No clube

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(Capítulo da SEGUNDA versão da história)

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   A semana passou com uma lentidão que quase me matou. Talvez fosse porque eu estava ansiosa para que chegasse logo o dia 21... Ah, não vou mentir: aquele tempo também estava me matando!

Eu acordava contente apesar de tudo. A chuva e o tempinho frio da manhã me agradavam bastante. Faziam eu me sentir mais próxima da natureza e isso, consequentemente, fazia eu me sentir mais viva. Mas então eu saía da casa de Dona Rosa — que continuava sendo um amor de pessoa, mas uma idosa muito teimosa —, me arrumava e então... Ia para a escola debaixo do sol quente. Oh, vida! Por que o tempinho bom não podia durar pelo menos até todo mundo estar no colégio? O sol tinha mesmo que se exibir justamente logo no horário de sair de casa? — E pra completar tudo meu cartão de ônibus ainda ficava dando pau!

Mas tudo isso pareceu valer a pena quando o dia 21 chegou e eu recebi meu pagamento. Ah, meu dinheirinho suado... Me senti tão bem, tão realizada, tão orgulhosa de mim mesma quando cheguei em casa com ele!

Quando calculei as coisas, de fato achei que era pouco como haviam me dito antes. Separei uma parte que cobriria grande parte do aluguel, outra que contribuiria para a compra do mês e o restante — que definitivamente não era muito — guardei pra mim. Não era mesmo muito diante das várias contas que eu queria ajudar a pagar... Mas não importava. Já estava muito bom. Só o fato de eu estar podendo ajudar meus pais como eu queria já era o suficiente.

Eu não tinha contado pra ninguém ainda, mas eu estava planejando comprar uma bicicleta. Me sentia culpada pelo meu pai ter sempre que me buscar no trabalho mesmo quando estava cansado devido a reforma que ele e a equipe estavam fazendo no casarão. E nem pensar que eu ia seguir o conselho da minha mãe de pedir carona a Liam. Não, isso não. Eu já estava sabendo qual era o plano dela e não estava gostando nem um pouco.

Eu suspirei e deitei na cama enquanto assistia um vídeo aleatório no Youtube sobre uma dança tradicional mexicana. Era tudo tão lindo: as roupas, a coreografia, as cores... E até as pessoas torcendo, vibrando pelos dançarinos. Era emocionante de ver.

– Ah, achei que não estava em casa!

Era Brenda na minha janela.

– Fala aí. – cumprimentei sem muito ânimo apesar de estar há vários dias sem vê-la – Veio ficar no tédio comigo?

Ela suspirou e começou a escalar a janela.

– Cara, por que você não usa a porta?

– Porque tá muito longe. E estou querendo me exercitar.

Eu bufei e deixei o celular de lado pra assistir a cena. Brenda era baixinha e nunca se deu bem com suas tentativas de ser menos sedentária.

– Estou surpresa por você não ter caído de cara no chão. – falei com falsa doçura quando ela teve êxito na sua missão esquisita.

– Ah, fica quieta. Vai, chega pra lá.

– Ai, Brenda, um calor desse e você querendo ficar perto! Eu hein! Deita no chão que tá mais fresco!

– Eu hein digo eu! É assim que você trata as visitas?! Sua parente que você não vê há semanas?!

– Ih... – eu virei para o outro lado voltando a mexer no meu celular.

Apenas para Brenda se jogar em cima de mim e arrancá-lo das minhas mãos.

– Ei!

Ela mastigou o chiclete fazendo um barulho alto e irritante, futucando meu celular.

A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)Onde histórias criam vida. Descubra agora