Capítulo 21 - Maldito amor platônico, maldito James, maldito amor...

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Kara

Quando abri os olhos ela já estava acordada. Estava agarrada em mim. Tão perto. Sentia o calor que vinha da sua pele. Olhava bem no fundo dos seus olhos. Sua boca tão perto. Daria tudo para poder beijá-la. Maldita tentação.

– Vamos comer, dorminhoca. Estou morta de fome e já pedi comida para gente – disse se levantando.

Quando ela falou isso que percebi que só havíamos tomado café da manhã e eu estava com muita fome.

Depois que terminamos consegui convencer a Lena a sair, ela não queria por causa do frio e da chuva porque não gostava nem um pouco de tempestades, mas a chuva estava bem fraquinha então fomos para a varanda.

Lena pediu que eu a abraçasse. Ah, se ela soubesse o quanto eu queria poder fazer isso todo dia!

Ficamos conversando e nem vimos o tempo passar. Eu estava me sentindo ótima ali com ela, parecia até que éramos um casal, gostava de me enganar por alguns momentos fingindo para mim mesma que éramos. Era divertido ver algumas pessoas notando isso, só não queria que ela ficasse incomodada.

– Kara, por favor, vamos sair daqui! Vamos para o quarto – ela disse assim que começou a trovejar e me abraçou mais forte. Eu sabia desse medo da Lena desde o primeiro dia que dormiu lá em casa.

– Eu odeio tempestades – disse quando começou a chover.

– Mas por quê? – perguntei surpresa – Eu gosto.

– Eu que te pergunto, por quê?

– Olha lá para fora – disse chamando ela para a janela - É muito bonito, um pouco melancólico talvez, mas é bom. É aconchegante ficar em casa em dias de chuva. E faz parte da natureza...

Nisso um raio corta o céu e logo depois o barulho. Ela chegou mais perto e segurou minha mão, bem apertado.

– Eu fico um pouco assustada com relâmpagos.

– Não precisa, não vai acontecer nada – disse segurando sua mão mais forte.

Naquela noite ela dormiu na minha cama comigo e eu não preguei os olhos, só consegui olhar para ela.

– Kara, vem deitar aqui comigo. Esse frio todo e você vai ficar aí sentada? Deita aqui, se cobre também.

Ela me abraçou e eu fiquei aproveitando o momento. Isso iria acabar. O fim estava tão próximo. E não me refiro a este fim de semana apenas, mas a todos os outros.

– Desse jeito vou dormir, Kara. Você sabe que assim eu não resisto – disse se referindo ao carinho que sempre fazia.

– Você é uma dorminhoca, sabia? Parece que ficar perto de mim te dá sono. Vou é ficar longe então. – brinquei e me virei de costas.

A Lena me agarrou pela cintura e eu paralisei. Como gostava daquele contato. Ficamos em silêncio e quando fui me virar ela já dormia. Respirei fundo e relaxei até pegar no sono também. Quando abri os olhos ela já estava acordada. Estava agarrada em mim. Tão perto. Sentia o calor que vinha da sua pele. Olhava bem no fundo dos seus olhos. Sua boca tão perto. Fui me aproximando e encostei meus lábios nos dela lentamente.

Acordei. Sempre acordava nessas horas impróprias. Acho que nunca vou poder sentir seu beijo, nem nos meus sonhos.

Ela estava realmente abraçada em mim, dormia profundamente. Eu não estava mais aguentando. O casamento tão perto, ela ali tão perto. E se o pai dela tivesse razão? Não valia a pena tentar? Valia? Estava confusa, tão confusa! Não consegui mais ficar perto dela e levantei calmamente para ela não acordar.

Fui dar uma volta pelo hotel, ainda chovia, mas bem fraquinho. Sentei no mesmo banco que estávamos e fiquei olhando a água cair até a chuva acabar. Eu a amo tanto. Não queria magoar a Lena, mas eu já estava tão magoada. Sempre chegava um momento que eu acabava me deparando com meus segredos tão profundos, segredos que escondia até de mim mesma. Não o fato de amá-la, pois isso eu já estava cansada de saber. Eu escondia o meu desejo de ficar com ela apesar de qualquer coisa. Escondia que eu quem queria fazê-la feliz, só eu, nada de James, nada de ninguém mais. Só eu e ela. Não é verdade que o que eu tenho é suficiente. Teria que ser, mas não é... nunca será. Será que eu seria o suficiente na vida dela? Será que ela gostaria de viver uma vida comigo? Por que ela faria isso se tem o James? Eu não posso competir com ele... nunca pude competir com a vida que ele oferece para ela. E não é justo. Eu sou a pessoa que a quer feliz acima de tudo! Eu sou a pessoa que faz tudo para fazê-la feliz..., mas eu também quero ser feliz... Maldito amor platônico, maldito Platão, maldito James, maldito amor...

Não conseguia parar de chorar. Parecia que a chuva tinha parado porque saiu do céu e entrou em mim.

Vi a Lena se aproximando e tentei disfarçar. Ela me perguntaria de novo e eu não aguentaria esconder assim.

– Kara, o que foi? Eu fiz algo pra você? – perguntou sentida.

Eu não podia deixar que ela se sentisse culpada. Inventei que era saudade dos meus pais para que ela ficasse mais tranquila. E era verdade, de certa forma. Queria um abraço da minha mãe seguido de um "vai ficar tudo bem".

– Tem certeza? Não parece ser só isso. Não é de hoje que você está toda triste por aí. Eu fico tão preocupada, Kara.

Não aguentei e voltei a chorar. Ela me abraçou. Odiava mentir para ela, mas odiava mais a minha covardia de não contar. Eu a quero tanto...

Controlei-me e fomos jantar no restaurante do hotel. Senti um olhar ruim vindo de uma funcionária. Provavelmente sabia que dividíamos o quarto e achou que éramos namoradas. Ela olhou de cara feia para a Lena e foi super grossa na hora de atendê-la, a Lena não deu importância, na verdade acho que ela nem reparou. Não queria que ela passasse por esse tipo de coisa...

– Sabe, Lena, você não deveria ter escolhido um quarto de casal para gente. As pessoas devem estar falando, você sabe – disse quando voltamos ao quarto.

– Kara, até onde eu sei, você é lésbica, não é? Nunca vai poder dormir com uma namorada, ou com a sua mulher um dia, em um quarto de hotel, porque as pessoas vão comentar, falar mal?

– Claro que não, eu não me importo com o que pensam. Me preocupo com você.

– Não se preocupe. Eu sei lidar bem com a ignorância das pessoas. É um preconceito idiota, e não me importo com os comentários. Relaxa. Se alguém vier falar qualquer coisa, falo que sou sua namorada. Vão fazer o que? Que cuidem da vida deles. É isso que tem que fazer!

Ri imaginando a situação. A Lena era toda esquentadinha.

– Kara, o que você acha de ficarmos aqui mais um tempo?

– Você diz voltarmos domingo à noite?

– Não... voltar na segunda, ou terça de manhã... Eu estava precisando mesmo descansar e está sendo tão bom ficar aqui... podíamos adiar a estadia, o que você acha?

– Não sei – disse pensando na possibilidade de passar mais tempo com ela.

– Por favor! – ela sabia como me convencer.

Passei mentalmente meus compromissos de segunda e vi que poderia adiá-los. Fiz algumas ligações e quando percebi Lena já dormia. Muito dorminhoca!

No dia seguinte eu acordei e vi que ela ainda dormia, não quis chamá-la e acabei voltando a dormir.

– Kara! Acorda! Já está tarde – acordei horas depois com ela me sacudindo – Temos muita coisa para fazer, vamos!

– Gostava mais quando você dormia mais – brinquei.

– Quem é a dorminhoca agora? – disse se levantando – Dormimos tanto que até perdemos a hora do café!

Olhei a hora: meio dia.

Amor Platônico - Adaptação KarlenaWhere stories live. Discover now