CAPÍTULO LXIX

249 12 1
                                    

O dia estava bastante conturbado no hospital. Eduardo e Débora estavam na sala de cirurgia. Tentavam salvar um jovem paciente. Vinte anos. Um grave acidente. Um choque entre dois carros.

Eduardo faz tudo o que está ao seu alcance, mas o estado do jovem é muito grave. Ele pede o desfibrilador cardíaco. Sabe que é um dos últimos recursos disponíveis. Trata-se de um aparelho usado em casos de parada cardiorrespiratória para restabelecer o ritmo cardíaco do paciente. Seu funcionamento consiste em descarregar uma carga elétrica na caixa torácica da pessoa, para que as células cardíacas voltem a trabalhar normalmente. Contudo, infelizmente, o rapaz não sobrevive. Ele parece bastante abalado. Encosta-se na parede, ali mesmo no centro cirúrgico e fica em silêncio por algum tempo, olhando o rapaz ainda na mesa de cirurgia. Aquele som cortante do monitor indicava o óbito do paciente.

Débora se aproxima dele, ao ver a tristeza do colega. Coloca a mão em seu ombro.

- Fizemos tudo o que podia ser feito. Você sabe disso, não sabe? - diz ela.

Ele apenas balança a cabeça.

- Eu posso ir lá fora dar a notícia aos familiares - diz Débora, percebendo a comoção de Eduardo.

Ele respira fundo. Fecha os olhos.

- Eduardo, você está bem? - pergunta ela.

Ele não responde. Continua calado.

- Eduardo... Você está me ouvindo? - insiste Débora.

- Eu mesmo gostaria de ir lá conversar com os familiares, se você não se importar - responde ele.

- Tem certeza?

- Tenho - confirma ele.

Logo em seguida, abre a porta do centro cirúrgico e sai.

Débora fica bastante sensibilizada com a angústia de Eduardo. Eles trabalhavam na emergência. Era comum receber pacientes em estado grave. Alguns infelizmente não sobreviviam. Mas um médico nunca será indiferente diante da perda de um paciente. Pode levar anos até conseguirem lidar com isso, e às vezes nunca conseguem de fato encarar esse momento.

Eduardo ficara muito comovido com a perda daquele jovem. Era realmente lamentável. Ele tentou de tudo. Lutou com afinco para salvar a vida do rapaz. Mas a verdade é que, no final das contas, não é algo que está somente nas mão do médico.

***

Eduardo está em seu consultório. Ele está pensativo, olhando pela janela. Débora, como de costume, entra sem bater.

- Eduardo... - chama ela.

Ele olha para ela, meio surpreso com a entrada repentina da colega. Em outros tempos, ele certamente iria reclamar dela. Era um hábito que ela tinha e que ele considerava extremamente irritante.

- Ai... Me desculpa... Eu fiz de novo... Entrei sem bater... Sua secretária não estava aí fora...

- Tudo bem, Débora, não tem problema. Entra. Você precisa de alguma coisa? - diz ele bastante abatido.

- Eu vim ver como você está. Vi que você ficou bastante abalado com a perda do paciente.

Ele respira. Pensa em dizer algo, mas fica calado.

- Você sabe que isso é parte do nosso ofício, não sabe?

Ele balança a cabeça dizendo que sim.

- Mesmo assim não estamos preparados para perder aqueles a quem dedicamos parte da nossa compaixão diária - continua ela - Não tem como suprimirmos nossos sentimentos... Somos humanos... Deixa doer... Vai passar...

RecomeçoWhere stories live. Discover now