Quando acordei me senti diferente, não de uma maneira ruim, mas de um modo inusitado. Senti que tive um dos mais belos sonhos, entretanto não consegui me lembrar sobre o que era, minhas doíam como se estivesse sorrindo por um longo período.
Ainda sentia meus músculos doloridos mas não o suficiente para me impedir de levantar, a lua já tinha passado do meio do céu me levando a crer que estava de madrugada. O outro lado da cama estava vazio e frio, o lençol esticado como se ninguém nunca tivesse se deitado ali.
Busquei algum vestígio que indicasse que Satoru havia voltado, mas não encontrei nenhum.
Vesti um par de chinelos confortáveis e me levantei seguindo para o primeiro andar da casa, mas antes mesmo de descer vi o homem deitado no sofá de maneira torta - já que não era o suficiente para comportar sua altura - com o antebraço sobre os olhos e as pernas penduradas para fora dele.
Meu braço arrepiou quando uma corrente de ar passou pelo corredor, ele não tinha sequer uma coberta. Claro que Satoru não pegaria um resfriado mas no mínimo ficaria mais confortável, voltei para o quarto pegando um cobertor fofo e descendo sorrateiramente para não causar barulhos. O cobri com delicadeza olhando com cuidado sua forma, mesmo sem ver uma parte de seu rosto ele também parecia cansado, seu tronco subia e descia lentamente acompanhando sua respiração calma.
Julgando que parecia uma psicopata parada ao seu lado o encarando resolvi me afastar, andei até a cozinha vendo algumas sacolas. A comida era de um dos meus lugares favoritos, nada muito gastronômico, um restaurante familiar herdado de gerações. Só de pensar nas delícias que estavam ali já senti minha boca salivar, e o estômago roncar. Tendo ficado apagada por mais da metade do dia anterior, concluí que minha última refeição havia sido a pelo menos 36 horas atrás.
Assim como no dia em que cheguei de viagem usei chrono para fazer silêncio e esquentar o alimento sem correr o risco de acordar Satoru. Também me mantive no escuro, a luz noturna que entrava pelas janelas era mais do que o suficiente para me ajudar a enxergar, comi em silêncio e devagar sem ter um pensamento fixo em mente.
Não foi até que terminasse minha refeição que Satoru se mexeu, um suspiro fundo que indicou que ele havia acordado. Num gesto impensado, e nada maduro, acabei por me esconder atrás do balcão com a esperança dele não me ver.
Porém, estava sendo uma tola envergonhada, sabia que o homem leria minha energia amaldiçoada assim que se virasse. Abracei meus joelhos escondendo o rosto entre eles, enquanto os passos soavam vagarosos em minha direção. Perto e mais perto, até que parou.
-O que está fazendo?
Levantei os olhar e a imagem que estava em minha frente era de tirar o fôlego. Satoru estava parado ao meu lado, uma mão apoiada no balcão enquanto a outra se erguia até seus cabelos bagunçados - alguns fios estavam marcados pelo sofá e outros seguiam em direções diferentes - levantando um pouco a barra da camisa de cor branca. A calça de moletom larga era cinza e tão comprida que as barras chegavam a arrastar no chão cobrindo seus pés. A luz pálida e prateada da lua, que entrava pela pequena janela próxima a pia, iluminava sua figura lateralmente acentuando ainda mais seus olhos cintilantes, aumentando o contraste de luz e sombra que o ambiente proporcionava.
Desviei a cabeça encarando minhas mãos pensando numa explicação digna para dar, não encontrando nenhuma.
-Não sei - disse por fim - Só sendo uma idiota.
Satoru se manteve em silêncio, e só se mexeu para se apoiar de costas na bancada enquanto cruzava os braços. Senti seu olhar vir em minha direção já que estava na minha diagonal, e mais uma vez o ar pareceu ficar denso, frio. Embora não tivesse nenhuma saída de ar por perto.
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Kairós - (Gojo Satoru x [Nome])
Fanfiction*Sequência história Sýndesis* - Saga Sýndesis - Livro 2 Kairós (em grego: καιρός) O momento oportuno em que algo especial acontece. Os acontecimentos vivenciados no primeiro ano em Tóquio agora não passavam de lembranças. Depois de tanto tempo viven...