Heaven's Memories

16. olhares discretos e segredos á tona

Sinto como se estivesse
dando meu ultimo suspiro
Purpose, Justin Bieber

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    ERA UM DIA SIMPLES E MERAMENTE normal. O frio daquela estação do ano se intensificava, e isso obrigava todo mundo, de sangue quente, a andar mais coberto de roupas.

Eu no caso, tinha o sistema imunitário, bem fraco quando essa era a situação.

A ponta do meu nariz estava vermelha, pelo tanto de espirros que dei na noite passada e meus olhos mais reduzidos e queimando por dentro como efeito da rinite. Tive que usar meus óculos de vista, que raramente usava, excepto por razões como aquela.

Em resumo, minha aparência estava um caos. Sem contar com o rabo de cavalo desleixado e o sueter cinza, por baixo do sobretudo.

— Você está péssima! — Naomi disparou, ao fechar seu armário.

— É! Já há dois dias. — concordei, assim que começamos a andar.

Nks corredores alguns panfletos anunciavam a festa de Halloween, oque criou muita conversa nos alunos.

Inclusive em nós.

Naomi e eu tínhamos uma tradição desde os seis anos sobre o Halloween, afinal de contas foi numa noite como essas que nos conhecemos. Mais precisamente quando ela roubou um punhado dos meus doces e eu retaliei limpando meus dedos achocolatados na sua fantasia de anjo.

Nada mais que o simples começo de uma amizade.

— Oque acha de meninas malvadas? — sugeri, com minha voz anasalada.

— Sem chances, não quero causar o primeiro orgasmo em garotos de onze anos — disse, normalmente, cruzando o corredor. — Ficaria sensual demais.

Revirei os olhos depois da minha sétima ideia.

— E você?

— Não vou contar a você qual é minha ideia, Naomi. — avisei.

— Porquê?

Porque não havia ideia nenhuma.

— Porque sim. — ditei.

— Chata! — bufou, assim que chegamos próxima a sua sala. — Preciso entender aquele raio de matéria sobre radiações e sei lá. Você me explica? — pediu e sem hesitar afirmei.

Soei no lenço distraída e então meu olhos acabaram por encarar a janela da sala ao lado. Minha visão não estava muito boa, mas eu reconheceria aqueles fios loiros bagunçados em quaisquer que fossem as situações.

A maçaneta da porta girou e antes que nossa presença fosse notada, num impulso peguei Naomi pelo pulso e a arrastei pra outra sala, em completo desespero.

— O que está fazendo? — perguntou confusa, me vendo observar por uma brecha nas persianas da janela.

Eden e April falavam de algo atentos um no outro. Mas minha atenção não estava na conversa desinteressante deles sobre viagens, mas sim no que a loira trazia nas mãos.

Um copo de café.

Engoli em seco, e me recusei a imaginar ou a me incomodar com a ideia de que Eden tenha feito um especialmente pra ela.

Como, eu não sei, mas do nada, seus olhos rolaram de relance em minha direção num semblante fechado e nada expressivo. Novamente num acto desesperado, me afastei da janela com a respiração falha.

Uma Naomi de braços cruzados e de sobrancelha arqueada, olhou pra mim e de forma ofensiva falou:

— Isso é patético!