26. teatros acabados e ligações de loucura

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— Não! Isso não é possível. — declarei incrédula, numa perfeita feição de espanto.

Muito convicta de si, garota de frente a mim, confirmou mais uma vez, acenando a cabeça sem vestígio algum de vergonha. Aliás, demostrando até um certo orgulho da sua atitude insensata.

— Pode acreditar! — jurou, limpando suas mãos no pano depois de terminar de lavar a louça.— Eu nunca mais voltei a jogar verdade ou desafio, depois daquilo.

Me ri, ainda assimilando toda história contada, aproveitando do lado em mim que se enchia de uma sensação estranha de alegria, por April ter partilhado comigo aquele embaraço da vida.

— Continuo sem acreditar.— revelei, novamente.

A loira se virou em minha direção e fixou seu olhar inquieto no meu.

— Quer ver? — sugeriu no meio da sua onda de êxtase.

Como resoosta aregalei os olhos me, surpreendendo ainda mais com sua nova faceta. Porém sem hesitação alguma, acenei positivamente pra ela com a cabeça.

April olhou a volta, provavelmente verificando se Greta, a governanta da casa e sua não oficial babá, não estivesse nos arredores.

Já com essa certeza, sorriu mais uma vez pra mim em êxtase e lentamente subiu seu moletom me dando a vista da lateral do seu quadril nu, mais precisamente a vista da tatuagem inusitada do Mickey mostrando a bunda, com seus calções vermelhos pra baixo.

Meu queixo caiu.

— Isso foi a coisa mais incrível e idiota que meus olhos alguma vez viram. — comentei.

— Foi um prazer ficar pra história. — fingiu um sotaque elegante, levando o som das nossas risadas se mesclando no ar.

O universo é realmente um cara desocupado. Como ele pôde fazer uma coisa dessas?

É o segundo dia que apareço na casa de April O'Neil, finalmente terminamos o trabalho. Confesso que absolutamente nada foi do jeito que pensei que seria.

Desde o primeiro dia em que revelei, espontâneamente, que fui uma fã louca pelos Jonas Brothers aos treze e ela se identificou, a gente vêm se dando incrível e estranhamente bem. Como duas estranhas, uma apaixonada pelo Leonardo DiCaprio e outra planejando o casamento com o Cole Sprouse.

Em momento algum tocamos no assunto que causou nossas "divergências", muito menos mencionar o nome dele.

De início fiquei desconfiada dessa atitude comigo, mas analisando como ela e sua vida realmente são, me deixei levar pela April com a tatuagem do bumbum do Mickey.

Como Eden me contou antes, April perdeu seu pai muito cedo e esse talvez foi o pior trauma que ela alguma vez enfrentou. Ainda sim, sua mãe é ausente, não têm irmãos e vive basicamente com a governanta com semelhanças a um robô, Greta 2.0.

Fora ao teatro do colégio, e toda aquela fantasia de líder de torcida rica, popular, desejada e invejável. April é humana, e no mínimo solitária.

— Me desculpa. — pedi, arriscando entrar num assunto desconfortável.

— Pelo o que? — indagou, confusa, enquanto seu sorriso de desvanecia dramaticamente.

Trinquei o lábio hesitante, colocando alguns fios do meu cabelo para trás da orelha.

— Pelo Eden. — conclui. — Nunca foi minha intenção substituir seu lugar na vida dele. Eu sei o quão são importantes um para o outro.

April suspirou pesadamente, esfregando seu rosto em frustração clara.

Heaven's Memories Where stories live. Discover now