Capítulo 35

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Eu tirei o último parafuso, segurando as laterais do berço e as colocando na caixa, devagar organizei todos os ursinhos de pelúcia, bonecas, carrinhos, partindo para a pequena cômoda de roupas, não havia muitas, pois Jennie não me deixou comprar tantas por alegar que antes mesmo de usar todas, Castiel já estaria grande demais.. mas.. isso não aconteceu, nunca aconteceria.. dobrei com cuidado cada macacão, body, calça, meias e até mesmo alguns sapatinhos ganhados por Kim Jisoo e pela Chaeyoung, deixaria a parte de tirar a decoração de safari, escolhida por Jennie, no outro dia. Os adesivos de zebras, leões e elefantes, árvores e graminhas, acho que não aguentava ficar ali por mais dois minutos.

Ali, aquele quarto, havia virado a fonte e o motivo maior para os meus colapsos, choros, revoltas e pedidos constantes de perdão, por qualquer coisa errada na qual eu fiz, mesmo sem perceber, mesmo sem saber, eu só queria entender o motivo que de.. todas as vezes que eu finalmente achava que estava bem, feliz, viva de alguma forma, era arrancado, era tirado, arremessado para longe de mim, de volta para o universo.

Percebi isso, assim que voltamos para casa, Jennie não aguentou ir até o túmulo de Castiel e depois disso, eu senti o nosso afastamento, e aquilo me machucou, de verdade. Eu não conseguia mais abraçá-la, sem doer, olhar para ela, ou algo assim, e ela muito menos, se fechando, no quarto, como se.. fossemos as mesmas estranhas do começo, no início, no dia que eu a conhecia, no dia que eu conversei com um armário.

Era frio na hora do jantar, sem conversas, nem mesmo formais, era frio na hora de dormir, apenas.. uma virava para cada lado e no silencio pegávamos no sono, ou fingíamos que pegávamos no sono, sem nenhum contato ou algo assim. Sempre distantes, uma na sala, a outra no quarto, uma no jardim, a outra na cozinha, uma na varanda.. a outra no quarto do pequeno..

Eu queria passar aquela dor com ela, com ela me abraçando, com eu a abraçando, mas eu não conseguia, chegar perto parecia machucar de alguma forma, e de todas as formas, estava um desgaste repetitivo em meus pensamentos.

Fechei a porta do quarto e a tranquei, andei até aonde Jennie estava, deitada no seu lado da cama, com os olhos fechados e com o elefante roxo com detalhes azuis contra o seu peito, observei aquela cena, meus olhos marejando, mas eu engoli, sequei as linhas d'água e apenas coloquei a chave de volta na gaveta do criado mudo, andei até o closet e peguei um casaco, mesmo sabendo que não faria frio de alguma forma.

- Vai sair..? - ela perguntou, me permitindo ouvir a sua voz depois de duas semanas em puro silêncio.

- É.. eu.. eu vou comprar algumas coisas que faltam, precisa de algo? - a mulher ficou me encarando, buscando as suas palavras, as suas respostas e a forma na qual me direcionaria, levando um tempo para isso.

- Não..

- Certo.. estou indo agora - respondi, sem emoção, caminhando até a porta assim que alcancei a minha carteira.

- Você queria ter salvado ele, não é? Por que não o salvou?

- Como? - perguntei, mesmo sabendo exatamente o que ela havia falado, de uma forma clara e em um tom bem audível, meus olhos encontrando os seus quando me virei para encará-la - Como disse, Jennie?

- Por que não salvou Castiel? Dá pra ver claramente que está arrependida sobre a sua escolha.

- Da onde caralhos você tirou isso?

- Você passa o dia inteiro no quarto dele, Lalisa, a quem está querendo enganar?

- "A quem eu estou querendo enganar"? Está ouvindo as suas palavras, Jennie?

- Está dando voltas, Lalisa, não quer responder a pergunta porque suponhamos que eu já tenha a resposta.

- Ah tem? Então qual é?

Thoughts (Jenlisa G!P)Where stories live. Discover now