ᴘʀᴏʟᴏɢᴜᴇ

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PRÓLOGO

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PRÓLOGO

MAU PRESSÁGIO


ㅤㅤAS VOZES NA caixa postal ressoavam a cada chamada recusada, mas a garota não ouvia. Sua cabeça estava apoiada na baía esbranquiçada do escritório. As madeixas escuras caíam sobre os olhos e o pescoço pendia para a frente enquanto cochilava com o headset quase soltando da orelha. Ela tinha plena consciência de que o supervisor a puniria com uma advertência por dormir em serviço outra vez, entretanto não conseguia evitar. Enfrentar o primeiro ano do colegial na parte da noite e trabalhar durante a manhã drenava as suas energias, embora já devesse estar acostumada.

Joyce não se lembrava da última vez que tivera uma noite pacífica para descansar. Sentia-se responsável pela própria vida desde o dia em que nasceu, algo contraditório considerando que um bebê não podia fazer nada além de chorar e defecar.

A música que ouvia pelo fone de ouvido, escondido sob os cabelos, e que a embalava em uma bruma sonolenta, parou subitamente.

A voz suave e melódica, os ruídos da operação de atendimento, deram lugar a um silêncio funéreo.

Um suspiro baixo escapou dos lábios dela. Será que estava dormindo e não cochilando, como acreditava?

Joyce...

Os pelos em sua nuca se arrepiaram ao ouvir o próprio nome ser chamado por uma voz familiar. Abriu os olhos devagar, o cenho franzido enquanto se acostumava com a escuridão que a cercava.

Não estava mais no escritório atulhado com sons de vozes, telefones tocando, supervisores e atendentes gritando. A menina esfregou os olhos com os punhos, endireitando a postura ao perceber que as baías haviam sido substituídas pelo largo sofá marrom puído. O carpete sobre o piso havia dado lugar à cerâmica branca amarelada pelo tempo. O bolor nas paredes que a cercavam tinha o aspecto rançoso, apesar de não se lembrar de estarem assim quando saiu de casa no início da manhã.

Não estava mais no escritório, estava em casa. No velho apartamento onde vivia com a mãe.

O ranger da cadeira de balanço posicionada diante da janela, cujas cortinas pesadas estavam sempre fechadas, alcançou seus tímpanos acompanhado de murmúrios baixos.

Não precisava virar o rosto para saber quem estava sentada ali com a coletânea de Edgar Allan Poe aberta sobre o colo, repetindo a mesma citação — "eu me tornei insano, com longos intervalos de horrível sanidade" — como se aquelas palavras fossem as únicas que soubesse proferir quando não encarava as cortinas com os olhos esbugalhados. Ou quando não tomava remédios para dormir o dia inteiro.

Ainda assim, girou sobre os calcanhares para vê-la.

Para a surpresa de Joyce, a cadeira balançava sozinha enquanto as cortinas esvoaçavam pelo vidro aberto. A janela que nunca, jamais, ficava aberta, estava escancarada.

Até Que A Morte Vos ReúnaWhere stories live. Discover now