua secretaria a recebe, a mulher tinha olhos esbranquiçados e pele como carvão brilhando em melanina, características que não se vê muito atualmente em Druidas. —Meus sentimentos, todos nós estamos de luto.

—Grace, minha vida pessoal está fora da lista de assuntos, diga a todos que espero profissionalismo ao longo da semana. Agora, me atualize sobre minha agenda. — mandou já numa caminhada em direção a sua sala.

—Remarquei todas as reuniões que teria durante a semana anterior para hoje. — a vampira soltou um murmurio infeliz escapar pelos lábios e parou no meio do caminho quando se deparou com algo totalmente incomum. —Por que minha sala de visitas está cheia de presentes? — presentes. Humanos comprados de países em decadência para serem criados, treinados e alimentados de forma que seu sangue fosse de melhor qualidade possível. Aquilo era nojento.

—São presentes de seus sócios e amigos, por seu luto. — explicou. —Vieram até com uma lista de funcionalidades se não quiser eles como alimento.

—Apenas... — ia mandar que os tirasse de sua vista, contudo, ao ler uma palavra na lista colocada diante de seus olhos, uma possível solução para um problema que a assolava nos últimos dias a atingiu em cheio. —Coloque-os em um lugar mais discreto, os alimente ou qualquer coisa que precisem. E... tire esse colar deles, odeio esse mercado de carne. — decidiu e voltou a andar em direção a sua sala. Parecia que não importasse a direção que seus olhos fossem tudo traria a memória da morte da irmã mesmo que se obrigasse a ignorar por completo o evento. Em dias como esse que ela precisava ir para a empresa a loira adiantaria seus passos e abriria a porta do escritório para si e se sentaria lá cuidando da papelada enquanto Carmim se ocuparia das reuniões e todo problema que surgisse.

Meio Sangue - entre o Sol e a LuaWhere stories live. Discover now