Hesitou parando diante da porta com a mão fechada em punho e levantada ao ar, tremendo.— Pode entrar filho, eu não mordo! — Escutou a voz de sua mãe do outro lado e respirou fundo antes de girar a maçaneta e adentrar o cômodo — Precisa de algo? — Questionou retirando seus óculos de leitura, pousando a mão sobre o livro aberto em cima das coxas.
— Uhum! — Assentiu nervoso e sentou-se na beirada da cama — Estava pensando… — Sua voz falhou no meio do caminho e arranhou a garganta, recompondo-se — Estava pensando, se a senhora não quer me ajudar a pintar o cabelo, vou ao baile de formatura com o Seokjin! — Continuou, brincando com os dedos das mãos.
Queria se aproximar de novo, ele estava tentando. Sentia saudades de estar verdadeiramente, em casa.
— Vocês não foram suspensos? — Indagou confusa, franzindo as sobrancelhas.
— Sobre isso… — Riu sem jeito passando a mão em sua nuca — Nós vamos entrar escondidos! — Contou e um pequeno sorriso travesso brotou em seus lábios e encarou-a.
Kim Chae-won, suspirou pesadamente e sorriu negando com a cabeça, fechando o livro e deixando-o junto do óculos sobre a pequena cômoda ao lado. Lembrava-se de seus dias quando jovem e tinha aquele mesmo brilho no olhar ao falar do marido pela qual se apaixonou.
— Sabe, nunca te contei, mas seu pai e eu costumávamos fugir para nos encontrar também, claro que não às três da manhã! — Ajeitou o edredom sobre as pernas e ergueu as sobrancelhas cúmplices para o filho que travou, sem reação alguma — Quando nos conhecemos, seu pai já estava noivo, foi uma doidera!
— Eu não acredito! — Negou boquiaberto, piscando os olhinhos infantilmente.
— Pois, acredite! — Afirmou envergonhada, eram boas recordações — Enfim, vamos pintar seu cabelo de que cor?
— É sério? — Gritou animado e surpreso, tampou a boca com ambas as mãos censurando-se.
Suas expectativas para aquela conversa não eram tão boas, já esperava sair dali com um sermão sobre mudar a cor do cabelo e invadir seu próprio colégio para participar do baile de formatura com outro garoto.
— É sim! — Riu, levantando da cama calçando seus chinelos e puxando-o para os seus braços, apesar de não concordar e se preocupar quanto sua sexualidade, nunca deixaria de ser sua mãe e se ele estava certo de seus sentimentos, não o impediria de amar.
Abraçou-a de volta, aninhando-se no calor quentinho de seus braços maternos, viveriam um processo longo e dificultoso, porém agora, tinha a absoluta certeza de que tudo daria certo.
Levado pela nostalgia de quando criança, que ficava sentado no vaso sanitário enrolado em uma toalha de seu personagem favorito admirando-a enquanto lhe arrumava os cabelos, a via misturar o pó descolorante em um potinho.
— Pare de se mexer! — Repreendeu-o irritadiça, tornando a aplicar o produto nos fios pela milésima vez.
— Minha cabeça está queimando! — Choramingou cruzando os braços com um bico emburrado nos lábios.
— Não me diga! — Debochou e riu maldosa, estalando a língua — Pronto, só mais alguns minutinhos e daí tira pra podermos pintar! — Encerrou a primeira parte do serviço.
E mais do que alguns minutinhos depois, analisava o moreno do outro lado do espelho, quem olhasse de fora, acreditaria que havia mudado, entretanto, a verdade era muito mais simples.
Esticou os dedos e tocou sua imagem, reconhecendo-se em sua essência, o seu eu mais belo.
As lágrimas brotaram no canto de seus olhos, passara anos de sua vida enxergando apenas sombras distorcidas de quem deveria ser e não quem realmente era.
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CATHARSIS
FanfictionCatharsis é a purificação e purgação das emoções - especialmente a piedade e o medo - através da arte ou qualquer mudança extrema de emoção que resulte em renovação e restauração. É uma metáfora usada originalmente por Aristóteles na Poética para de...