Capítulo 2

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"Se por te beijar tivesse que ir depois para o inferno, eu faria isso. Assim poderei me gabar aos demônios de ter estado no paraíso sem nunca entrar."

-William Shakespeare

Lilith River

21:37

-- Um quarto. -- A voz masculina do Senhor Lestrange, meu professor de inglês, soa pelo microfone.

Pelo vidro fumê, posso ver Victória Lunnes no banco de carona de seu Pallio vermelho. Seus cabelos ruivos balançam, quando ela tenta olhar por trás do vidro da minha cabine, e seu rosto jovem parece se perguntar qual dos River's está de plantão esta noite.
Suspiro, largando meu livro para voltar ao serviço.
A brilhante aluna com o professor de inglês. Que clichê.
Abro a gaveta, e vejo o senhor Lestrange depositando o dinheiro. Retiro o dinheiro e coloco a chave do quarto 302.

-- Obrigado. -- Ele sorri para mim com os seus dentes muito brancos, contrastando com sua pele alaranjada.

Dou de língua e o idiota continua sorrindo. Vantagens de não poder me ver.
Observo seu carro entrar pelo drive do motel.

Pisco, voltando para os meus deveres de casa.
Será uma longa noite.

00:05

A campainha do drive tira minha atenção do livro que estava lendo. Encaro através do vidro e meu coração dispara ao ver o mesmo cara que estava destruindo o gramado da escola hoje cedo. Ele está de capacete, uma jaqueta de couro que cai perfeitamente sobre seu corpo forte e grande.
Franzo a testa ao notar que está sozinho.
Ninguém vem ao motel River sozinho, ao menos que espere a entrega de garotas Apodyopsis às três da manhã.
Sim, isso é muito errado.
A campainha toca de novo.

Libero sua passagem e o observo desligar a moto e vir até o guichê.

-- Boa noite, princesa. -- Engulo em seco, ao ouvir sua voz rouca e abafada pelo capacete. Mas como ele sabe que sou uma garota?
-- Sério? Vocês tratam seus clientes assim? Não recebo nem uma saudação de boa noite? -- É estranho porque mesmo com o vidro e o capacete nos impedindo de ver um ao outro, posso sentir seu sorriso.

Seus dedos tamborilam no balcão e eu percebo que ele falou sério, está mesmo esperando que eu o cumprimente. Sem muitas opções, pego uma folha do meu caderno de desenhos e escrevo "Boa noite!". Abro a gaveta e passo o bilhete.
Max pega o papel, me dando as costas.
Ele volta até sua moto, ainda com o papel nas mãos e o observo retirar o capacete. Meus olhos deslizam pelo cabelo negro e curto, contrastando com a pele clara. Mordo os lábios quando ele abre o papel, lendo meu bilhete. Sua mão desliza por sua nuca, bagunçando seu cabelo.

Meu celular apita e me viro para ler a mensagem do meu pai, perguntando se está tudo bem no guichê norte. Respondo que sim.
A campainha soa mais uma vez e eu respiro fundo.
O que é um grande erro, porque assim que eu o vejo, todo o ar desaparece dos meus pulmões.

Ele é lindo.
Simplesmente, lindo.

-- Sua letra é muito bonita, princesa. -- Diz, me tirando do transe de seus olhos.

-- Obrigada. -- Agradeço, baixinho.

Fico ali, sorrindo feito uma idiota e ele continua me encarando através do vidro como se soubesse exatamente onde estou. Gemo ao lembrar que ele não pode me ver e nem me ouvir, e que estou sendo uma idiota. Só posso estar ficando doida.

Ligo o microfone, apertando em um dos botões no painel.
Na mesma hora, o som da voz do meu pai soa.

-- Boa noite. Bem-vindo ao Motel River. Como posso te ajudar nesta noite? -- Max abre um sorriso perverso com a gravação.

Segredos Profanos [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now