Capítulo Três

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Lief encara o celular depois do curto telefonema com Carmim, a notícia do acontecido não poderia ser abafada, então tudo que podia fazer era assistir os rumores começando a se espalhar como uma doença de sua varanda na torre do castelo. Anabel sua esposa abraçou seu corpo por trás num ato de carinho, não sentia nada característico pela mulher, ambas suas famílias já construíam vínculos a séculos, o sangue era rico, forte e antigo, mas sentimentos românticos nunca existiram. No final o sangue sempre é o que importa para os vampiros, mesmo assim sentia-se como se estivesse traindo a mulher de muito tempo atrás, a que nem ousava pensar em seu nome muito menos dizê-lo em voz alta pois simplesmente doía demais. Nunca iria deixar de doer, não importasse o tempo que passasse ou quem deitasse ao lado de si sobre os mesmos lençóis.

—Irá castigá-la por roubar a espada, certo? Sempre passa a mão em sua cabeça. — o vampiro quase riu em zombaria para a mulher, se virando para encará-la, eles se mereciam, francamente.

—Anabel, querida. — ele passou a mão em sua bochecha em um carinho, dando um sorriso para a mulher que piscava os olhos com o ar falso de inocência na tentativa chula de levá-lo a fazer o que desejava. —Cale-se e chame Augusta para mim. — a mulher deixou escapar uma expressão irritadiça, saindo dos aposentos com seus saltos altos fazendo barulho contra a pedra já que a mesma pisava forte no chão até depois de sair de sua vista. Anabel não era alguém que pudesse confiar, o fato de ela usar o broxe de marfim no peito contra seu coração ou invés do seu havia se tornado um aviso recorrente com o passar dos anos.

Não saberia com certeza se a filha havia realmente cometido o crime, se ela o cometeu, então que pelo menos tenha feito de forma que não a pegassem, se não ele teria que castigá-la como seu Rei e não como seu pai. Ficou surpreso e irritado com sua aparição diante do Conselho de Sangue, quando discutiriam o destino da espada, ela sabia que não haveria chances de lhe entregarem a arma então fez algo impensável até para ele. Só de pensar a cabeça latejava, havia trabalhado arduamente para que a enxergassem como apenas uma vampira e ela os lembrou com todas as letras o que era. Sentia-se amargo, seu orgulho ferido ao mesmo que estava orgulhoso dela. Sua mãe era humana, ele a amou sendo humana, se sentia envergonhado. Sabia que não a encontraria depois da morte e agora quase agradeceria por isso. Estava envergonhado, acabado, exausto a espera do fim.

Sua filha não desejava nada que ele a oferecia. Não. Poder o bastante para virar o mundo de cabeça para baixo, fortuna o suficiente para comprar um país desenvolvido, sabedoria que um mortal não conseguiria somar nem em cem vidas, tudo que pudesse imaginar. Ele ofereceu tudo, menos oque ela desejava. Se lhe entregasse o que ansiava a perderia para sempre, não, ele não permitiria e por isso estavam ali, naquela situação desgraçada.

Mesmo com o tratado de paz sempre existiriam farpas entre inimigos em comum e rixas antigas que as novas gerações mesmo não sabendo da historia real tomariam para si assim como seus pais fizeram antes deles. A vida era assim. Carmim deveria tomar seu lugar e manter a paz, mesmo que para isso Lief tivesse que forçar sua filha matá-lo com suas próprias mãos. Afinal este se tornou um costume na família, para não chamar de maldição.

—Augusta. — ele disse o nome da mulher que havia tutorado sua filha, sua melhor amiga e confidente. Ela nem tinha feito qualquer ruído, porém seu perfume incomum lhe entregava, o usava de propósito assim seus inimigos saberiam que estava chegando, curiosamente causava receio em seus inimigos ao saberem por quem estavam sendo caçados. —Imagino que já esteja a par dos recentes acontecimentos.

—Sim majestade. — não pôde deixar de sorrir para a mulher.

—É estranho quando minha amiga de infância me chama assim, por favor. — ele indicou que não era necessário e pediu com um aceno que se juntasse a ele em seus pensamentos. —E então... alguma pista sobre isso? — a mulher negou e respondeu a pergunta não feita em voz alta, mas presente nos pensamento do amigo.

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⏰ Last updated: Jan 02, 2022 ⏰

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Meio Sangue - entre o Sol e a LuaWhere stories live. Discover now