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⠀⠀⠀JOYCE PULOU SOBRESSALTADA, a mão apoiada no peito. O som do cargueiro se misturou ao som do trem passando nos trilhos, na mesma velocidade que seus batimentos cardíacos.

Ela inspirou o ar profundamente.

A luz do sol bruxuleava através da janela, a cortina esvoaçava ao lado da médium e um fantasma pairava na penumbra, ao pé da cama. O semblante pálido e os lábios descorados a observavam com aspereza.

— N-Noemi? — Joyce balbuciou, movendo os dedos pela garganta num gesto involuntário.

Noemi não disse nada, mas seu olhar preenchia a ausência de palavras — ela culpava Joyce pela morte precoce e violenta.

A médium engoliu em seco e penteou os fios com os dedos, as mãos estavam trêmulas, mas o tom saiu firme ao falar:

— Você devia culpar o carma. Não fui eu quem passou uma adaga no seu pescoço.

Um meio sorriso alçou os lábios pálidos de Noemi.

— Espero que tenha a mesma sorte que eu, quando encontrá-lo — seu tom enviou um arrepio pela coluna de Joyce.

Joyce não respondeu. Sua mente se perdeu quando Noemi virou o rosto para à esquerda do quarto, onde uma figura esguia, trajando preto, estava parada. O ceifeiro a olhou de soslaio, a face inexpressiva e a postura rígida.

Os olhos de Joyce saltaram das órbitas.

— Jun! — uma enxurrada de perguntas e resmungos brigavam nas cordas vocais da médium para serem expressas, mas a menção de seu nome, o ceifeiro estendeu a mão para Noemi, que segurou e lançou a Joyce um olhar enviesado.

O silvo do vento cortou o ar quando o ceifador e o fantasma desapareceram.

Joyce xingou e enterrou os dedos nos fios umedecidos pelo suor. Ainda sentia a frieza aguda da adaga sobrepujando sua pele, mas sua consciência seguia um caminho diferente do sonho que tivera. Estava frustrada por Jun desaparecer sem lhe dar a possibilidade de conversar. Ela precisava de notícias sobre o Sunwoo, notícias vindas de um servente da morte, como ele, e tinha quase certeza de que a informação que desejava não o comprometeria.

Duas batidas leves soaram na porta, em seguida uma cabeça surgiu no vão.

Joyce inspirou o ar profundamente mais uma vez e fechou a mão sobre o peito, onde um aperto comprimiu o coração ao ver quem havia batido.

Havia pensado em Sunwoo, mas eram os olhos castanho-ferrugem de Yuan que a observavam da soleira da porta.


— Você sonhou com a Noemi? — Yuan indagou com os olhos exorbitados. Seus dedos percorreram os fios úmidos com cheiro fresco de framboesa e menta quando Joyce murmurou "sim", enchendo a xícara dela de café. — Nos conte o que aconteceu!

Até Que A Morte Vos ReúnaWhere stories live. Discover now