Entre os lençóis frios, o corpo tremeu, resmungou palavras sem sentido e se remexeu de um lado para o outro, virou-se tateando a cama e abriu os olhos, encontrando o vazio e sua visão tornou-se um borrão pelas lágrimas acumuladas em seus olhos.Já não estava mais na cama do acastanhado, rindo ou brincando de lutinha, não estava berrando como um doido perdendo para ele no vídeo game, não o via andando de um lado para o outro recitando falas e fazendo caretas para o espelho, não discutiam por ele gostar de friends e Seokjin não, enquanto devoravam um pote de sorvete e assistiam uma série qualquer, o silêncio não era quebrado com um riso bobo sempre que seus olhares se encontravam.
Despertou para sua realidade com o som estridente do despertador minutos depois, esticou o braço para pegar o aparelho em mãos e calá-lo de uma vez, não pretendia ir para o colégio. Grunhiu, cansado demais para lidar com mais olhares tortos e cochichos.
Não se arrependia do que fez, porém, queria ter tido a chance de fazer do seu jeito, se para ele aceitar sua sexualidade havia sido uma questão de tempo, quanto mais para os seus pais, que foram criados em épocas tão diferentes da sua.
Sua criança interior, esperava do fundo de seu coração, que seus pais não deixassem de amá-lo.
Embrulhou-se com frio, decidido a voltar a dormir e pular o dia, esperando que o próximo fosse melhor.
— Namjoon! — Ouviu sua mãe chamar com dois toques na porta — Já está acordado? Já são seis horas, se demorar um pouco mais vai se atrasar! — Avisou abrindo uma pequena fresta para pôr a cabeça e sorrir para o filho.
— Obrigado mãe, já estou acordado! — Agradeceu sorrindo sem humor algum, jogando os cobertores para longe e sentando-se.
— Ei, tudo bem? — Preocupou-se e adentrou o cômodo, fechando a porta atrás de si e sentando ao seu lado, passando seu braço por seu ombro e o balançando levemente, o conhecia bem, sabia que seu pequeno grande filhote não costumava mentir como estava mentindo nos últimos meses, ainda mais com um sorriso.
Sentiu-se frágil, prestes a quebrar outra vez, precisou morder a língua para conter o choro entalado na garganta.
— Mãe, você ama o papai? — Perguntou baixo, desviando o olhar e balançando os pés.
— Claro que sim amor! — Respondeu confusa, franzindo as sobrancelhas — Por que da pergunta?
— E você continuaria com ele, o amando, mesmo que todos os condenassem? — Questionou medroso, prendendo o lábio inferior entredentes e esquadrinhando seu rosto em busca de quaisquer sinais.
— Filho, não estou entendendo o que quer dizer… — Balançou a cabeça e piscou algumas vezes, tentando digerir as informações ocultadas naquelas perguntas.
— Eu terminei com a Hwasa, porque me apaixonei por outra pessoa! — Contou e engoliu em seco, brincando com os próprios dedos em nervosismo — Na verdade, eu amo essa pessoa mãe, ela me encontrou além de mim, além do que eu acreditava ser e me fez enxergar o mundo com outros olhos! — Sorriu meio as lágrimas que despencaram em gotas grossas e pesadas — Mas, é um homem mamãe, não é uma garota! — Seus ombros tremeram e enterrou o rosto em seu colo, passando os braços por sua cintura, abraçando-a — Me desculpa, eu juro que tentei impedir que isso acontecesse! — Soluçou, engasgando com suas próprias palavras.
— Ah Namjoon… — Lamentou, pegando para si toda aquela dor, afagando suas costas, de certo, não poderia dizer que o apoiava, seus sentimentos eram um misto de decepção e frustração, se tivesse sido mais presente em sua vida emocional, se tivesse sido uma mãe melhor, não estariam ali.
— Por favor, diz alguma coisa! — Implorou apertando mais os dedos em suas roupas.
— Eu, eu… — Disse em um fio de voz, sem saber o quê e como dizê-lo — Eu não sei Namjoon, não sei filho, eu vivi uma época tão diferente da sua, você me entende? Isso pra mim, não é normal, você pode estar confuso, é normal que isso aconteça na adolescência, são muitos hormônios!
— Não mãe! — Negou convicto, erguendo o tronco e fitando-a — Não estou confuso, me apaixonei por ele da mesma forma que a senhora se apaixonou pelo papai, convivendo, conversando, conhecendo, rindo! O que tem de anormal nisso? — Questionou magoado, se afastando do toque materno.
— É um homem! — Afirmou suspirando pesadamente e engoliu em seco, controlando-se para não ceder as lágrimas — Pra mim, não é normal que homens se apaixonem por outros homens e, como eu disse, você está na adolescência, quando somos jovens, somos inconsequentes, pensamos e fazemos muitas besteiras, achamos que tudo se trata de amor! — Sorriu pequeno querendo passar conforto e colocou sua mão sobre a do maior e acariciou-a.
— Não é uma fase mãe, não é algo que vai passar com o tempo, não são os hormônios, sou eu, é o meu coração, é o que eu sinto pulsar aqui dentro! — Colocou a mão sobre o lado esquerdo do peito — Não estou sendo inconsequente, e sei que a vida não se trata somente de amor, mas a pequena parte dela, que ainda habita nos livros de romance, em poemas e músicas, em receitas caseiras de família e em festas de natal e aniversários, é verdadeiro! Tão verdadeiro quantos os beijinhos que deixava nos meus joelhos ralados, é amor, somente amor e nada mais!
— Não, não é! Você está confuso, isso não é normal, você não é assim Namjoon, o meu filho não é assim! — Seu queixo tremeu e recolheu sua mão, estava com tanto medo pelo filho e não conseguia entender como seu menino havia se metido naquilo, o que havia feito de tão errado? — Tudo bem, vamos fazer assim, em outra hora conversamos melhor sobre isso, junto com o seu pai dessa vez! — Levantou-se e beijou-lhe a testa com ternura antes de sair do quarto.
As mãos trêmulas agarraram o travesseiro e nele, enterrou um grito ensurdecedor que ecoou em toda sua alma e fez sua garganta queimar, e continuou gritando até que não tivesse mais voz para fazê-lo.
Uma pontada maior no peito o fez se contorcer e encolher, a respiração em poucos segundos tornou-se irregular e sua visão escureceu.
Iria hiperventilar outra vez, e em uma reação brusca de autodefesa, sua mente desligou.
Por alguns minutos permaneceu inerte sobre a cama e quando levantou, arrumou sua mochila, separou as roupas que vestiria e entrou para o banho.
Estamos nas retas finais de Catharsis e meu coraçãozinho está apertado por isso, estou tão apegada aos meus bebês!
Mas, enfim, como vocês estão? Espero que bem!
E bom, caso, alguém se identifique com esse capítulo ou com a história do Namjoonie e quiser conversar, fiquem à vontade para me chamar!
Amo vocês! ❤️
Personagem da capa de Abyss do Jin e do Namjoon em Mono.
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CATHARSIS
FanfictionCatharsis é a purificação e purgação das emoções - especialmente a piedade e o medo - através da arte ou qualquer mudança extrema de emoção que resulte em renovação e restauração. É uma metáfora usada originalmente por Aristóteles na Poética para de...