Capítulo 14

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Jungkook

Jimin voltou agitado, secando as lágrimas que não paravam de escorrer pelo seu rosto. 

Saltei da picape e corri até ele.

— Ei, tá tudo bem?

Ele não respondeu, talvez porque estivesse abalado demais, e apenas desabou em cima de mim enquanto eu o envolvia em meus braços. 

Ele chorava de soluçar contra minha camisa, me puxando mais para perto, e então eu deixei. 

Era como se ele estivesse se despedaçando e eu fosse a única coisa que o impedia de se estatelar no chão.

Não sei por quanto tempo ficamos abraçados. 

Cinco minutos, talvez dez. 

Minha única certeza era que eu ficaria ali pelo tempo de que ele precisasse.

Quando começamos o caminho de volta para casa, Jimin continuou quieto, e não tentei puxar assunto. 

Eu sabia que ele falaria quando estivesse pronto, e foi exatamente isso que aconteceu.

Fazia duas horas que estávamos no carro quando ele pigarreou.

— Ela assumiu a culpa pra ele ser solto antes e poder criar o bebê... — As lágrimas se intensificaram. — Está tudo errado. Nenhuma criança deveria ser criada pelo Charlie. Eu passei por isso. Não foi uma experiência boa. E o bebê não vai ter nem minha mãe lá... ela tem seus problemas, mas ainda se comporta como uma mãe de vez em quando. O bebê só vai ter o monstro.

— Mas que merda... Sinto muito, Jimin. Sei lá... talvez exista algum jeito de provar que o Charlie não pode ficar com a criança...

— Eu me ofereci pra ajudar, mas ela me dispensou. — Jimin deu de ombros e olhou para as próprias mãos. — Ela disse que eu fui um erro... Que fui a maior merda que ela já fez na vida e que devia ter me abortado.

Jimin estava com a cabeça baixa e começou a chorar de novo.

Odiei o fato de estarmos em uma rodovia, porque assim eu não podia abraçá-lo.

— Que coisa escrota pra se dizer a uma pessoa. Você não merecia ouvir isso.

— Talvez merecesse, sim. Eu fiz uma coisa horrível. E, agora, ela vai passar mais tempo presa. E tudo isso é só porque não pensei direito nas coisas.

— Você salvou a vida da sua mãe.

— Sei lá... tenho pesadelo todas as noites. Fico me revirando na cama, pensando no que fiz. Acordo em pânico, porque não consigo respirar. E aí não consigo dormir de novo. Acho que não mereço uma noite de sono tranquila enquanto minha mãe está num lugar horroroso. Por que eu deveria conseguir dormir bem quando ela não consegue? Quer dizer, que tipo de monstro faz uma coisa dessas com a própria mãe? Achei que ela fosse ser solta... — Jimin fungou e esfregou o nariz com a manga da camisa. — Eu só não queria que ela morresse.

Abri a boca para falar, mas ele balançou a cabeça.

— A gente pode só escutar música? Acho que não quero ser consolado agora. Quero ficar na merda por um tempo.

Concordei e coloquei o segundo álbum do Tool para tocar, meu favorito.

Seguimos em silêncio pelo restante do caminho, apesar de eu querer dizer para Jimin que, por ele estar ali, o mundo era um lugar muito melhor. 

Mesmo que ele achasse que não se encaixava nele.

Parei a picape na frente da casa, e Jimin saltou. 

Ele se virou para mim e abriu um sorriso, mas não estava feliz. 

Eu nunca soube que sorrisos podiam ser tristes até ver aquele em seus lábios.

— Valeu, Jungkook. Foi mal eu ter feito você desperdiçar o dia todo comigo.

— Não foi um desperdício. Fiquei feliz por ajudar. Se você precisar de qualquer coisa, estou aqui.

— Obrigado de novo. — Ele soltou uma risada irônica e passou um dedo ao longo do nariz. — Achei que, se eu visse a minha mãe, o dia hoje seria melhor.

— E o que tem o dia de hoje?

Jimin esfregou os olhos cansados.

— Hoje é meu aniversário.

— Merda — murmurei. Que aniversário de bosta. Que vida de bosta. — Feliz aniversário, Jimin. Que pena que foi tão ruim.

— Não tem problema. Pelo menos não passei sozinho.

Mais tarde naquela noite, escutei enquanto ele se revirava na cama. 

Eu não conseguia dormir sabendo que ele estava tão agoniado. 

Então, sem ser convidado, entrei de fininho em seu quarto. 

Fechei a porta sem fazer barulho e fui até o garoto agitado que se remexia no sono.

— Jimin. Jimin, acorda — sussurrei, cutucando seu braço.

Ele se sentou na cama, nervoso e apavorado.

— O quê? — berrou ele, banhado de suor.

Balancei ligeiramente a cabeça.

— Você estava tendo um pesadelo.

Sua respiração ficou um pouco mais tranquila enquanto ele passava as mãos pelo cabelo.

— Ah.

— Anda, chega pra lá.

— Por quê?

— Quando meus pais foram embora, comecei a ter pesadelos. Minha avó dormia comigo de vez em quando, e, nessas noites, os sonhos não eram tão ruins. Ajudava ter alguém deitado comigo.

Desconfiado, ele abriu espaço na cama e se pressionou contra a parede. 

Eu me deitei ao seu lado.

Quando me acomodei, percebi que Jimin tremia de nervosismo, medo ou tristeza. 

Uma dessas coisas. 

Ou talvez as três.

Envolvi seu corpo em meus braços e o puxei para perto de mim.

Meus olhos se fecharam depois que ele se sentiu seguro o suficiente para fechar os seus.

Unexpected Love - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora