Status: sem tintas novas

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(Capítulo revisado da SEGUNDA versão da história)

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 Sei. Às vezes eu podia parecer aquele tipo de pessoa que só reclama e não faz nada pra mudar. Eu tinha uma encomenda pra terminar, poderia ter aceitado o dinheiro de Dona Jô pra comprar as tintas mas não fiz isso. Acho que isso significava que eu não tinha o direito de ficar resmungando e choramingando por aí, não é?

Num suspiro descontente, eu tirei o pacote de batatinhas da minha mochila quando lembrei que poderia sujar tudo de óleo. E comecei a comer enquanto ia em direção ao ponto de ônibus do centro.

– Ei, Ali! Me espera!

Eu virei pra trás, confusa. E me deparei com Larissa vindo correndo até mim ainda usando o uniforme do trabalho.

– Oi?

– Oi... – ela disse ofegante. Se abaixou por uns segundos pra respirar e então agarrou meu braço, me puxando para andar.

– Ai!! O que–

– Anda, vai pro pronto rápido e pega o ônibus. Assim que você saiu da lanchonete aquele cara se levantou pra pagar e ir embora também. Achei que ia vir atrás de você. – ela olhou para trás e fez um "tsc" – E eu estava certa.

– Ah, Lari. A gente tá no centro. Ele não vai fazer nada comigo. – eu disse, mas no fundo me preocupei – Ele não é doido a esse ponto...

– É? Eu não duvidaria. – ela me deu a mão e nós atravessamos a rua – Não tem como ter certeza. Vou ficar no ponto com você até você ir.

– Não precisa... – tentei dizer mas acabei não insistindo muito. Naquela altura do campeonato eu já estava tendo calafrios e paranoias.

Aquele cara costumava me olhar muito quando me via na rua. E tudo bem, as pessoas tem olhos pra olhar e muitas delas me olhavam com frequência – como se eu tivesse um terceiro olho na cara, era muito estranho –, então eu meio que já estava acostumada com aquilo. E apesar de ele me encarar bastante, ele nunca de fato falou comigo ou se aproximou tanto.

Talvez Larissa estivesse apenas com paranoias. Mas deixei que ela me acompanhasse.

– Então... – ela disse quando nos acomodamos nos assentos livres, no meio de algumas pessoas – O que aconteceu? Por que não aceitou o dinheiro que Dona Jô te ofereceu?

Eu cobri o rosto com a mão e choraminguei.

– Você viu aquela cena?

Ela deu de ombros.

– Desculpa, não é todo dia que eu vejo alguém recusando dinheiro de avó.

– Podia ter fingido que não viu... – resmunguei e a vi revirar os olhos.

– Entre a gente não rola esse tipo de coisa, esqueceu? E também, Brenda me pediu pra ficar de olho em você enquanto ela tá longe. Não posso simplesmente ver esse tipo de coisa e ignorar, não perguntar o que tá acontecendo.

Eu bufei e voltei a comer minhas batatas, torcendo para que ela esquecesse o assunto e não voltasse a perguntar.

– E então? Não vai dizer?

Eu suspirei antes de falar:

– Não gosto de receber coisas assim das pessoas, sem ter merecido.

– Ah, qual foi, Ali? Dona Jô vive dizendo que você é alguém importante lá na lanchonete, tá? Te coloca lá nas alturas quando comenta que é você que faz ela ter tantos clientes. Por causa do seu jeitinho espontâneo. Todo mundo te adora.

A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)Where stories live. Discover now