Capítulo 29 - Faíscas

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Anahí

– Certas coisas não mudam... – Poncho falou, segurando-me pelo braço.

O choque elétrico que senti quando nos cumprimentamos ressurgiu e eu fiquei estática, sem saber o que dizer. Eu tinha trombado nele ao me virar e o moreno ainda segurava meu braço, para que eu não caísse para trás. A proximidade de nossos corpos era perigosa e senti minha pele arrepiar.

Assim que despertei do transe, puxei meu braço delicadamente e dei uns dois passos em direção a bancada atrás de mim. O lugar onde ele havia segurado parecia em chamas.

– O que está fazendo aqui, Alfonso? – Minha voz saiu falhada, mas o tom inquisitório ainda estava presente.

– Vim ajudar nas taças. – Ele respondeu, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça.

– Eu quis dizer Monterrey. – Empinei o nariz, tentando passar um ar de segurança.

Poncho deu uma risada nasalada, em tom de deboche. Sua expressão continuava indecifrável desde que ele havia visto eu e Christopher trocando um selinho na sala. Ele olhou para o chão antes de me encarar com aqueles olhos verde-escuros, que eu já não conseguia mais desvendar o que queriam dizer.

– Eu já disse para você. – A voz grossa do moreno arrepiou meus pelos da nuca. – Vim a trabalho.

– Bom, espero que seu trabalho seja sucedido o quanto antes. – Respondi, semicerrando os olhos.

Virei em direção a bancada e equilibrei três taças nas mãos, deixando outras três para que ele levasse.

– Não esperava uma recepção de boas-vindas vindo de você... – Alfonso retornou a falar, a voz saindo um pouco rouca. – Mas também não sabia que seria recebido com hostilidade.

Permaneci em silêncio, respirando fundo. Eu também não sabia de onde estava vindo toda aquela raiva, mas a presença dele me incomodava. Sentia a necessidade de me impor perto do moreno, mostrar que eu não era mais a mesma Anahí insegura da faculdade.

Senti seu braço roçando meu ombro quando ele esticou para pegar as taças que restavam no balcão e sua respiração chegando próximo ao meu cabelo.

– Acredite em mim: eu também não queria ter voltado. – Ele sussurrou perto de meu ouvido.

Contive um suspiro com a sensação daquela voz tão perto de mim novamente. Alfonso pegou as taças e afastou-se, saindo da cozinha e me deixando imóvel. Respirei fundo algumas vezes para tentar me recompor e voltei para a sala. Todos seguiam conversando e Maite apenas me esperava para servir o vinho.

– Finalmente! – Chris disse. – Anahí foi fabricar as taças, pelo visto?

– Há há, muito engraçado, Christian. – Retruquei, dando a língua.

Passei a mão nos cabelos em um sinal de nervosismo e meu amigo notou, fazendo uma expressão de "me conte tudo depois". Não havia o que contar, apenas que Poncho continuava o mesmo galanteador provocador de sempre. Só que dessa vez, eu seria imune aos seus encantos.

Entreguei uma taça à Christopher e outra a Maite, já que Alfonso tinha entregue as outras a Mane e Christian. A morena serviu cada uma e nos reunimos no centro da sala de estar para brindar.

– Aos reencontros! – Mai disse, animada.

– Saúde! – Mane completou.

Encostamos as taças e, enquanto eu sorvia um gole do vinho que minha amiga havia escolhido, meu esposo voltou a me abraçar pelos ombros. Sorri para ele e brindamos os dois. Todos voltamos a nos sentar e Mai trouxe alguns petiscos para aperitivar. A conversa variava entre atualizações sobre a vida de cada um, assuntos aleatórios e algumas lembranças de faculdade.

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