O amargo dos cristais de gelo

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O amargo dos cristais de gelo

Meus lábios tentavam soprar lufadas de ar quente sobre as palmas gélidas, conforme mais fractais de neve a tocavam. O impassível frio tinha me enrijecido em um fino cobertor de furos. Alguns papelões de mercado me serviram como colchão e como uma tentativa de erguer uma cabana; mas não adiantou, pois as brisas gélidas a fizeram decair o bloco, e transpassaram do meu corpo anêmico à fina e quebradiça coluna espinhal. A coluna paralisou, mas os involuntários tremores se tornaram mais agudos.
O cúmulo de flocos de neve dançavam sob ar cruento, despontados do céu nebuloso. Cujo sangue, parecia mais frio que ontem. Um pintor havia derramado sobre ele a minha melancolia; e os flocos, são a continuação das lágrimas que esfriaram no meu rosto avermelhado.
Posso sentir a minha respiração mais árdua ao passo que esta ardendo no nariz. Agora, as conchas se formar na frente da inspiração, mas não adianta, continua turturante.
Não aguento mais viver. Ciclava novamente, minhas linhas de pensamentos negativos, foram contribuídos por um embrulhar do estômago. O que fazer? O desejo de morrer pode se tornar a única realidade nesta tarde?
A última alimentação havia terminado ontem. O desespero de encontrar outro última pão mofado não me fez aparecer nada. Devia tentar roubar? Se conseguisse entrar em algum mercado. Procurar em lixeiras? Pedir que me comprem algo? Tive muitos olhares revirados, semblantes de pena, mas ninguém ousou a me ajudar. É muita falta um real de pão para sua casa!? Em uma véspera de Natal!?
Ouço passos lentos sobre a neve. Andam mais perto de mim. Levanto o olhar machucado. Os esfregou para enxergar melhor a crueldade. É um garoto também. E está muito bem vestido.
O seu olhar é pesado. Não maldoso; pesado.
Cubro o meu rosto contra.
- Olhe... - O que vai fazer? Não falo. Sou semelhante a um cão das vielas sem latido. Ele está tirando o seu pulôver - minha mãe esteve costurando desde o mês passado e, me entregou hoje, mas não é meu. Caminha um pouco mais e estende a mão, mas não seguro.
- quem é você? - Perguntei baixinho, com a voz trêmula, devido ao frio que arranhou.
- Lucas; e como você se chama?
- Tomás.
- Tomás, pode pegar.
- Lucas! O que está fazendo!? Temos que ir na casa do senhor Hoffel agora! - Uma voz feminina e jovial o chamou na entrada do beco.
- Tome rápido. - ele empurra o seu casaco de lã nos meu ombros. Foi o primeiro quem me ajudou. - Sei que precisa comer, mas lamento não poder te levar pra casa ainda. - Ele tenta, me entregar um sorriso leve, desajeitado no tênuo rosto. E revira os bons e pesaroso olhos.
- Estava falando com aquele homem. Estava querendo ficar doente ou ferido. Não pensou! E por que está chorando!?
- Não estou, é o frio.
- E aonde está seu casaco? - Lucas responde não saber. Estou segurando o que ele me entregou para que possa continuar sendo real e palpável. - Vai dizer que perdeu na neve?
- Devo ter deixado na última casa. Vamos ver lá...Vamos!
E as vozes ficam mais fracas.
Quando não consegui mais ouvir nenhuma palavra, vesti; um tecido tão macio e espesso; um calor que está me iluminando. É muito bom. Um pouquinho da minha alma parece brilhar na neve.
Infelizmente, não consegui dizer obrigado.

A neve continuará sendo azeda se eu o vir novamente?

A neve continuará sendo azeda se eu o vir novamente?

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Olhar semelhante a fragilidade dos flocos. Conhecendo a linguagem das expressões da alma, é possível te ouvir dizendo:
- Alguém me ajuda, por favor... Faz o frio não me assolar mais. Não novamente.

- O que acharam do primeiro conto?
- Devo continuar?

O amargo dos cristais de geloWhere stories live. Discover now