CAPÍTULO LVI

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A gravidez de Vivian já estava avançada. Ela era bem jovem, vinte e poucos anos. Tinha bastante saúde e disposição. Mas a reta final da gravidez a deixara bastante indisposta e cansada. Não fosse a ajuda que Carlos lhe estava dando, ela estaria passando sérias dificuldades. Sabia que essa ajuda não duraria para sempre. O que ela iria fazer? Conforme a gravidez avançava, mais as incertezas aumentavam. Sentia-se só e desamparada. Deixara sua família na
pequena cidade onde nascera para tentar a vida numa cidade grande. Sabia que tinha feito tudo errado, tinha vergonha de pedir ajuda para os familiares que deixou para trás.

Às vezes queria tentar se afeiçoar àquela criança, mas com toda aquela situação, acabava rejeitando a gravidez. Estava cansada, pernas inchadas, não tinha ânimo para nada. Só queria que tudo aquilo chegasse ao fim. Ainda não tinha um nome para o bebê. Não havia providenciado nada para o enxoval. Não queria ser mãe.

O telefone toca. É Ciro. Ela pensa em não atender. Qualquer que fosse a razão para ela ter se metido com aquele homem, não existia mais. Estava terrivelmente arrependida de um dia ter se envolvido com aquele sujeito. "Eu sempre faço péssimas escolhas", pensou ela.

Resolveu então ver o que ele queria. Atendeu ao telefone.

- O que você quer? - Vivian atende o telefone rispidamente.

- Seu cozinheiro está com a mulherzinha dele nesse exato momento. Tu não quer saber quem é? Vem cá ver.

- Ciro, eu já te falei pra deixar de seguir o Carlos. O quê que tu vai ganhar com isso? Deixa o Carlos em paz.

- Ah... Que bonitinho... Outro dia ele era apenas mais um trouxa. Agora, tu quer que eu deixe ele em paz? Eu sei de tudo desse cara. Onde ele mora, onde a queridinha dele trabalha, onde a filha estuda. Ele não vai se livrar de mim assim tão fácil não.

- Deixa o Carlos em paz e me deixa em paz! Já deu. Não tem mais graça. Sai daí, Ciro.

- Tu é mesmo muito incompetente mesmo, viu. O cara te dava tudo e tu desperdiçou a chance.

- Ciro, eu tô te falando pra sair daí. Se ele descobrir, chama a polícia pra nós dois.

- Eu tô aqui num restaurante grã-fino, só tem gente com grana. Comida cara e farta. Ele tá aqui com a tal mulher. E tu tá aí na merda, com essa barriga gigante. Tu que sabe. Vou te passar o localizador pro caso de tu mudar de ideia. - Disse isso e desligou o telefone.

***

- Então quer dizer que o Eduardo sumiu? Escafedeu-se? - pergunta Carlos intrigado.

- Não o vejo desde o incidente no apartamento. Apresentou um atestado alegando fadiga. Fiquei sabendo que vai emendar com 15 dias de férias. - responde Cristina.

- Esse cara tá armando alguma.

- Não creio... Talvez esteja com orgulho ferido.

- Não sei... Apesar de saber que ele vai ficar um tempo longe, alguma coisa me diz que ele não vai engolir nosso relacionamento assim tão fácil.

- Pode ser. Mas mais cedo ou mais tarde vai ter que aceitar. Ele deve estar achando que contei pra todo mundo sobre o que aconteceu. Pode ser que esteja um pouco constrangido.

- Falando em contar pra todo mundo, acho que já posso te chamar de namorada sem segredos, certo? - diz Carlos com um sorriso.

- Certo. - reponde Cristina com um sorriso.

- Lá no seu trabalho já sabem a nosso respeito? - pergunta ele.

- Olha, eu disse à minha secretária que não havia mais segredo. Então, é possível que ela já tenha espalhado a notícia. Mas, como havíamos combinado antes, não tem nenhum anúncio oficial. As pessoas vão acabar descobrindo aos poucos.

- Fico muito feliz com o fim desse nosso segredo. - Carlos beija as mãos de Cristina.

Do lado de fora, Vivian acompanha os dois. Ela não resistira à curiosidade. Estava atordoada. Nunca sentiu-se emocionalmente envolvida no relacionamento que teve com Carlos. Mas sentia um grande desconforto em vê-los juntos. Sentia-se derrotada. Olhava para Cristina e via uma mulher comum, sem grandes atributos físicos, como ela Vivian tinha. Perguntava-se o que ele tinha visto naquela mulher que o deixara tão indiferente às investidas que ela tinha feito. Ele sempre a dispensava. Sentia-se de certa forma com o orgulho mortalmente ferido.

- Você não faz ideia como me sinto feliz! - continuou Carlos.

- Eu também tenho que confessar que estou mais leve. Agradeço por sua paciência com minha relutância. Esse tempo foi importante para que eu pudesse mudar de ideia sobre começar um novo relacionamento.

- Eu sei que sou assim passional, bem diferente de você, mas, acredite, eu já fui pior... - brinca Carlos - De qualquer forma, você sabe que, por mim, eu casaria com você amanhã. Espero que um dia você me diga sim.

- Sim, Carlos, eu te digo sim... - Diz Cristina.

- Não brinca comigo... - Retruca Carlos.

- Não estou brincando... Só não precisa ser amanhã... Mas, sim, quero ficar junto com você...

Eles se beijam. Vivian assiste a tudo do lado de fora.

- Você, Cristina, é pra mim um porto seguro. Sua personalidade, sua determinação, sua competência... Tudo em você me inspira a ser uma pessoa melhor.

- Vou te confessar uma coisa. Eu queria muito ser um pouco mais passional, aprender a correr mais riscos.

- É sério? - Carlos se surpreende.

- A vida é feita de riscos, não acha? É bobagem tentar estar 100% segura de tudo.

- Temos muito o que aprender um com o outro, concorda comigo? - sorri Carlos.

- Concordo. - reponde Cristina, sorrindo.

- Fica comigo essa noite - convida Carlos - me deixa amanhecer ao seu lado.

- Como posso recusar um convite desses? - sorri Cristina.

- E esse seu vestido...

- O que tem o meu vestido?

Cristina usava um vestido longo de cor clara, de frente única, deixando as costas à mostra, além de deixar seus seios em evidência. Não eram enormes, mas eram fartos. Tinha também uma fenda que deixava boa parte da perna de Cristina visível quando ela caminhava. Suas pernas eram grossas, e ficavam muito bonitas quando Cristina usava salto, como naquele momento.

- Seu vestido? Bem... Ele deixa em evidência que eu mais admiro em você... Suas pernas... Suas costas... Seus seios... Não sei se já te disse... Adoro seus vestidos... Não vejo a hora de estarmos a sós...

- Não pense que vai ser de graça. Tudo na vida tem seu preço... - brinca ela.

- Eu dou tudo que você quiser - responde ele com um sorriso, beijando-lhe uma das mãos - Você não faz ideia do quanto te desejo!

Eles se beijam novamente.

Vivian não consegue ir embora. Fica de longe observando o casal. Carlos parece diferente. Ele sorri o tempo todo, seus olhos brilham enquanto conversam. Ele nunca se comportou assim com ela. Estavam sempre brigando. Ela agora se dá conta de que sempre falava com ele de forma ríspida, sem nenhuma gentileza ou simpatia. Achava que por ser muito bonita todos deviam lhe agradar, nunca o contrário. E lá estava Carlos se desmanchando por aquela mulher. Sentiu muita raiva de si mesma por estar naquela condição, esgueirando-se como uma criminosa.

Carlos e Cristina se levantam e caminham de mãos dadas em direção à saída. Vivian se esconde. Eles não vêem a moça. Calos desliza uma das mãos pelas costas de Cristina enquanto caminham. Ele a beija novamente com desejo ao chegarem no estacionamento, sem saber que estão sendo observados. Ele acaricia os cabelos da namorada, beija-lhe o pescoço. Ela desliza as mãos pelas costas de Carlos, por dentro de sua camisa enquanto trocam mais um beijo. Entram no carro e saem.

Vivian sabe muito bem qual será o desfecho dessa noite para os dois.

RecomeçoWhere stories live. Discover now