Capítulo 24

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Amália

Não sei dizer qual é a sensação de olhar-se no espelho e não se reconhecer. És tu mesmo que está ali? Quando passas a enxergar a tua alma, mas não tua aparência. Tudo torna-se tão confuso que alguns acham que nasceram de novo e outros acreditam em sua morte precoce.

Confesso que isso ainda não aconteceu comigo, não acho que já mudei o suficiente, mas o homem a minha frente parece irreconhecível tanto para si mesmo, como para mim.

O Hugo para confuso enquanto se encara, já que fui obrigada a aceitá-lo em meu encalço, resolvi cuidar de sua aparência, pois não desejo assustar aqueles que estão sempre encontrando-se comigo.

Eu o trouxe ao salão e para surpresa de todos, o incentivei a arrumar a sobrancelha e cuidar do cabelo e da barba, confesso que parece muito mais jovem agora. E pela forma que se encara no espelho, sinto que realmente gostou do que viu, no entanto é nítida sua falta de capacidade em acreditar nos próprios olhos.

As mulheres que ficaram no salão observando este acontecimento inédito, encaram-no espantadas e ao mesmo tempo com um interesse fazendo-me desconfiar que ele só surgiu agora.

Antes era difícil que fosse notado por mulheres interessantes, mas sei que isso vai mudar, Hugo mostrou que por baixo de todo mau humor existe uma pessoa incrivelmente bonita.

Seus olhos parecem mais brilhantes, olho para os lados e percebo que todas o estão encarando. Sorrio quando percebo que apesar de toda a resistência ele realmente apreciou a mudança.

— Tu realmente pareces uma nova pessoa – digo aproximando-me e parando ao seu lado.

— Fato, eu ainda estou tentando reconhecê-lo – comenta uma das mulheres, ela sorri baixinho e ele o olha interessado.

O interesse brilha os olhos deles e especialmente hoje desejo vê-lo ainda mais feliz. Convido-a para nos acompanhar, mas recebo uma recusa, no entanto isso não é o suficiente para me intimidar afasto-me lentamente e deixo-os livre para conversar.

Dirijo-me para próximo da porta do salão, enquanto aguardo que terminem a conversa observo a rua desejando que muitas coisas possam enfim mudar e melhorar, contudo o que vejo mostra-me que estou completamente enganada.

Enrico caminha do outro lado da rua com a mesma mulher que vi em outrora quando estávamos no restaurante. Perco-me enquanto os encaro sem disfarçar, não sei de fato o que fiz para este homem.

Ele parece tão confuso, sei que isso não é uma desculpa, mas sinto que tem algo acontecendo entre eles. Parece um castigo do destino, talvez por eu ter julgado tanto as pessoas, alguém resolveu castigar-me com essa solidão e traição, sei que mereço tudo o que tenho passado, entretanto ainda assim dói.

Volto para dentro do salão tentando não refletir mais sobre isso, pelo menos não no meio de tantas pessoas. Vejo que o Hugo não perde tempo e já marcou um encontro com a mulher que o admira tanto, sorrio com a ideia de vê-lo envolvido com alguém, vai ser engraçado quando estiverem irritados.

Não desejo atrapalhá-los, então sento-me deixando-os a vontade para conversar, sorrio quando percebo que agem como se apenas os dois existissem neste ambiente isso é de fato adorável.

Uma mulher senta-se ao meu lado, identifico com rapidez a insegurança que sente, comecei a perceber isso nas pessoas, quando se aproximam de mim algumas são inseguras, outras raivosas, estou em dúvida ainda para deduzir qual eu prefiro.

— Como conseguiu convencê-lo? – Sua indagação é tão baixa que tenho dúvidas se ela realmente falou comigo ou se foi apenas algo criado por minha mente.

VendidaWhere stories live. Discover now