Capítulo 23: Foto do Casal.

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Entrei correndo e subi as escadas tropeçando com as coisas na minha mão. Entrei no quarto e soltei tudo no chão, ouvindo o Snow resmungar e forçar a gaiola para sair.

A mensagem do meu pai era de exatas duas horas atrás. Eu liguei pra ele, ouvindo todas as ligações caírem na caixa postal, enquanto eu andava de um lado para o outro do quarto.

-Bia, está tudo bem? -Peter questionou do outro lado da porta. -Você entrou correndo.

-Está sim. -Falei e voltei a ligar sem parar. Entrei no chat novamente quando ele não atendeu e comecei a ler todas as mensagens dele.

Pai - Filha, aluguei um apartamento no Leblon.
Tem um quarto só pra você.
Vou contratar uma empregada. Pode escolher uma quando voltar.
Vou trocar sua escola pra uma que tem aqui perto. Você vai poder ir andando.
Acabei de reservar uma passagem pra você, filha.
Amanhã a noite você já estará de volta ao rio.

-Aí não! Isso só pode ser um pesadelo, não é possível. -Joguei o celular em cima da cama e me deitei encarando o teto. -Eu não quero voltar... Eu não quero voltar...

Peguei o celular e olhei as mensagens da minha mãe, vendo ela mandar inúmeras fotos de roupas novas que havia comprado pro ano novo e coisas pra mim. Respondi o mais educadamente possível, me sentindo frustrada pela falta de carinho e compreensão. Eu nem tinha mais direito de escolher nada agora.

Meu celular vibrou de novo e eu estava pronta para encontrar outra foto de algum vestido novo que minha mãe havia comprado, mas para minha surpresa era uma mensagem de Emma. Ela havia me mandando uma foto pra mim. Franzi a testa e abri a imagem, vendo uma foto minha e de Zack dormindo escorados um no outro, com o braço dele envolta de mim.

Emma - Olha a foto do casal!!!
Zatriz tá vivíssimo.

Bia - Me diz, por favor, que não mandou isso pra ele.

Emma - Eu? Imagina.
Nesse momento Zack está trancado no quarto.
Provavelmente suspirando enquanto olha pra ela.

Soltei uma risada e olhei para a foto de novo. Não posso negar que estávamos fofos naquele momento. Nem parecia que na noite anterior ele havia quase me matado com aquela máscara.

[...]

O dia passou o mais lento possível. Josh havia saído com Peter, Kyle e Zack, enquanto eu, minha tia e Emma ficamos em casa com Caleb. As ruas já estavam sendo decoradas para o Natal. E eu não via a hora de dar um passeio e ver toda a decoração completa a noite.

Eu não havia conseguido falar com meu pai ainda. Na verdade, eu já havia ligado umas 1000 vezes e todas caíram na caixa postal. Minha mãe estava em completamente silêncio também. Ignorando minhas mensagens e fazendo algo mais interessante.

Encarei meu prato de comida, vendo que mal havia tocado nela, enquanto os outros já estavam repetindo.

-Bia, você está bem? Algo de errado com a comida? -Minha tia questionou, atraindo a atenção de todos pra mim.

-Ah... Não, esta tudo certo. Só estou sem fome. -Menti e ela me encarou preocupada. É claro que eu havia contato a ela sobre a mensagem do meu pai. Ela tinha tentado convencê-lo de me deixar aqui ja. Mas pelo visto, sem sucesso. -Eu acho que vou me deitar. Obrigado pelo jantar.

Me coloquei de pé e levei meu prato até a pia. Subi as escadas sentindo os olhos deles cravados em mim e suspirei desanimada. Não havia nada pior do que isso. Minha animação estava completamente no fundo do poço.

Entrei no quarto e encarei meu celular em cima da cama, vendo a tela acesa e o nome do meu pai na tela. Eu praticamente pulei em cima da cama para conseguir atender.

Bia - Pai?

Pai - Oi, filha. Desculpa não ter te atendido antes. Estava resolvendo umas coisas e...

Bia - Eu não quero voltar para o Rio. Quero passar o Natal aqui com a tia Silvia e com o Josh.

O cortei e a linha ficou muda por alguns segundos.

Pai - Sua tia já havia falado sobre isso comigo, Bia. Mas eu quero que venha pra casa. Eu e você vamos passar o Natal com os meus pais. Vai ser legal, filha.

Bia - Mas e depois? Eu vou ter que ir dizer na frente de um juiz com quem eu quero ficar, você ou a mamãe? Pai, por favor. Me deixe ficar aqui. Eu não quero voltar e ficar no meio da briga de vocês dois. Eu posso passar o ano novo com você. Mas o Natal, por favor, me deixe passar aqui.

Pai - Bia, eu não quero meter você no meio da confusão com sua mãe. Eu só queria...

Bia - Eu sei. Mas eu não sou um objeto pra ficar sendo jogado de um lado para o outro. Quando eu pedi pra vir para os Estados Unidos, nenhum de vocês dois e importou. Estavam completamente preocupados com o divórcio, e a mamãe com o quanto de dinheiro iria arrancar do senhor. Okay, mas eu sou a filha de vocês e não tenho nada a ver com isso. Eu vim pra cá pra ter um pouco de paz e sossego. Além disso, eu não via a tia Silvia a anos porque você e a mamãe simplesmente decidiram não viajar mais pra cá. Agora você quer que eu volte e faça o que pai? Fique esperando enquanto você fala com seus advogados sobre o divórcio? Será que pelo menos uma vez na vida o que eu quero pode ser levado em conta?

Eu me sentei na cama e entreguei os olhos. Eu fui um pouco rude no tom de voz? Completamente. Meu pai com certeza tinha o direito de não gostar disso. Mas eu estava completamente estressada naquele ponto.

Pai - Desculpa, filha. Não achei que estávamos sendo tão insensíveis assim. Me desculpa de verdade. Olha, não precisa voltar se não quiser, está bem. A sua opinião conta bastante pra mim.

Bia - Posso ficar aqui até o final do Natal então? Mesmo, mesmo?

Ouvi um risada dele do outro lado.

Pai - Sim, meu anjo. Você pode. Vou cancelar a passagem, está bem?

Concordei e ele se despediu de mim. Suspirei um pouco aliviada, mas ainda com um aperto no peito. Ergui a cabeça e encontrei ninguém menos que Zack parado na porta aberta do meu quarto. Eu nem precisava olhar para a expressão séria dele para saber que ele havia escutado tudo.

Me levantei e peguei o casado pendurado e passei por ele sem dizer uma palavra. Agora provavelmente todos eles ficariam sabendo que meus pais estavam se separando. Desci as escadas calçando as botas de frio e vi eles sentados na sala.

-Bia, o que foi? -Minha tia questionou preocupada e eu balancei a cabeça negativamente. Caminhei até a porta e passei por ela, encontrando a noite fria. Eu não sabia exatamente aonde ia. Só sai andando pela calçada, chutando a neve fofa e sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos.

Depois de alguns minutos eu cheguei a uma pequena rua cheia de árvores e casas completamente decoradas com pisca pisca e enfeites de Natal. Como era noite, as casas e árvores ficavam ainda mais lindas no meio de toda neve.

Soltei um soluço e deixei as lágrimas caírem dos meus olhos. Eu estava parada ali sem me mover, apenas encarando aquilo como o estopim pro meu desânimo.

Senti a mão de alguém tocar meu ombro e me virei, apenas para encontrar Zack. Ele estava com os cabelos bagunçados e as bochechas vermelhas como se tivesse corrido. Eu podia ver sua respiração desregular por conta do frio.

Ele encarou meu rosto molhado pelas lágrimas e não falou absolutamente nada. Apenas me puxou e me abraçou apertado, fazendo meu rosto encontrar a curva do seu pescoço.




Continua...

10 Maneiras de Acabar Com o Natal / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora